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Capítulo 2

John não queria acordar naquela manhã. Para ele, deixar sua amada cama era como deixar sua última conquista sem ser realizada: raro e difícil. Infelizmente para ele, porém, naquela manhã, seu melhor amigo Sergei, bem como o beta e o segundo em comando, tinham outra coisa em mente para ele. O furacão atingiu seu quarto e, mais rapidamente ainda, arrancou os cobertores dele e jogou um balde de água gelada sobre ele. Agora havia um John muito irritado no quarto.

- Que diabos está passando pela sua cabeça? - Ele explodiu com raiva, queimando com seu olhar aquele que deveria ter sido seu melhor e único amigo.

- Pare de reclamar! Tudo o que você tem a fazer é rolar nos lençóis com mulheres que você nem conhece, matar pessoas aleatórias que você considera apenas remotamente como inimigos e dormir! Até sua mãe está preocupada com você agora! Sem mencionar que sua empresa não vê o CEO há cerca de dois meses! Sergei gritou, levantando as sobrancelhas para observar atentamente a reação do amigo. Ele sabia que não deveria usar essas palavras com seu Alfa, Juan não era um cara calmo, na verdade, não era nem um pouco, mas ele precisava sacudir seu cérebro e essa era a única maneira.

- Tente fazer algo assim novamente e eu lhe dou minha palavra como CEO e seu Alfa, você se verá sem bolas. - John não gostava de falar em termos sutis, então ele também falou o que pensava, sem o menor filtro mente-boca.

- Ei, olhe, estou dizendo isso por você. Sinto-me mal ao vê-lo assim. Todo mundo está doente. - O outro continuou, apontando para toda a pessoa de John, de cima a baixo, e depois olhando-o de cima a baixo. Ele estava muito doente e só no dia seguinte era o aniversário de sua mãe. De ruim a pior, em suma. John ergueu uma sobrancelha e o cinzelou pela segunda vez em cinco minutos. Esse foi um dia realmente horrível.

- Faça-me um favor e guarde suas preocupações de maricas para um dos lobos com quem você se diverte. Sou seu Alfa, você tem que me respeitar. - Juan estava furioso. Ele certamente não teria estranhado o tom de seu amigo pouco antes. Apesar da barba longa e desgrenhada, do cabelo puxado para trás em um coque desleixado no alto da cabeça e das olheiras profundas, Juan ainda era um homem decididamente viril e bonito.

- Peço perdão, meu Alfa. Mas o que eu disse, você também sabe que é verdade. Amanhã é o aniversário de sua mãe. - concluiu Sergei, abaixando a cabeça em sinal de respeito. Ele era um dos poucos que podia se dar ao luxo de se dirigir ao líder da matilha nos primeiros termos, portanto, era melhor não levar as coisas longe demais, piorando sua situação com o tom rude usado pouco antes. Normalmente, se uma pessoa não autorizada tivesse chamado John pelo primeiro nome, dizia-se que ele acabaria em frangalhos ou, se tivesse sorte, nas masmorras para morrer de fome e sede. Esses eram os rumores que circulavam pelo rebanho sobre Alfa Juan. Alguns eram simplesmente mentiras criadas para assustar aqueles que não seguiam as regras.

- Merda...! - Juan se levantou e correu para o banheiro. Ele definitivamente precisava de uma ducha. O dia de hoje seria um desastre em todas as frentes e, para piorar, ele havia esquecido o aniversário de sua mãe.

- Vou comprar algumas flores para ele. Você sabe que ele também gosta delas. Onde fica a floricultura mais próxima? - perguntou Juan, voltando-se para Sergei quando ele entrou no box do chuveiro.

- Você finalmente decidiu sair desta casa! No entanto, eu diria que é a da pequena vila ao norte, aqui perto da floresta. Vou correr e contar para sua mãe, até logo, meu Alfa! - Sergei respondeu com um sorriso, deixando o quarto com cheiro excessivo de mofo para sempre.

John havia se refugiado em seu quarto há pelo menos duas semanas e nunca mais havia saído de lá, exceto para se alimentar de vez em quando. Ele estava frustrado e com raiva por ter passado mais uma lua desde que encontrara sua companheira. Quanto tempo mais ele teria que esperar? Ele queria dar uma lua para a matilha e queria ter alguém ao seu lado, pois estava cansado de se sentir sozinho. Ele saiu do banheiro, vestiu-se rapidamente com as primeiras coisas que encontrou no guarda-roupa e finalmente decidiu deixar a casa da matilha, ir até a cidade mais próxima e comprar o presente para sua amada mãe. Ele já sabia o que queria e isso significava que não perderia tempo desnecessariamente. No entanto, antes de sair de seu quarto, ele se certificou de abrir as janelas. Esse lugar definitivamente precisava de ar.

Ela estacionou seu Aston Martin em frente à pequena floricultura no vilarejo mais próximo de sua casa e saiu do carro. Ella's Flowers é um nome bastante banal para uma floricultura aparentemente bonita como aquela. Assim que ele entrou na loja, o cheiro de alecrim inundou suas narinas e o fez sorrir instintivamente. Não era comum John sorrir, era raro mesmo. Em toda a sua existência, isso só havia acontecido duas vezes. Havia algo estranho no lugar, a combinação de cheiros o deixava louco.

- Bom dia, em que posso ajudá-lo? - Uma voz doce e feminina veio de trás do balcão do caixa. Juan olhou para cima e encontrou dois olhos azuis vivos olhando para ele com curiosidade. Ele sentiu que algo dentro dele estava mudando e instintivamente colocou a mão na boca do estômago. Será que eram aquelas borboletas que ele sentia dançando em sua barriga? Seu coração doía e ele sentia seu lobo latejando enquanto emergia. Não podia ser verdade, ela não podia acreditar em seus olhos. Tinha que ser um sonho. Ele havia encontrado seu par.

- Saudações. - Foi a única palavra que ele conseguiu dizer, depois de examinar cuidadosamente a garota à sua frente, que não parava de sorrir nem por um segundo. Duas covinhas tímidas surgiram nas bochechas rosadas da jovem. O lobo de John continuava enviando uma única mensagem ao cérebro dela: marque seu parceiro. Mas como ele poderia fazer isso? Esse ser pequeno e indefeso despertou nele um senso de proteção que ele nunca havia sentido antes, nem mesmo em relação ao seu irmão.

- Saudações. Posso ajudá-lo? - Aquele sorriso quase o irritou, de tão bonito e sincero que era. Tudo nessa mulher expressava autenticidade, a ponto de ferir os olhos.

- Eu deveria comprar um vaso de lírios do vale. Eles são um presente. - A voz de Juan era quase um sussurro. Ele estava sem fôlego, incapaz de formar qualquer pensamento sensato. Ele se limitou a dizer o que era estritamente necessário para não parecer estúpido.

- Ah! Muito bem, vou buscá-las agora mesmo. - Karla se sentiu estranha. Desde que aquele homem havia entrado em sua tenda, ela estava com falta de ar, o estômago apertado e uma estranha sensação de frenesi havia tomado conta de seu corpo. Continuou com seu melhor sorriso, tentando não demonstrar sua ansiedade. Isso nunca havia acontecido com ela, exceto uma outra vez, quando era adolescente e tinha uma paixão galáctica por um garoto da escola, embora naquela ocasião ela estivesse definitivamente muito mais fraca em termos de dor. Ela sentia como se tivesse duas personalidades e, quando sentia emoções fortes, intensas e apaixonadas, sua personalidade mais forte estava ansiosa para dominar a outra. Uma personalidade ardente.

Ela foi para o fundo da loja e começou a preparar o vaso que havia encomendado. Ela não havia deliberadamente usado seu dom com esse homem, porque não o conhecia e, de qualquer forma, considerava desrespeitoso invadir a mente de outras pessoas sem conhecê-las. Mas agora, depois de ter percebido todas aquelas sensações que ele nunca havia sentido antes, uma curiosidade doentia havia encontrado seu caminho dentro dele. Quando ela voltou ao balcão na entrada da loja, o homem estava de costas e olhava para algo que segurava nas mãos, presumivelmente o celular. Karla tossiu para chamar a atenção e colocou cuidadosamente o vaso de plantas sobre o balcão.

- São dez coroas. - disse Karla enquanto digitava a quantia na caixa registradora e colocava a planta dentro de um saco de papel com a placa da loja. Juan entregou as coroas precisas, sem tirar os olhos do rosto da garota. Ele não sabia como nem por que, mas não conseguia deixar de pensar nela, não conseguia deixar de olhar para ela. Então, é isso que você sente quando conhece sua parceira?

- De qualquer forma, eu sou o Juan. - Ele disse, estendendo a mão na direção da moça que, nesse meio tempo, havia colocado o dinheiro na caixa registradora e entregado o recibo de imposto à pessoa em questão. Ao ouvir essas palavras, a garota sorriu e tentou invadir a mente do rapaz, pois não conseguia mais se conter, estava muito curiosa. Curiosamente, porém, seu dom não funcionou com ele. Isso nunca havia acontecido com ela antes, mas ela não conseguia perceber os sentimentos e as emoções que ele estava sentindo naquele momento. Isso a deixou ainda mais curiosa e aumentou exponencialmente seu desejo de conhecê-lo.

- Eu sou Karla. - Ele respondeu aceitando sua mão e apertando-a em troca. O sorriso dela era tão grande agora que fez Juan sorrir de volta. Em menos de dez minutos, ele já havia sorrido duas vezes, o que não era nada bom.

O que essa mulher estava fazendo com ele?

Juan, o jovem que Karla conhecera naquela manhã, havia deixado para ela seu cartão de visitas com o número de telefone. Esse homem devia ser muito mais velho do que ela, parecia tão forte, tão maduro. Então, havia algo que a intrigava além da imaginação, talvez pelo fato de ela não ter conseguido ler a aura dele.

No cartão de visita estava o nome da Johansson Corporation, uma das empresas mais poderosas da Suécia, se não a mais poderosa. A empresa lidava com tecnologia da informação e eletrônicos. O nome escrito nele era o de John Johansson, o CEO da empresa. Karla não sabia se ficava mais surpresa por ter conhecido um dos solteiros mais cobiçados da Suécia ou por não tê-lo reconhecido.

Naquela noite, ela chegou em casa bastante desorganizada. No almoço, ela não tinha conseguido comer muito, sentia-se vazia. Um sentimento de solidão que ela nunca havia sentido antes tomou conta de seu interior e ela não queria ir embora. A primeira coisa que ela fez quando chegou em casa foi colocar o jantar daquela noite no forno e depois tomar um banho. Ele queria tentar tirar a sensação de seu sistema.

- Que nojo! - Ele bufou antes de mergulhar na água quente.

Juan estava em seu escritório desde aquela manhã. Ele não havia almoçado e também não sabia o motivo. Ou melhor, ele sabia muito bem, mas não queria acreditar. Aquela garota era sua parceira, ele não conseguia tirar o olhar dela, seu corpo, sua aparência, seu cheiro da cabeça. Ele havia sonhado com ela por tanto tempo que finalmente encontrá-la parecia impossível. Ele tinha que se acalmar e voltar para ela, queria vê-la novamente e iria convidá-la para sair. Ele se comportaria como um cavalheiro, ou seja, como a pessoa que ele nunca foi, mas por ela ele faria isso. Ele teria feito qualquer coisa por ela. Ele se levantou da cadeira e saiu do escritório. Precisava espairecer e a única coisa que o ajudaria nesse sentido era correr, para que também pudesse conversar com seu lobo e sentir a sensação de ver sua companheira.

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