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Capítulo 8 - O perigo ronda

Alfa abriu os olhos, tateando a cama em busca do corpo de Eugênia. Porém, ela já não estava ao seu lado. Farejou o ar e percebeu que seu aroma estava próximo, indicando que ela ainda não havia deixado o castelo. Decidiu tomar um banho e se vestir. Ao descer as escadas, encontrou Radesh esperando por ele.

— E Eugênia? — questionou.

— Ela e suas outras companheiras estão te esperando na mesa de jantar para o desjejum — respondeu Radesh.

Ele seguiu até lá, e ao vê-lo, as três mulheres se levantaram em sinal de respeito.

Eugênia decidiu se levantar também, reconhecendo a importância de demonstrar um mínimo de lealdade. Alfa se sentou ao lado de Dana e Hellen, e ela esperava que, dessa vez, Radesh tivesse algo mais substancial para servir à mesa do que os restos de um sacerdote.

Surpreendentemente, eles estavam comendo frutas, assim como ela. Isso a fez considerar que talvez houvesse mais opções alimentares do que simplesmente dilacerar pessoas.

— Teve uma boa noite, Eugênia? — Hellen perguntou a ela com ironia, e Eugênia respondeu no mesmo tom.

Alfa a observou ansiosamente, aguardando sua resposta.

— Sim, tive uma boa noite!

— Bom dia. Finalmente conhecerei sua mais nova esposa! — Um homem robusto e atraente, de olhos vermelhos, entrou na sala de jantar e se juntou a eles. Ele parecia ter uma liberdade excepcional com Alfa e os outros membros da alcateia.

— Eugênia não é esposa! — Sue respondeu a ele, nervosa.

— Só fale quando autorizada. — Alfa interveio, repreendendo-a.

— O sacrifício improvisado chegou a tempo, já que Thor se recusou a entregar a própria cabeça.

— Depois falaremos sobre isso, Zayon! — Alfa não queria que Eugênia ouvisse detalhes das conversas obscuras. Zayon era o general, o carrasco a quem por anos eles haviam entregue pessoas para o sacrifício. Antigamente, os mais velhos iam voluntariamente, mas a regra mudou com o padre Jonas, e apenas ladrões e hereges eram oferecidos ao monstro.

— Por que me olha tão intensamente, Eugênia? — Zayon perguntou, mordendo uma maçã.

— Assim Alfa pode pensar que você a interessou, justo o homem em quem ele confia. — Sue olhou para Zayon, habilmente criando uma situação em seu favor.

— Apenas estudando o rosto de quem devo odiar. — Eugênia respondeu sem se intimidar.

— Eugênia sabe que é minha, enquanto eu quiser.

Alfa piscou para ela, e ela começou a comer para evitar mais conversas desnecessárias.

Após soltar Jane e vê-la devorar toda a carne que Anthony havia trazido para ela, ele ficou do lado de fora da cabana, imerso em memórias do passado...

Seis anos atrás, Anthony narrou...

Estava deitado na cama com Elizabeth, abraçados, quando ouviu galhos quebrando do lado de fora. A noite já estava avançada. A cabana de Jane e Gustave ficava bem próxima à deles. O grito de Jane rasgou o silêncio e o som das copas das árvores se movendo preencheu o ar. Anthony pegou seu rifle e correu de volta, mas antes que pudesse disparar, Gustave segurou sua mão para impedi-lo.

— Não atire, os malditos estão com ela. Eles a levaram! — Gustave disse com lágrimas nos olhos. Poucos dias antes, Jane havia revelado a todos que estava grávida.

— E por que a levaram? — Anthony perguntou, mas a resposta permaneceu um mistério desde então. Agora, talvez Jane possa finalmente revelar a verdade sobre o que aconteceu com a criança que ela esperava. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Thor.

— Vai confiar em Jane? — Thor indagou.

— Ainda não sei. Tenho medo de tomar a decisão errada.

— Talvez precisemos de um líder melhor! — Thor sabia ser incisivo quando queria, o que provocou a indignação de Anthony.

— E quem seria esse líder, você? O mesmo que se envolveu com uma daquelas criaturas imundas e condenou sua própria irmã a se deitar com o demônio?

Thor avançou e a resposta de Anthony foi um soco em seu rosto, fazendo-o cair. Elizabeth interveio, colocando-se entre os dois para evitar mais violência.

— Vocês enlouqueceram? Já temos dores suficientes, não precisamos nos separar ainda mais como família! — Ela exclamou.

— Thor não me respeita, nem como líder, nem como...

Thor se levantou e Elizabeth o amparou.

— Pai? Você nunca foi meu pai. Sempre me deu migalhas de atenção, e por isso agradeço. Isso me impediu de ser fraco como você é!

Novamente, Elizabeth impediu que Anthony atacasse Thor, mesmo que Anthony desejasse ajustar contas com ele, sabendo que suas falhas como pai contribuíram para a relação tumultuada com o filho.

— Por favor, deixe Thor em paz. Já não basta a culpa que ele carrega por Eugênia.

— Uma culpa que ele mesmo buscou. Aqui há tantas jovens, e ele foi se envolver justamente com a amante daquele monstro! — Anthony desferiu um soco na parede da cabana.

— Ele errou, assim como todos nós erramos nesta vida, Anthony.

— Sim, você sempre justifica os erros do mundo, reconhece as virtudes nos outros, exceto em mim, Elizabeth. A culpa é toda minha, errei ao acreditar que um dia conseguiria seu amor.

— Não estamos falando sobre nós dois!

Sempre que Anthony buscava uma resposta definitiva dela, Elizabeth evitava como o diabo evita a cruz. Ele sentia que, no fundo, ela tinha pena de dizer que ele nunca foi e nunca seria algo significativo em sua vida.

[...]

Elizabeth carregava consigo um peso que se entrelaçava com cada momento vivido ao lado de Anthony. Sentia que sua decisão de permitir que ele se casasse com ela, mesmo quando estava grávida de outro homem, havia deixado cicatrizes profundas em sua relação. Jamais conseguiu ser completamente dele, uma vez que seu coração permanecia preso à imagem de um completo desconhecido, um passado que não conseguia esquecer.

Ela tinha consciência de que suas escolhas afetaram a vida de Anthony de maneiras imprevisíveis. A vontade de seguir em frente, apesar da súbita e drástica transformação do mundo que conheciam, a levou a tomar decisões que agora julgava egoístas e cruéis. A ideia de se separar dele, de dar-lhe a chance de encontrar uma mulher que pudesse se entregar completamente, cruzou sua mente diversas vezes. No entanto, a descoberta de sua gravidez com Eugênia mudou tudo.

Nesse mundo hostil e cheio de incertezas, Elizabeth sabia que não seria capaz de criar duas crianças sozinha. A responsabilidade pesava sobre ela, e suas ações eram guiadas por um misto de amor, medo e necessidade de sobrevivência. Agora, tantos anos após aquelas escolhas, ela sentia que chegara o momento de reunir suas forças e oferecer a Anthony a liberdade que ele merecia. Uma liberdade para seguir seu próprio caminho, sem estar atrelado ao passado dela.

No entanto, havia uma tarefa que unia Elizabeth e Anthony indissociavelmente: trazer Eugênia de volta para os braços maternos. Antes de qualquer passo em direção à separação, eles precisavam enfrentar os desafios que o presente lhes impunha. O desejo de reencontrar sua filha, de abraçá-la novamente, era o fio condutor que unia os sentimentos de Elizabeth e a determinação que a impulsionava a seguir em frente.

Anthony foi até o rio, pulando na água para abrandar o fogo que o consumia. O fogo da dor que sentia dentro de si, tanto amor investido, carinhos e milhares de tentativas em vão de chamar a atenção de Elizabeth. Saber que sua filha estava sofrendo naquele lugar sombrio e agora Thor o renegava como pai e líder.

— Trarei nossa filha de volta e irei viver minha vida, longe de sonhos que jamais alcançarei. A água desse rio já lavou tantas lágrimas que ninguém jamais verá.

Ele decidiu ir até a antiga casa de Jane. O barraco havia ficado fechado há anos. Tudo estava em ruínas, caminhando entre os restos corroídos pelo tempo, encontrou fotos, obviamente tiradas antes da era das trevas. O som de algo caindo no chão o assustou, aproximou-se e viu um livro coberto por teias de aranha e poeira. Ele o pegou.

— Jane poderá dizer para que você serve!

Com o livro em mãos, saiu daquele lugar e percorreu a floresta de volta à vila. Desde que Eugênia fora levada e agora com a morte do padre, ninguém deixava de respeitar o toque de recolher. Entrou em casa antes do anoitecer. Elizabeth estava preparando o jantar e Jane permanecia acuada em um canto, tentando ainda recuperar as forças.

— Thor ainda não voltou! — Elizabeth disse preocupada.

— Ele sabe que não pode ficar vagando após o pôr do sol. Deve estar por perto e apenas fazendo isso para me irritar.

Jane começou a rosnar.

— Espero que ele volte. Sinto cheiro do perigo rondando a vila!

Felizmente, Thor chegou, batendo a porta. Elizabeth não ficou tranquila até Anthony construir uma barricada, mesmo sabendo que uma das feras dormiria com eles do lado de dentro.

Thor foi direto para seu quarto, sem apetite e sem vontade de encarar Anthony após todos os conflitos que tiveram naquele dia. Deitou-se na cama e entregou-se às suas angústias. Não sabia como sua mãe ainda conseguia permanecer ao lado de Anthony, era evidente que não havia amor entre eles. Ele, que um dia aspirou ser o sucessor de Anthony, questionava quem naquela vila confiaria na sua liderança agora. Sentia-se um homem mais covarde do que o próprio Anthony.

A morte de Lilith parecia certa, mas pelo menos Eugênia fora poupada. Jane o havia convencido de que ele poderia adentrar aqueles portões e resgatar sua irmã por conta própria.

— Essa é a chave para reconquistar o perdão e a confiança de todos. Além de mostrar a esse homem que o filho que não compartilha seu sangue é muito mais corajoso do que ele jamais poderá ser nessa vida.

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