Capítulo 5: A visita de um miserável
Ava pôde sentir que algo não estava bem, o cheiro de medicamentos e o som das máquinas indicavam isso. Ela sentiu muito medo de perder sua babá.
— Sua babá está se recuperando. A encontramos em um estado muito ruim. O médico disse que ela precisará de alguns dias para se recuperar completamente. Por enquanto, ela está dormindo.
Ava esticou os braços na tentativa de alcançá-la, e Mateo a guiou. Em seguida, procurou o rosto da babá, começou a falar com ela enquanto a acariciava. Algo dentro dela indicava que as coisas estavam piores do que Mateo estava dizendo.
Ela abraçou sua babá e começou a chorar. Aurora entrou no quarto naquele momento, incapaz de entender como alguém poderia causar mal a esse anjo. Devia ter um coração negro para causar tanto dano.
Felizmente, era domingo, e Mateo não se afastou da garota o dia todo. Ele insistiu que ela precisava comer, mas Ava só chorava.
Imaginou a impotência que a pobre garota deveria sentir por não poder ver como sua babá realmente estava. Sentiu um grande impulso de abraçá-la.
Ava ficou ao lado de sua babá, não conseguiram convencê-la a se retirar para descansar. Havia duas enfermeiras cuidando de Lola, mas mesmo assim, Ava insistiu em ficar.
No dia seguinte, Mateo saiu para o escritório. Tinha muito trabalho, e embora quisesse ficar, a empresa precisava dele presente.
Não podia negligenciar suas responsabilidades, mas precisava se certificar de entregar o bolso com o conteúdo da caixa-forte para Ava.
— Olá. — Ele a cumprimentou enquanto observava seu rosto apagado pela tristeza.
— Olá.
— Esqueci de te entregar o bolso com as coisas que tirei da caixa-forte. Trouxe a caixa que você mencionou, também peguei o dinheiro e as joias que estavam lá, além de alguns documentos. Pensei que poderiam ser úteis.
— Muito obrigada, de verdade. Não sei o que seria de nós sem a sua ajuda. — Ava o abraçou instintivamente, e ele sentiu seu coração dar um salto ao sentir seu abraço sincero e a calorosa presença de seu corpo.
Mateo se afastou dela, tentando fazer isso com delicadeza para não fazê-la se sentir desconfortável. A proximidade dela o deixava nervoso, algo que ele não conseguia evitar.
Dias depois, Lola finalmente abriu os olhos. Ava só havia se afastado de seu lado para se higienizar e cochilava com a cabeça sobre a cama ao lado de sua babá.
— Ava? — Lola moveu a mão em busca dela.
—Nana, minha nana. — Ava acordou, um grande sorriso se formou em seu rosto ao ouvir a voz de Lola.
— Pensei que fosse um sonho, minha querida, estou aqui com você. — A babá começou a chorar com profundo sentimento.
A garota também chorava enquanto beijava a mão de sua nana. Mateo entrou nesse momento, acompanhado por Aurora. Ficaram felizes ao ver que a nana já havia acordado. Uma semana depois, a nana parecia estar totalmente recuperada, embora ainda se pudessem ver os hematomas que o covarde do Teodoro havia causado.
— Senhora Lola, gostaria de poder conversar com a senhora.
— Claro, senhor, e por favor, pode me chamar de nana, como todos me chamam.
— Então, nana será, vamos para o meu escritório. Ava, voltamos em breve. — Eles se afastaram imediatamente, e isso deixou Ava inquieta. O que Mateo precisava conversar com sua nana?
— Sente-se, nana.
— O que está acontecendo?
— Quem a machucou dessa maneira?
— O senhor Teodoro. Ele está irritado porque não encontrou minha menina. Ele já tem tudo pronto para o casamento, mas ainda falta a noiva. — Mateo cerrou os punhos, sentindo-se furioso ao ouvir isso.
— Ele realmente deve ser muito miserável para querer se casar com a filha de seu irmão.
— Esse homem é o pior de todos. Depois que os pais dela morreram, minha menina perdeu a visão, e esse homem se recusou a permitir os exames que os médicos pediam para começar um tratamento e tentar fazê-la recuperar a visão.
— Vou falar com os melhores médicos para que a tratem. Não permitirei que Teodoro Miller faça mal a ela, isso eu prometo.
—Você é um anjo enorme. Tenho certeza de que minha menina conseguirá enxergar novamente. Ela está imersa na escuridão há tempo demais. Há pouco, ela me disse que amanhã abrirá a caixa. Seus pais foram muito específicos ao pedir que ela só deveria abri-la ao atingir a maioridade. Não tenho ideia do que ela contém, pediram-me para estar ao lado dela nesse momento. Ava pediu que eu perguntasse se você poderia estar presente. Ela gostaria que você estivesse. — Mateo ficou contente ao ouvir isso. Se ela queria que ele estivesse ao seu lado, era porque confiava nele.
—Amanhã não irei ao escritório, ficarei para acompanhá-las. Deve ser algo extremamente importante e confidencial. Agradeça por mim a confiança. Suba para descansar, precisa se recuperar. Preparamos um quarto para você em frente ao de Ava.
—Até amanhã, Sr. Licciardi. Nunca conseguiremos pagar o que faz por nós. Lhe devemos muito, e mal o conhecemos.
Quando Lola subiu, o avô e a mãe de Mateo já haviam ido para o quarto. Ava pediu que ela passasse a noite com ela, não queria ficar sozinha, estava cheia de emoções conflitantes.
Na manhã seguinte, Lola desceu para a cozinha, sentindo-se muito melhor. Pediu permissão para preparar o café da manhã para Ava e levá-lo para o quarto.
—Mulher, aqui você pode pegar o que quiser. Não precisa pedir permissão. — Aurora disse sorrindo.
Quando Ava saiu do banho, reconheceu imediatamente o delicioso aroma de panquecas com amora e chantilly, a especialidade de sua nana.
—Nanny, você fez panquecas! — Disse, com o rosto iluminado por um grande sorriso, enquanto aspirava o delicioso aroma.
—Sim, minha querida. Preparei seus favoritos e um delicioso café, do jeito que você gosta. — Lola sorriu ao ver a empolgação refletida no rosto de Ava.
—Obrigada, nanny. Quero que tome o café da manhã aqui comigo.
—Está bem, vamos tomar café juntas — Lola aceitou com prazer.
O café da manhã transcorreu entre risadas e histórias sobre a infância da menina. Mateo, que ia em direção ao quarto, ao ouvi-las, sentiu-se satisfeito por ter conseguido reuní-las.
Decidiu não incomodá-las naquele momento, deu meia-volta e foi para o escritório. Pegou o celular e procurou em sua galeria.
Tinha tirado uma foto de Ava quando estava com ela na varanda. Na imagem, ela parecia distraída, talvez perdida em seus pensamentos. Ele se envergonhava de seu comportamento. Parecia um adolescente. Simplesmente não conseguia evitar. Essa garota estava se instalando muito rapidamente em seu coração. O que sentia era mais do que a necessidade de protegê-la.
Pouco depois, Loren o informou que tinha uma visita. Ele estranhou que alguém o visitasse sem aviso prévio.
— Quem é? Loren.
— O senhor Teodoro Miller.
— O que diabos esse homem quer na minha casa? — Ele se sentiu extremamente irritado, pediu a Loren que avisasse Ava e Lola para que não descessem.
A garota ficou aterrorizada ao saber que seu tio estava na casa. E se ele já soubesse que ela estava lá?
— Tranquila, minha menina. Deve ser uma coincidência que ele tenha vindo.
— Eu espero que sim, nana, porque só morta eu volto para perto dele.
— Eu não poderia forçar você, minha menina. Lembre-se de que você completou a maioridade há alguns dias.
Lembrar disso tranquilizou um pouco a garota. Enquanto isso, Mateo estava com Teodoro. Ele teve que fazer um esforço para suportar apertar a mão desse miserável.
— Bom dia, Sr. Licciardi. Fui procurá-lo em seu escritório. Sua secretária me informou que poderia encontrá-lo aqui.
— Depois de tomar algumas taças ontem à noite, decidi trabalhar em casa. Diga-me como posso ajudá-lo.
— Ontem à noite, uma pessoa escapou de casa. Ela sofre de um distúrbio mental, por isso é muito perigosa. A mantínhamos sob custódia em seu quarto. Acreditamos que ela é a culpada pelo desaparecimento de minha sobrinha. Não sabemos o que foi capaz de fazer com essa pobre garota. Pela manhã, informamos às autoridades. O caso do desaparecimento de minha sobrinha está sendo tratado com total discrição. Como você pode entender, uma notícia assim prejudica nossas empresas. Como ela saiu antes da festa e o local está muito perto da minha propriedade, eu queria perguntar: você viu algo estranho na estrada? — Ele disse enquanto olhava diretamente nos olhos de Mateo.
— Absolutamente, eu me sentia um pouco tonto, então um dos meus seguranças dirigiu. Eu adormeci até chegar aqui. — Mateo tentou manter a calma ao ouvir a série de mentiras que Teodoro estava contando. Ele não entendia como alguém podia ser tão idiota.
— Na parte do jardim, estranhamente as câmeras não estavam ativadas, então não podemos saber se foi por lá que ela escapou. Confiamos que tínhamos segurança em toda a casa, mas, pelo visto, não conseguiram fazer bem o trabalho. Encontramos os guardas que vigiavam essa área desmaiados; presumivelmente, alguém os havia sedado.
— Sinto muito, Sr. Miller. Eu gostaria de poder fornecer alguma informação, mas, como disse, eu estava profundamente dormindo. Espero que possam localizar essa pessoa em breve e, assim, encontrar sua sobrinha. Se eu puder ajudar em alguma coisa, não hesite em dizer.
— Peço desculpas por tê-lo incomodado. Na segunda-feira de manhã, há uma reunião de investidores na empresa. Esperamos contar com a sua presença. Hoje, partirei para a Espanha, mas estarei de volta na segunda-feira.
— Até segunda-feira, Sr. Miller.
Teodoro se despediu com pressa; seu semblante era sério. Mateo não estava certo se ele acreditara nele.
