Capítulo 1
Achei que não fosse conseguir, mas já aguentei o Sr. Collins por uma semana. A cada dia seu humor está pior, e como Paige disse, me acostumei. Seu tom frio, rígido e arrogante já não me surpreende. Não digo que ele não me intimida, porque estaria mentindo, ainda sinto muito receio quando ele me encara com seus olhos escuros e me repreende com a voz dura.
— Me fala sobre seu novo chefe — Anne, minha melhor amiga, com quem divido também o apartamento, pede num tom curioso.
— Não tenho nada para falar — as poucas vezes em que troco palavras com ele, o homem insiste em me intimidar e reclamar de tudo que faço.
— Não seja idiota Julie, você trabalha com Adrian Collins, um dos solteiros mais cobiçados do país — diz me deixando ainda mais irritada. O único tempo em que tenho a oportunidade de não pensar, falar ou ver Adrian Collins minha amiga quer justamente falar sobre ele.
— Ele é um chato, vive bravo, critica tudo que eu faço, me olha como se quisesse me matar, isso que eu tenho para falar sobre meu chefe, Anne — digo sem paciência e ela, que me ouve com atenção, parece não acreditar, pois seu sorrisinho continua intacto.
— Mas ele é um gato, assume vai — bate levemente no meu ombro e eu suspiro fechando os olhos.
— Não posso negar, ele é lindo — no mesmo momento reproduzo na minha mente a imagem do meu chefe, cada dia com um terno diferente, mas sempre deixando nítido seu corpo atlético extremamente atraente, seus lábios carnudos que se movimentam lentamente quando ele me repreende no seu tom arrogante, seus olhos escuros que parecem penetrar minha alma quando ele me encara sem piscar.
— Hum, ficou toda animadinha — a voz da minha amiga me faz voltar ao mundo real e expulsar Adrian Collins dos meus pensamentos.
— Cala boca Anne — ela continua rindo de mim, reviro os olhos desviando a minha atenção dela para o filme que vemos pela milésima vez.
— Se eu tivesse a oportunidade de trabalhar com Adrian Collins, tenha a certeza que eu não o deixaria escapar — olho admirada para minha amiga do meu lado.
Anne é modelo, ainda está no início da carreira, mas já sonha alto, sonha com grandes passarelas e com seu nome conhecido em todo país e além-fronteiras, porém, minha amiga colocou na cabeça que se casando com um homem famoso e rico ela conseguirá isso mais rápido.
Enquanto Anne é alta, magra, loira, tem seios pequeninos, pernas cumpridas e finas, olhos azuis, lábios finos e muito bonita como a maioria das mulheres que trabalham na empresa, eu sou mais aquele tipo de mulher "normal", com longos cabelos negros, baixinha, seios fartos, pernas grossas e uma bunda que digamos que poderia ser menor.
Não sou feia, mas não tenho os traços finos e atraentes como as outras mulheres da empresa, ou como Anne. Meus lábios são carnudos e rosados, motivo pelo qual raramente uso batom, um gloss já basta para destacá-los. Meus pequenos olhos castanhos não chamam tanta atenção quanto os grandes olhos azuis das top models. E diferente da maioria delas, não tenho a pele branca como papel.
Minha pele é morena combinando com meu cabelo.
— Você só fala isso porque não conhece ele, aquele homem é insuportável — ela parece nem me ouvir, então logo desisto de convencê-la.
Anne é o tipo de pessoa que quando coloca algo na sua cabeça, nada e nem ninguém pode tirar, uma grande cabeça dura.
Anne e eu deixamos nossa pacata cidade natal para tentar conquistar o mundo na cidade grande. Na verdade, ela me convenceu, e aqui estamos nós há pouco mais de dois anos! Não foi fácil deixar minha mãe, ou até meu padrasto, que eu amo como um pai, já que o meu morreu quando eu era muito nova.
Anne convenceu minha mãe que aqui eu poderia ter uma vida melhor e que ela iria cuidar de mim. O que para mim, pareceu uma piada. Mesmo sendo um ano mais velha, eu sou muito mais responsável que Anne que de vinte e quatro só tem a idade, a maturidade é de uma adolescente de quinze anos.
•••
Novamente tenho que enfrentar meu querido chefe.
Desde o meu inesquecível primeiro dia, nunca mais me atrasei, mas ele parece não esquecer, sempre faz
comentários provocadores e eu sinto uma enorme vontade de respondê-lo a altura, porém, tenho que me controlar, se não, como ele mesmo disse, poderei me considerar mais uma desempregada no país.
Incrivelmente, e pela primeira vez, é meu chefe quem se atrasa, porém, ele caminha com toda a classe possível com sua postura de homem imponente intacta, passa por mim exalando seu perfume forte que combina muitíssimo com sua arrogância e frieza.
— Bom dia Sr. Collins — cumprimento num tom calmo e educado, porém, sou ignorada. Arrogante. Suspiro e continuo fazendo meu trabalho. Meu chefe tem uma reunião marcada para daqui a uma hora e não abre mão da minha presença. Para minha sorte ela terá lugar aqui mesmo, na sala de reuniões da empresa.
Quando faltam vinte minutos para a bendita reunião me levanto com o material que ele irá precisar e caminho em passos lentos até sua porta dando leves batidas que têm como resposta um autoritário "entre!".
— Sr. Collins, estou me adiantando para preparar a sala de reuniões — ele concorda com a cabeça sem dar muita importância às minhas palavras.
— Com licença — não espero nenhuma manifestação da sua parte e deixo a enorme sala sem rodeios, caminho até o elevador que me leva à dois andares abaixo onde está a sala de reuniões.
Para a minha surpresa estou sozinha, guardo os papéis no lugar pertencente ao meu chefe, que como é de se imaginar é no centro da grande e bonita mesa.
Um dos papéis escapa das minhas mãos ao cair de baixo da mesa me fazendo suspirar e revirar os olhos.
Me abaixo levantando um pouco minha saia para que não corra o risco de rasgá-la, me posiciono de quatro tentando pegar o papel que está distante, o que faz com que eu me empine mais, até que finalmente consigo pegá-lo.
— Uhn Uhn — ouço alguém limpar a garganta me deixando com vergonha pela situação em que me encontro.
Pelo susto e vergonha, levanto com pressa, o que faz com que eu bata com a cabeça numa das cadeiras.
— Ai— murmuro com a mão na cabeça.
Me viro para quem me observa, e pela primeira vez vejoAdrian Collins sorrindo, sem mostrar os dentes, mas sorrindo. Ele me encara com seus olhos que não estão tão escuros como é costume e sinto minhas bochechas corarem.
— Está tudo bem, Julie? — ouvir meu nome ser pronunciado por ele, com sua voz marcante, me faz arregalar os olhos levemente. Sorrio de lado envergonhada.
— Está tudo bem sim, Sr. Collins — ele continua ostentando seu sorriso. Sorrindo ele fica ainda mais lindo.
Quando vou procurar algo para falar a porta é aberta e algumas pessoas adentraram a sala em meio à uma
conversa animada.
Todos cumprimentam o Sr. Collins que os convida a sentar. Quando estão todos sentados eu continuo imóvel no meio da sala e meu chefe me encara de forma ameaçadora com os olhos escuros, rapidamente corro para me sentar do seu lado, e depois de alguns minutos a reunião tem início.
Eu encaro tudo com a mente longe, como um homem pode ser tão bipolar?! Mas não há como negar, seu sorriso é encantador, se ele sorrisse mais, com certeza seria o chefe perfeito, mesmo eu o imaginando como muito mais que um chefe.
