MEU IRMÃO GÊMEO

Mais um dia de tormenta, todos os dias são iguais pra mim, acordo, levanto, tomo café da manhã, vou trabalhar, volto embora podre de cansado, mas ainda preciso estudar e depois janto e durmo. Não tenho vida social, nem namorada, amigos então, menos ainda, meu emprego é uma porcaria que só me paga o necessário pra não morrer de fome, tenho muitas ambições, porém com essa vida medíocre duvido que irei conseguir realizar os meus desejos, por isso vivo uma vida pacata e sem graça na cidade de Detroit no estado de Michigan, para ser mais exato quase na divisa com o Canadá.

Meu nome é Arthur Mitchell Evans, moro com os meus pais adotivos em uma casa de dois andares no subúrbio com os meus nove irmãos... E não é brincadeira, eu tenho nove irmãos, porquê? Bem, meus “pais” são os legítimos sanguessugas do governo, ou seja, eles gostam de mordomia... E descobriram que adotando crianças o governo paga para eles criarem esses filhos até que nós consigamos nos virar sozinhos, ou seja tendo a nossa própria família, casa e emprego, então os meus “queridos” pais nos adotaram, eu fui adotado com sete anos, porque parece que nenhuma outra família me quis, fiquei desde o meu nascimento no orfanato, porque meus pais biológicos não me quiseram depois que nasci, pelo menos foi o que me disseram, mas quando cheguei aqui já tinha os meus irmãos mais velho que são o Hunter, Owen e Paul que tinham nove e dez anos depois veio eu a Dorothy, Karen, George, Kevin, Rachel e a Janet a nossa caçula, que quando chegou tinha apenas cinco anos e eu já tinha onze, então ela é a minha preferida na casa, porque além de linda é meiga e muito especial pra mim. Não que as outras não sejam especiais e eu não as ame, mas quando elas chegaram já tinham a minha idade e nunca fomos tão apegados porquê elas nunca quiseram fazer amizade com os meninos da casa, são mais fechadas na delas, porquê? Não faço a mínima ideia e nunca tive curiosidade de saber, o irmão que mais gosto é o Hunter, depois vem o Owen e o resto dos meninos são chatos também, eles não gostam muito de mim e o sentimento é recíproco. Mas tentamos conviver pacificamente, porque “nossos pais” não suportam brigas e se nos pegar fazendo isso o castigo é tenso.

Nossos “pais” não são nada afetivos, com nenhum de nós, apenas temos uma convivência passional, como é que vou simplificar? É... Vejamos, nós não chamamos eles de pai ou mãe, e sim de Sr. e Sra. Evans, por questão de respeito e porquê eles nunca fizeram questão de nos tratar como filhos, quer dizer, quando temos visita rápida de algum agente do governo, aí sim eles nos tratam com um carinho fingido e se caso parecermos na frente dos agentes que estamos tristes ou reclamar de alguma coisa, a surra que vem depois não é nada agradável, eles não costumam nos bater, mas deixam nós de castigo as vezes, porque somos arteiros, mas se fizermos algo para atrapalhar seus negócios, aí sim, a coisa fede... O governo de Michigan além de dar para os “pais” adotivos um valor mensal, que não faço a mínima ideia de quanto seja, mas não deve ser pouco, porque eles não adotariam crianças por causa de merreca né? Como eu estava dizendo o governo ainda disponibiliza cesta básica completa por criança, vale gás, auxílio médico grátis, e escola pública, então o básico nunca nos faltou, ainda bem, temos comida, recebemos muitas doações de roupas, sapatos e brinquedos, não posso reclamar muito da minha vida, porque sei de casos que os pais adotivos maltratam ou abusam sexualmente das crianças, e isso, nenhum de nós pode dizer que já passou por aqui, por mais que não sejam carinhosos, pelo menos não nos tratam mal, nós temos as refeições em família e todos ajudamos na organização e limpeza da casa, a Sra Evans é um boa cozinheira e junto com a Dorothy e a Karen fazem ótimas refeições para todos. Bem o que mais vou dizer deles? Ah sim... Eles trabalham com vendas de bijuterias, inclusive eu e meus “irmãos” é quem fazemos as jóias manualmente. O negócio deles é falido, porque é mal administrado, pelo menos é o que parece, pois não temos uma casa bonita, nem móveis bonitos, somos simples e somente o básico, nada de luxo, nem ostentação, então eu acredito que não ganham muito com as jóias, porém eles precisam manter as aparências para o governo, porque senão é cortada a pensão vitalícia, e pelo que eu saiba eles são obrigados a ter uma renda extra.

Outra exigência do governo é que nós todos temos que estar estudando na rede pública, terminando os estudos do ensino fundamental e médio ou fazendo algum curso profissionalizante ou faculdade, todos temos direito a bolsa integral, mas a notas precisam ser ótimas para conseguir. Por isso eles não proíbem nós de estudar, porque só podemos continuar recebendo o dinheiro, se estivermos matriculados. Bem eu acho que é por isso.

Eu neste momento estou terminando o ensino médio, ainda sou jovem, com apenas meus dezessete anos. Mas já tenho em minha mente que nunca irei cursar uma faculdade, primeiro porque meus pais não tem condição de pagar os meus estudos, e segundo, as minhas notas não são excelentes para ganhar uma bolsa de estudo integral, porque quase não tenho tempo pra estudar. Eu estudo à noite e trabalho o dia todo.

Meu trabalho consiste em fazer jóias e depois vendê-las... Vou contar como faço isso.

Nossos pais tem no porão da nossa casa, uma espécie de oficina de bijuterias. Lá temos tudo o que precisamos para confeccionar qualquer tipo de jóia, desde anéis, brincos, pulseiras, tornozeleiras, colar, piercing, grampos de cabelos, tiaras, etc...

Quem pensa que é um trabalho fácil e glamouroso está muito enganado. Porque é chato e cansativo. As peças são bem pequenas e precisamos trabalhar com muito cuidado. Não é meu sonho de trabalho, na verdade faço por obrigação, porque eu detesto isso.

O processo é: Derreter o cobre ou latão, ou dependendo do que temos de matéria prima, usamos arame, moedas antigas e muitos outros elementos. Mas o mais utilizado é o latão, porque ele é mais maleável e é mais bonito em questão de brilho. Depois de derreter, em temperatura de aproximadamente novecentos graus Celsius, ou mil seiscentos e cinquenta e dois graus fahrenheit, tem as forminhas que precisam ser despejado o líquido ainda quente para criar a forma do que será feito. Por exemplo: Quando eu crio os anéis, eu faço o mesmo modelo porém tem vários tamanhos e moldes, coloco dentro das forminhas para depois de esfriar um pouco começar a manusear. O meu trabalho é fazer anéis. E os meus outros irmãos fazem as outras coisas, cada um tem a sua função.

Eu transformo uma lata sem graça, em um lindo anel ou aliança... Alguns com detalhes em pedrarias e outros apenas lisas e grossas, é um trabalho delicado mas no final fica um produto bonito e com ótimo acabamento.

Primeiro, como já disse, é derretido em uma alta temperatura e depois colocado em formas de vários tamanhos, para depois começar a moldar da forma que desejo.

Fazemos esse trabalho duas vezes por semana, em dias escolhidos por nossos pais, porquê nos outros cinco dias, saímos para vender...