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Capítulo 1

Gabriela

Estou extremamente nervosa, não acredito que isso está acontecendo comigo, a única coisa que posso fazer agora é esperar que o meu melhor amigo me ajude.

— O que é isso? — ele perguntou com os olhos arregalados.

— O... que parece.. ser... — respondo em meio as lágrimas.

— Gabriela o que é isso? O que isso significa? — ele perguntou meio confuso e sentou ao meu lado na cama.

— Eu estou grávida, Lucas. Grávida de três meses!

— Como assim, Gabriela? Três meses e você só descobre agora?

Quando ele falou isso as lágrimas e soluços me dominavaram, eu tinha dificuldade para explicar.

Meu melhor amigo então me puxou para um abraço e afagou meus cabelos.

— Você sabe que tenho deficiência de progesterona, achei normal minha menstruação não vir, não desconfiei até passar mal ontem — meus ombros subiam e desciam, eu estou muito nervosa e muito assustada.

— Por que você não me ligou? — ele perguntou ainda fazendo carinho em mim.

— Não sabia qual seria a sua reação — quando falei ele parou de me abraçar.

Lucas se levantou e caminhou passando as mãos pelos cabelos negros. Sentou no chão a minha frente e eu encarei seus olhos azuis.

Suas mãos seguraram as minhas, senti o calor emergir delas e me confortar.

— Não precisa ficar com medo da minha reação, aliás, a culpa também é minha né? — ele suspirou e olhou para o lado. — Não deveria ter ficado bêbado naquele dia.

— Nem eu — levei a mão até meus fios de cabelo liso.

O Lucas começou a rir e eu o encarei, do que ele estava rindo. Não era pra ele rir, não era nada engraçado.

— Eu nem posso me perguntar se usamos camisinha, só nos lembramos de acordar nus no outro dia...

— Isso não é engraçado, Lucas. O que sua mãe vai achar disso? — eu arregalei os olhos só de pensar. — O que a Sara vai pensar sobre isso? Aí meu Deus Lucas! — as lágrimas voltaram a escorrer pela minha bochecha avermelhada.

— Gabi, eu comecei a namorar há Sara um mês depois daquela noite, eu não a traí, então não há o que temer — o Lucas falou tentando me acalmar.

— Ela já não gosta de mim, imagine quando descobrir que eu estou esperando um filho seu? — falei soluçando e levei a mão até meu ventre.

Meu filhinho não merecia vim ao mundo nesta confusão toda, não era o momento certo nem a pessoa certa, eu amo o Lucas, mas como amigo.

— Você é minha melhor amiga, veio antes dela, não acha que vou te deixar grávida, descalça sem amparo por ciúmes, né?

Sorri pela tentativa dele de me animar.

Desci da cama e passei os braços pelo pescoço dele. Lucas era o melhor amigo que alguém poderia ter.

A porta do quarto se abriu e uma Sara alegre entrou, até me ver abraçando o namorado dela.

Me afastei dele rapidamente e olhei para os lados secando as lágrimas. Lucas levantou e foi dar um beijo na namorada, que ciumenta como era, logo ficou de cara feia.

Bom, deixa-me explicar melhor essa história.

Conheci o Lucas ainda no ensino médio,ele morava na Praia Grande e se mudou para a capital junto com seu pai, ai teve que ingressar na escola que eu já estudava desde pequena.

Sempre fui muito sozinha, gostava de me dedicar aos estudos e não entrava muito da bagunça, uma típica nerd. Mas um certo dia um garoto extrovertido, inteligente e gato, entrou na minha sala, a princípio o ignorei assim como ignorava a todos, até que em uma das interclasses, o professor de educação física, a pior matéria que poderia existir, me obrigou a jogar, caso quisesse ter nota para passar de ano.

Lembro como se fosse ontem o péssimo jogo que tive e a brusca queda ao tentar fazer uma cesta, nessa queda acabei quebrando meu braço esquerdo. Quando acordei no hospital lá estava o tal garoto chamado Lucas, ele tinha sido designado pelo professor, que estava mais preocupado em ganhar os jogos do que com sua aluna de braço quebrado, para ficar comigo até meus pais chegarem.

O Lucas começou a conversar comigo e querer saber mais sobre mim, e eu retribuía todas as perguntas, e acabou que não nos separamos mais depois daquele episódio.

Fizemos faculdade na PUC, ele direito, como seus pais sempre sonharam e eu engenharia de produção. Tínhamos terminado há pouco mais de um ano a faculdade, ele já trabalhava num escritório que montou com o pai e eu em uma indústria alimentícia.

Tudo ocorria bem, até que na noite de ano novo de 2021 para 2022, bebemos a noite toda até não termos nem ideia de quem éramos, depois de ficarmos tanto tempo em casa tudo que queríamos era curtir um pouco, mas exageramos, só me lembro de acordar no outro dia, nua na cama e abraçada a ele.

Decidimos esquecer o incidente, até porque ele logo reencontrou a Sara, uma garota de 20 anos, que trabalhava no mesmo edifício que ficava o escritório dele. Completamente insegura sempre teve muito ciúmes da nossa amizade, e se tinha antes, quero ver como ficará quando descobrir que estou esperando um filho dele.

Encarei meu amigo sem graça, era melhor deixar os dois sozinhos para que ele desse a notícia para a menina.

— Bom, acho que vou indo — tentei sorrir.

Peguei meus óculos quadrados que estava sobre a cômoda ao lado da cama, e saí do quarto, minha bolsa estava em cima do sofá junto com minhas sapatilhas, Lucas me seguiu até a porta e deu um beijo na minha testa, e coloquei a máscara antes dele abrir a porta.

— Te ligo mais tarde — ele falou.

Assenti e fui pegar o elevador do prédio.

Passei a mão no meu ventre enquanto esperava para chegar até o térreo, o que seria dessa história? Ah, eu estou tão perdida.

E quando contasse para meus pais? Meu pai e meu irmão mais velho me matariam. Limpei mais algumas lágrimas. E a mãe de Lucas então? sempre colocou as expectativas no filho, o que ela ia dizer ao saber que uma mulher que não era a namorada dele estava grávida dele?

Minha cabeça rodou com todos aqueles pensamentos.

Desci no térreo e caminhei para estacionamento. Entrei no meu gol vermelho e dirigi para meu apartamento não muito longe dali. Por ter passado mal no dia anterior tinha pegado um atestado de dois dias.

Assim que cheguei me joguei no meu sofá e desencadeie a chorar.

Não podia ter acabado com minha vida desse jeito, ainda tinha tanta coisa pra fazer, minha pós-graduação, minhas viagens, conhecer o amor da minha vida.

Mas quem iria querer uma menina de 24 anos que já tinha um filho? Um soluço saiu profundo da minha garganta, alisei meu ventre, ao mesmo tempo que estou surtando estava feliz por ter um serzinho crescendo dentro de mim.

Em outras épocas eu correria para o colo do meu amigo e choraria até ficar desidrata, mas mesmo sabendo que agora ele estava do meu lado, eu não queria pressionar ele a nada. Respirei fundo, sequei minhas lágrimas e fui até a geladeira. Não tinha nada que eu queria comer, voltei a chorar de novo e peguei uma panela para fazer um brigadeiro. Assim que terminei coloquei na geladeira e fui tomar um banho.

Me despi e parei em frente ao grande espelho que tinha no meu quarto. Como não notei esse inchaço? Minha barriga já estava mais achatada. Como não notei? Passei a mão com cuidado e carinho.

Não era uma criança desejada, mas era minha criança e eu faria de tudo para protegê-la de tudo. Entrei no chuveiro e passei um shampoo nos meus fios de cabelo loiro. Me ensaboei e fiquei pensando por um bom tempo enquanto a água quente caía sobre minhas costas.

Sai do chuveiro e vesti um pijama velho.

Penteei meus cabelos e logo estava assistindo uma comédia romântica e comendo meu brigadeiro. A noite foi chegando e junto com ela meu sono. Meus olhos pesaram e não demorei a dormir. Mas não dormi por muito tempo, ou pelo menos pensei que não.

Acordei com a boca salivando por conta de um sonho com um bolo de ameixa com doce de leite. Olhei o relógio e já eram quase onze da noite.

— Bem que eu tinha estranhado essas minhas vontades repentinas ultimamente. Como foi que eu não desconfiei de uma gravidez? — me perguntei.

Assim como havia feito nos meses que antecederam a notícia e eu sentia essas vontades repentinas, levantei, vesti um moletom confortável e peguei a chaves do carro e o celular.

Peguei o elevador e desci no subsolo.Caminhei até meu golzinho e depois dirigi até uma padaria que ficava um pouco distante dali, mas tinha o melhor bolo de ameixa com doce de leite de todo mundo.

Estacionei na frente do lugar e comemorei por ainda não ter fechado. Corri para dentro e fui logo para as prateleiras de bolos. Peguei um inteiro para realizar meu desejo, porém assim que vi um de cenoura com chocolate, minha boca salivou, o peguei também e fui para o caixa. Peguei mais alguns chocolates e entreguei para o homem do caixa.

Paguei tudo e fui para o carro, não via a hora de chegar em casa e me deliciar com aqueles bolos. Parei em um cruzamento por conta de um sinal vermelho, porém assim que o sinal abriu o carro não deu partida, não saiu do lugar.

— Era só o que me faltava — lamentei.

Saí do carro tomando cuidado com os outros que passavam por ali e abri o capô, tentei analisar o que estava acontecendo, mas mesmo eu entendo muito bem desta parte eu tinha esquecido os meus óculos e minha visão de perto não estava a das melhores, bufei frustrada e voltei para dentro.

Tentei mais uma vez dar partida, mas o carro tinha morrido. Meu golzinho que eu tinha desde a faculdade nunca tinha me deixado na mão. Peguei meu celular para ligar para o seguro, mas tinha uma ligação perdida do então retornei. No terceiro toque ele atendeu com uma voz preguiçosa.

— Alô?

— Te acordei? — perguntei receosa.

— Não — ele falou e pelo som ele estava se levantou.

— Você me ligou? — perguntei mesmo sabendo.

— Sim, queria saber como você estava — engrossou mais a voz.

— Estou parada num cruzamento com o carro sem funcionar, e para piorar esqueci o óculos — bufei. — Vou ter que desligar para ligar para o seguro, depois te ligo ok?

— O que você está fazendo há essa hora em um cruzamento com o carro quebrado dona Gabriela? — ele perguntou com a sua voz séria.

— Precisava de bolo de ameixa com doce de leite — contei. — Agora tenho que desligar para ligar para o seguro. Beijinhos.

— Onde você está Gabriela Gonzalez de Sá? — ele perguntou autoritário.

— No cruzamento a três quadras da minha casa. Depois que saí da padaria Bariloche. — disse revirando os olhos.

— Estou indo ai.

— Não precisa.

— Daqui cinco minutos eu chego. — ele falou e desligou o celular.

Bufei nervosa, eu podia muito bem me virar sozinha. Coloquei o celular no banco do passageiro. Sem aguentar mais o cheiro do bolo quentinho de cenoura, peguei o embrulho e pelo menos esse estava cortado, o que facilitou para que eu comesse.

Quando olhei a bandeja de isopor só faltava um pedaço, lamentei por isso e aproveitei ao máximo aquela última fatia. Os carros passavam a toda velocidade, o que me deixou preocupada já que algum poderia bater na traseira do meu a qualquer momento.

Se eu tivesse ligado para o seguro já teriam chegado, cruzei os braços irritada. Por que o Lucas tinha que ter inventado de ir me buscar? Só porque estava com o filho dele na minha barriga?

Respirei fundo e minha consciência me lembrou de que ele era meu melhor amigo antes dessa loucura de pai do meu filho.

Lembrei-me da noite do meu aniversário de 19 anos, quando fui abandonada num hotel por um garoto estúpido que tinha conhecido e achava que gostava de mim. Naquela noite liguei desesperada para meu melhor amigo que foi me buscar. Lembro-me de chorar muito e me sentir uma idiota, mas tempos depois essa história virou piada entre a gente.

Uma batida no vidro me fez pular de susto. olhei e encontrei Lucas rindo do meu susto.

— Lucas Acendino Ferrera Fraga, você quer me matar de susto? — disse abrindo a porta, e ele fez careta ele não gosta muito do nome dele.

— Abri o capô, me deixa ver o que aconteceu.

Fiz o que ele pediu e vi quando ele foi checar o carro. Olhei para trás e encontrei seu Vectra preto, no banco do passageiro, estava à garota morena, de cabelos longos sedosos e negros, corpo escultural e muito bonito. Sara era da nossa escola porém quando estávamos no terceiro ela estava no primeiro, mas sempre gostou do Lucas.

Lucas a reencontrou pouco mais de três meses, e a dois meses os dois começaram a namorar. Ela era muito legal até, mas às vezes seu jeito patricinha me tirava do sério.

— Acelera ai! — o Lucas gritou e eu obedeci.

E nada do carro funcionar. Lucas voltou e eu desci do carro, ele riu e passou a mão no canto da minha boca.

— Pelo visto não sobrou nada desse bolo pra mim, hem.

— Não mesmo. O que tem o carro?

— Bateria. Vou fazer uma chupeta e volta a funcionar rapidinho.

Assenti e ele foi até seu carro, falou alguma coisa com Sara que desceu e veio para o meu lado. Lucas pegou alguns cabos e conectou os dois carros.

— Desculpa ter tirado você de casa essa hora. — falei para ela.

— Tudo certo. Já me acostumei! — abriu um sorriso torto.

— Desculpa. Eu ia chamar o seguro...

— Eu sei, não precisa se explicar.

Me perguntei se o Lucas tinha contado para ela sobre minha gravidez, não iria comentar nada sobre o assunto com ela, por não saber.

Um tempo depois meu carro tinha voltado a funcionar, o cheiro de embreagem começou a me enjoar e não demorou para que eu virasse para a calçada e vomitei todo o bolo e os brigadeiros que tinha comido.

Segurei meus cabelos para que não sujar e só parei de vomitar quando meu estômago já estava vazio. Lucas passou a mão nas minhas costas e alisou. Levantei já respirando melhor.

— Está bem? — ele perguntou.

Apenas assenti e fui caminhando para o meu carro, não via a hora de me jogar no sofá e dormir até a noite seguinte.

— Preciso dormir! — falei.

Ele olhou para a namorada e pegou na mão dela, que estava encostada no carro.

— Pode levar meu carro? — ele pediu manhoso. — Vou deixar a Gabriela em casa, ela não tá bem.

Sara tentou disfarçar, mas estava nítido na cara dela que ela não estava gostando nada daquilo, pegou a chave da mão de Lucas que deu um beijo no rosto dela. Sem falar nada ela entrou no Vectra e deu partida.

Fui para o banco do passageiro e olhei para o bolo de doce de leite com ameixa, incrível

que mesmo depois de passar mal meu desejo não tinha passado. Lucas entrou no banco do motorista e começou a rir.

— Isso tudo é vontade de comer esse bolo? — perguntou enquanto dava partida no carro.

— Acho que depois que pari nunca mais vou querer ver bolo de ameixa com doce de leite.

O silêncio dominou o carro, quando ele estacionou na vaga do meu prédio, eu peguei o bolo e desci rápido. Realmente não via a hora de comer.

— Amanhã eu vou na sua casa pegar a chave do meu carro. — disse para o Lucas.

— Eu vou ficar. — ele se prontificou.

Levantei uma das sobrancelhas surpresa.

— Tudo bem né. Só não espere que eu divida meu bolo com você.

Ele riu e fomos para o elevador. Olhei no espelho e meu reflexo mostrava, uma Gabriela com a aparência cansada, e ainda dizem que as mulheres ficam mais bonitas quando estão grávidas, o espelho estava o para dizer que era mentira.

— Isso é egoísmo!

— Isso é gravidez — rebate.

— Sempre imaginei que você seria esse tipo de grávida mesmo, ele colocou a mão na

cintura. — Minhas costas estão doendo, aí eu estou com vontade, são os hormônios. — ele zombou imitando uma voz feminina.

Dei um tapa no braço dele que riu. Descemos no meu andar e logo lá estava eu deitada no sofá esperando Lucas partir meu bolo.

©©©©©©©©©©

Continua…

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