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Capítulo 2

Elizabeth e Abbigail estão num grude que ora parecem melhores amigas de infância, ora parecem irmãs gêmeas, daquelas que não se largam por nada.

Se antes, separadas, elas causavam, imagina agora, juntas. As duas estão tão populares e na boca do povo, por assuntos bons, claro, que estou dando glórias à Deus por ser o último mês de aula.

Finalmente vou terminar o ensino médio e poder arranjar um emprego numa dessas lojas de grife que sempre estão devendo alguma coisa à minha mãe.

Estou super com ciúmes da minha irmãzinha? Estou, mas não é maior do que a minha satisfação em, só pensar, trabalhar numa loja dessas. Me abriria um monte de portas e talvez assim minha mãe me libere para estudar na Europa.

Sério, qualquer faculdade de moda, que fosse renomada, na Europa e me aceitasse, eu iria. Mas nenhuma me aceitou, apenas duas dos Estados Unidos e quatro daqui do Brasil.

Minha mãe não quer que eu me mude para longe, ela me quer por perto, não importa a faculdade ou o emprego que eu escolher. Isso é super legal e fofo, da parte dela, mas acho que ela se esqueceu que fica difícil uma pessoa gorda conseguir um nome de destaque, principalmente no mundo da moda.

Então eu tenho que ser a melhor, começando pela faculdade em que vou estudar. Mas parece que vai ser difícil conseguir realizar esse sonho.

Já meu namorado, Arthur, acha que tenho que fazer a prova do Enem, pra mostrar ao mundo como sou estudiosa, já que ele tem certeza que vou fechar a prova.

— Eu sendo estudiosa ou não, não preciso provar nada para ninguém. — Comento com ele quando saímos da sala de aula, para o intervalo. — Eu já passei no vestibular, fiz a matrícula e minha mãe nem se importa em pagar. Acho desnecessário passar nervoso atoa.

— Mas se você conseguir uma nota boa, talvez consiga entrar em alguma universidade da Europa. — Thu envolve seu braço esquerdo em meus ombros enquanto andamos em direção ao refeitório.

— Quem me dera ser tão fácil assim... — Suspiro e entro na fila da cantina. — Mas já foi. A prova é nesse domingo, agora só ano que vem. Mas não crie expectativas.

Thu ri e sai da fila para se sentar na mesa com nossos colegas (Na verdade são mais amigos dele do que meus).

Continuo na fila até chegar minha vez. Compro dois pedaços de pizza e um copo, de 500ml, de suco de uva.

Pago tudo certinho e vou para a mesa. Mas bem no meio do caminho eu tropeço em algo e acabo derrubando a comida e o suco na pessoa que está na minha frente. Que, realmente, brotou na minha frente bem nessa hora.

Sinto mãos fortes me firmarem pelos cotovelos, e logo me soltar. Olho pra cima e vejo que é o Lucas.

Ai, que maravilha.

— M-me desculpa — Gaguejo, já sentindo meu rosto arder de vergonha.

Olho pra baixo e vejo o estrago que fiz na sua camisa de uniforme, que antes era branca, agora lilás, por conta do suco derramado. Ele não diz nada, apenas se vira e sai do refeitório, claramente super bravo.

Respiro fundo, pegando coragem, e vou atrás dele. Pego na minha bolsa uma caneta que tira manchas, mesmo sabendo que aquilo não vai adiantar.

— Lucas! Espera! — o chamo, quando, finalmente, o alcanço. Mas ele ainda assim continua andando sem me olhar. — Me desculpa, sério. Olha, eu tenho essa caneta, talvez ajude. — Tento entregar à ele, que apenas empurra levemente minha mão.

Ele para na frente do banheiro masculino e se vira para me olhar.

— Isso não adianta, tá legal?! Agora me deixe em paz e volta pra sua turma.

Engulo em seco, mas assinto. Ele entra no banheiro e eu fico com medo de olhar em volta e me deparar com a escola toda me encarando. Então entro no banheiro feminino, que fica ao lado, e me tranco em um reservado.

Estou tentando não chorar, enquanto penso no quão diferente o Lucas é do sonho para a vida real, quando alguém bate na porta do meu reservado.

— Aura, o Arthur me disse o que aconteceu. Você está bem? — Eliza pergunta, parecendo preocupada.

— Não é comigo que deveria estar preocupada. Eu manchei a camisa toda do irmão da sua amiga. — Acabo fungando sem querer, e me amaldiçoou por isso.

— Mas parece que você ficou com mais vergonha do que ele, que já arranjou outra camisa e está jogando basquete lá na quadra.

— Tanto faz. — Dou de ombros, esperando que ela perceba, mesmo não me vendo.

— Por que está tão chateada assim? Ele disse alguma coisa?

— Não... Deixa pra lá, é besteira.

— Não vou sair até você me falar. — Nesse exato momento o sinal do final de intervalo toca. — Acho melhor ser rápida, tenho prova agora.

Saio do reservado e agradeço mentalmente que, por um milagre, só tem nós duas no banheiro.

— Tudo bem. — cedo, com um revirar de olhos, que a faz rir. — Em casa eu te conto. Só me lembrar.

— Não vou esquecer.

***

— Vai, desembucha. — Eliza entra no meu quarto, lá pelas dez, logo que o Arthur vai embora, depois de ter passado a tarde e a noite aqui em casa comigo.

— O que? — Tento me fazer de desentendida.

Elizabeth revisa os olhos e se joga na minha cama, a qual eu estou, ou no caso estava, arrumando.

— Ei! — Reclamo. — Eu estou arrumando!

— Estava. Agora vai, me diz porquê ficou chateada com o Lucas.

— Achei que tinha esquecido. — Murmuro.

— Eu disse que não iria me esquecer, bobona.

Agora eu que reviro os olhos e me jogo ao seu lado, na minha cama mal arrumada.

— Tudo começou quando sonhei com ele. — Ela faz menção de falar, mas eu continuo. — Já tem um ano que tenho sonhado com o Lucas. E ele também sonha comigo, tenho certeza. É toda noite, Eliza, mas tem vezes que são em lugares diferentes, e tem vezes que ele, ou eu, demora à chegar. Na verdade, eu acho que só sonhamos um com o outro quando estamos dormindo ao mesmo tempo.

— Então vocês... Vocês se conhecem...?

— Muito. E mais do que isso, estamos super apaixonados. Nos amamos cada noite mais e mais. Mas... Quando eu acordo, me sinto tão sozinha e triste... Porque eu não sei como me aproximar, e tenho o Arthur e ele a sua namorada.

— Deixa eu ver se entendi, Aura... — Eliza se senta ereta, realmente interessada. — Vocês super se amam e se conhecem, nos sonhos, mas na vida real um ignora o outro.

— No começo eu ignorava mais. Ele tentou algumas aproximações, o que me fez perceber que ele também sonhava comigo. Mas agora ele é quem me ignora. E isso está me matando, porque nos sonhos estamos cada vez mais próximos, e na vida real cada vez mais longe.

— E ele te tratou com ignorância hoje, por isso ficou chateada. — minha irmã deduz, acertando em cheio.

Apenas assinto e deito minha cabeça em seu colo. — Eu queria saber o porquê desses sonhos. Quero que acabem e que eu pare de sentir essas coisas por ele. — Murmuro. — Eu gosto do Thu, Eliza, gosto mesmo. Mas a cada dia que passa eu estou gostando menos dele e mais do Lucas. E eu odeio isso.

Ela fica fazendo carinho em meus cabelos, mas não diz nada. E eu super entendo, e agradeço. Tem vezes que o silêncio conforta mais que palavras.

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