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Maria está em minhas mãos

Bruno de Alcântara e Leão

Eu não era um homem dado a devaneios. Sempre fui prático, focado, e implacável quando necessário. Um juiz nato. Mas ali, parado diante do caixão do meu irmão, toda a minha razão parecia esvair-se, substituída por uma fúria que queimava em meu peito. Matheus, o irmão que eu deveria ter protegido, estava morto. Metade de seu corpo queimado, desfigurado, um aviso claro para mim. A vida dele foi o preço por minha cruzada contra aqueles que acham que estão acima da lei. Eu sabia que o preço seria alto, mas nunca imaginei que seria ele a pagá-lo.

Olhei ao redor, a expressão dos meus pais, da esposa de Matheus, a dor estampada em cada rosto familiar. Eu era o juiz Bruno de Alcântara e Leão, temido e respeitado, mas naquele momento, eu não era mais do que um homem devastado. Eu prometi a mim mesmo que faria qualquer coisa para destruí-los, aqueles que tiraram Matheus de nós. Mas minha atenção foi desviada por uma figura entre as pessoas da alta sociedade carioca que estava ali.

Ela se destacava entre os presentes. Uma mulher, com roupas simples, cabelos castanhos desgrenhados, amarrados em um rabo de cavalo e olhos que pareciam carregar todo o peso do mundo. Ela era uma desconhecida para mim, mas seu rosto... havia algo familiar, algo que não consegui decifrar naquele momento. Minha memória fotográfica geralmente não falhava, mas naquele instante, com tantas emoções em jogo, eu não conseguia identificar de onde a conhecia. Talvez fosse loucura, talvez fosse o cansaço, mas algo nela me deixou intrigado.

Todos ali olhavam para ela que estava imersa em um sofrimento que todos nós que conhecíamos Matheus estávamos sentindo. Quando me aproximei, a mulher congelou, como se soubesse que havia sido descoberta. Ela era uma espiã ou tinha ido levar algum recado? Segurei no braço dela e arrastei para fora, queria saber quem ela era. Mas antes que eu pudesse confrontá-la, ela desmaiou. A fraqueza dela, real ou fingida, não apagava minhas suspeitas. Havia algo a mais, uma conexão que eu não conseguia desvendar. Segurei ela em meus braços e a levei para uma sala de descanso. Minha cunhada queria saber quem era aquela mulher, assim como eu.

"Quem é essa mulherzinha, Bruno?" a viúva de Matheus estava ali na frente questionando.

"Eu não tenho ideia, Valquiria."

"Filho as pessoas estão comentando. Uma indigente entra aqui e desmaia no velório do seu irmão, quem é essa mulher?"

"Eu também quero saber o que essa pobretona está fazendo no velório do meu marido."

"Eu acho que ela veio trazer algum recado, mostrar que ele está em todo canto," respiro fundo. "Eu também quero saber quem é ela, pai,", mas assim que entro na sala onde ela estava, a mulher não está mais ali e a janela aberta mostra que ela é esperta. "Filha da mãe. Procurem pela mulher, ela não deve estar muito longe."

Depois de várias horas de busca incessante, a garota parecia ter desaparecido sem deixar vestígios. Vasculharam cada canto do cemitério, explorando todos os possíveis esconderijos, mas não havia sinal dela. O tempo passou, e a inevitável hora do sepultamento de Matheus chegou. Enquanto as últimas homenagens eram prestadas, minha mãe, devastada pela dor, mal conseguia conter as lágrimas. Ao lado dela, minha cunhada, com seus óculos escuros, tentava disfarçar o choro, mas não conseguia evitar que algumas lágrimas silenciosas escorressem pelo rosto.

"Encontraram ela?" Perguntei ao meu segurança enquanto observava a movimentação ao redor.

"Não, senhor," ele respondeu, a voz tensa.

"Não vou sair daqui sem saber quem era aquela mulher, encontrem ela."

Ela não tinha saído dali, estava em algum canto escondido disso eu tinha certeza, uma hora ela tinha que sair dali e isso não demorou muito depois que as luzes se apagaram. Meu carro ficou do lado de fora esperando o momento, as câmeras de segurança mostravam toda a movimentação e como eu previ, lá estava ela saindo do meio de umas plantas. Será que ficou o dia todo ali? Ela iria pular o muro e eu a esperei pacientemente.

"Deixem comigo agora."

Ela estava prestes a ser capturada, e eu queria estar lá para encará-la. Não sabia exatamente o que esperava ouvir daquela mulher, mas sabia que ela tinha respostas que eu precisava.

Quando a alcancei, ela desabou em meus braços, mas a segurei firme antes que pudesse escapar. Seus lábios carnudos e cabelos sedosos me provocaram um desejo súbito de beijá-la. Queria levá-la para algum lugar e me perder nela. O que essa golpista estava fazendo comigo? Esperei por ela, desejando que entrasse no meu carro. Não iria deixá-la escapar, mas ela resistiu. Eu precisava de respostas, não queria assustá-la, iria entrar em seu jogo. E se eu seduzisse Maria?

Dois homens surgiram e gritaram algo que não entendi. Desci do carro, joguei-a sobre meus ombros, sentindo a vontade de dar um tapa naquele bumbum redondo. Ela se debatia, desesperada, mas ignorei seus protestos e a carreguei até o carro. Ela me levaria onde eu precisava ir.

"Maria, não é?" perguntei, segurando-a firmemente no banco traseiro enquanto o carro avançava pelas ruas da cidade. "O que estava fazendo no velório do meu irmão?"

Ela hesitou, os olhos arregalados e cheios de medo. Mas eu não tinha paciência para jogos. A verdade viria, e se ela não colaborasse, eu a arrancaria à força.

"Eu... eu não tenho nada a ver com isso. Por favor, me deixe ir..." sua voz era frágil, quase um sussurro.

Mas eu não estava disposto a deixá-la ir. Eu precisava de respostas, e Maria, ou seja, lá quem ela fosse, parecia ser a única pista que eu tinha. A levei para a casa que ela alegava ser sua, mas minhas suspeitas se confirmaram quando um dos meus seguranças me informou que o local era frequentado por homens em busca de mulheres. A mentira dela foi óbvia.

"Senhor, aqui é uma casa onde homens vêm encontrar mulheres," meu segurança me informou.

"Eu tinha certeza que ela estava mentindo," murmurei, minha raiva crescendo.

Mas quando entramos, a casa estava com alguns homens e mulheres que estavam trabalhando. Varremos o local, mas ela não estava ali. Parecia que Maria tinha desaparecido, como uma sombra. Meus seguranças não sabiam onde começar a procurar, e a frustração me consumia.

"Procurem por ela, descubram tudo," ordenei, minha voz firme. "Isso não me interessa, eu quero saber quem é essa mulher e o que ela estava fazendo no velório do meu irmão."

O restante da noite foi uma tortura. Não consegui pregar os olhos. As imagens do corpo de Matheus, a mulher misteriosa, a raiva que fervilhava dentro de mim... tudo me mantinha acordado, me consumia. Quando a madrugada deu lugar à manhã, eu já estava de pé, pronto para enfrentar minha vingança, mas a sensação de impotência me atormentava.

Fiz minha corrida matinal pela praia de Copacabana, como sempre. Mas a calma que costumava encontrar ali me escapava. Meus pensamentos estavam presos àquela mulher, e ao mistério que a cercava. Eu sabia que precisava de respostas, e que as encontraria, custasse o que custasse.

Quando cheguei ao fórum, fui pego de surpresa ao ver um Fusca preto na rua, esperando o sinal abrir. Algo naquele carro capturou minha atenção, um detalhe que não pude ignorar. Eu gostava de carros clássicos, e estava à procura de um como aquele há algum tempo.

"Aquele carro é o que eu estava procurando. Siga e veja quanto ele quer no carro," ordenei a dois dos meus seguranças. Eles seguiram o carro, enquanto eu subia as escadas do fórum, tentando focar no trabalho que precisava ser feito.

Mas a ligação que recebi minutos depois mudou tudo.

"Senhor, encontramos o carro e você não vai acreditar," a voz do segurança estava tensa.

"O que eu não vou acreditar?" perguntei, como se soubesse que algo grande estava para acontecer.

"Nós encontramos o carro e nele a garota."

"Eu não posso acreditar," murmurei, sentindo a adrenalina correr por minhas veias.

"Ela estava dentro do carro, senhor, desceu no hospital..." ele continuou, mas eu o interrompi.

"Siga essa mulher e não perca ela de vista. Quero um relatório de tudo, de onde mora, porque está no hospital, até mesmo do que ela come."

Eu sabia que havia encontrado, a mulher que poderia me dar as respostas que eu tanto buscava. Maria, agora estava em minhas mãos, e eu não descansaria até descobrir toda a verdade. Vingança e justiça se misturavam em minha mente, com um desejo louco e eu estava disposto a fazer o que fosse necessário para conseguir o que queria.

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