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PRÓLOGO

Suila!

(Há muitos anos atrás...)

De pé em frente ao velho e

quebrado espelho encaro meu

reflexo me sentindo apreensiva,

sentindo medo e muito sentindo e

um frio tão ruim em minha barriga.

Hoje é o dia do meu casamento,

o dia que venho tentando há meses e que tanto queria evitar... As vezes só desejo acordar e ver que isso não é a minha realidade, mas sim apenas um pesadelo, um terrível pesadelo.

Há poucos meses atrás, ao

chegar do colégio, meu pai me

chamou na sala de estar de casa e

me comunicou que havia arranjado um marido para mim. Segundo ele, um homem bom, rico e respeitador, e que principalmente iria nos salvar de uma dívida antiga da família.

- Você está tão linda minha filha.

Nem acredito que você vai se casar hoje!- minha avó exclamou ao entrar no cômodo e me ver vestida de noiva.

No meus país e para a minha

cultura o matrimônio é algo que significa tanto. Para as famílias é honroso ver seus filhos se casando

e isso é sempre motivo de felicidade, bom, nem sempre. Sinto-me como se estivesse me preparando para o meu velório.

- Não quero me casar com esse

homem vó. Por favor, fala com o

meu pai. Me ajuda!- pedi desesperada e com medo de tudo que estar por vir.

Minha avó me pegou pelo braço

ao me ouvir reclamando, abaixou-se ficando do meu tamanho, balançou o meu corpo me sacolejando e olhou no fundo dos meus olhos como busca intimidar a outra pessoa, no caso, eu.

- Escuta aqui, Suila, se você

tentar fugir ou fizer algo para desonrar o nome da nossa família

eu mesmo vou te dar uma boa surra

que vai fazer você se arrepender de ter tentando algo... Você vai se casar com esse homem, porque ele é a única garantia que temos que quitar todas as dúvidas do seu pai. Agora pare já com esse drama, porque seu noivo não é obrigado a receber uma noiva com cara de cadáver.- minha avó me ameaçou me causando um frio ruim na espinha.

Esse casamento é como um

verdadeiro pesadelo na minha

vida. Desde que meu pai me deu

essa notícia, não consigo dormir a noite direito. Tenho medo de tudo

que estar por vir, medo do homem que irei me casar e de todas coisas que posso passar por daqui em diante.

O meu noivo já é um homem

feito, já foi casado antes e tem até filhos, já eu sou apenas uma criança.

Mal saí da escola, ainda brinco com minhas bonecas e completei os meus onze anos há poucos meses... Sinto medo, muito de tudo.

- Sua sogra e as convidadas

estão te esperando no salão

principal da casa. Dê um jeito

nessa sua cara de choro, coloque

um sorriso em seu rosto e se junte

a nós... Te dou cinco minutos para aparecer lá ou te garanto que não responderei por mim.- minha avó disse e saiu do cômodo em seguida

me deixando só.

Sei que ela disse pra eu não

chorar ou fazer drama, mas no segundo em que ela saiu do cômodo desabei a chorar desesperada... Não quero me casar, não quero! Sou só uma criança. Quero estudar, brincar e ser criança. E o que quero!

- Suila?- chorava quando uma

voz imponente soou dentro do

cômodo me fazendo limpar o rosto imediatamente.

Ainda secava o rosto na

tentativa de disfarçar a minha

cara de choro quando meu pai se

colocou ao meu lado ajoelhando-se

de frente pra mim.

- Por que choras?- ele perguntou trazendo sua mão até meu rosto e secando minhas palavras.

- Tenho medo papai...- confessei

a ele com meus olhos pregados ao chão.

Ele virou meu rosto com suas

mãos me fazendo encara-lo, limpou

as lágrimas que ainda haviam em meu rosto e sorriu ao olhar pra mim.

- Mas menina, você não tem

motivos para temer. Seu marido

é um bom, é honroso e tem uma vida boa, vai ter te dar um futuro bom.- ele disse para me consolar.

- Mas papai, eu ainda sou uma

criança... Tenho medo.- insisti no assunto.

- Olha menina, o senhor seu

marido me prometeu que não te desrespeitar ou fazer algo contra você. Ele será um homem honroso e respeitará seu tempo... Suila, esse seu casamento é a única forma que tenho para me livrar das dúvidas da família. Você precisa me entender e me ajudar minha menininha.- ele me pediu com seus olhos negros presos aos meus e meu coração se negou a negar ao seu pedido.

Fechei os olhos e mesmo sentindo

meu coração apertado, concordei em seguir com a ideia do casamento e me casar oficialmente com o Zaki, o meu noivo e futuro espero, mesmo sem ter o visto antes.

Terminei de me aprontar para

o meu casamento, e assim como

minha avó pediu, segui para o salão principal da casa dos meus sogros e me encontrei com as convidadas que esperavam por mim... Aqui, na minha cultura, os casamento ocorrem dessa forma. Os homens ficam separados em um salão e celebram com músicas e bebidas entre si, e já as mulheres ficam do outro lado da casa em uma comemoração mais calma e sem toda a farra que os homens fazem.

Durante toda a comemoração

fiquei ao lado de minha sogra, e diferente de todas as pessoas que ali estavam não consegui sorrir ou até mesmo demostrar qualquer sinal de felicidade. Só conseguia pensar no meu futuro, um futuro incerto e que me trás medo, muito medo.

Quando a cerimônia chegou ao

fim e todas as pessoas foram indo embora um desespero se fez presente em meu peito e ele ficou tão apertado que não consegui me mover, falar ou demostrar qualquer sentimento.

- Menina? Me acompanhe!

Irei te mostrar onde será seu

quarto de hoje em diante.- minha sogra me disse ao passar por mim, mas não consegui me mover e nem tive forças para levantar da cadeira.

Ela parou de andar ao ver que

não respondi ao seu comando,

então ela veio até mim e me fitou

de cima me fazendo sentir medo.

- Você não me ouviu? Me

acompanhe logo! Você não está

mais na casa dos seus pais, aqui há regras e você terá que seguida-las.- ela me avisou em um tom ameaçador e por medo levantei-me e a segui até o meu quarto, meu novo quarto.

Ela abriu a porta pra mim ao

chegarmos no cômodo, me deu

espaço para entrar e veio em seguida passando por mim.

- É aqui que você ficará quando

não tiver nenhuma tarefa para fazer

na casa, mas não se preocupe, porque se depender de mim terá muita coisa pra você fazer pela casa, então não passará muito tempo presa aqui.

Não tive uma resposta certa pra

dar a ela, apenas acenei com a cabeça enquanto olhava para o chão e me esforçava para não chorar.

- Vou te deixar descansar agora, porque o resto da semana será bem cheiro pra você.- ela avisou e já me deu as costas saindo do quarto.

- Senhora, posso te fazer uma

pergunta?- perguntei antes que ela saísse do quarto e me deixasse a sós.

Ela se virou para mim encarando-

me mais uma vez e me olhou como quem espera pela tal pergunta, então a fiz antes de perder a coragem.

- O Zaki... Meu marido, ele vai

dormir aqui?- a questionei com

medo de sua resposta.

Minha sogra riu ao ouvir

minha pergunta, balançou a

cabeça e me olhou com um olhar indecifrável por mim... Mas só seu olhar já me respondeu.

- Minha filha, agora vocês são

casados. Ele é seu marido e você

é a esposa dele, é claro que ficarão juntos.- ela respondeu.

- Mas meu pai me prometeu que

ele não faria nada comigo, meu pai

me prometeu que ele iria esperar meu tempo e me respeitar...- disse a ele com lágrimas nos olhos.

- Você pertence ao meu filho

a partir de hoje, o que ele faz com

você não é mais um problema do seu pai... Você é a esposa dele agora, e seu corpo e tudo que é seu pertence a ele.

Minha sogra saiu do meu quarto

após me responder e foi inevitável

não chorar ao me ver só... A minha prima passou pela mesma situação que eu, já ouvi suas histórias e sei o quão aterrorizante elas são, e agora sei que o mesmo acontecerá comigo e isso me deixa em pânico.

Chorava copiosamente em um

canto do quarto desesperada e sem saber o que fazer, quando a porta do cômodo foi aberta e ao me virar vi o meu marido pela primeira vez na vida... Nunca havia o visto até hoje,

hoje foi a primeira vez que o vi e ainda assim foi de longe. Nem no dia do casamento em frente ao juiz eu pude vê-lo, e isso é uma das coisas que mais me apavora. Como posso viver ao lado de alguém que não conheço? Isso é aterrorizante!

- Suila... Você é ainda mais linda

de perto. Linda assim como seu pai

te descreveu!- ele me elogiou, mas seu elogio não me trouxe felicidade.

Meu marido é um homem de

quarenta anos de idade e isso é

algo visível em sua aparência. Ele

é um homem alto, seu corpo é magro, seu rosto é maduro e bem velho por conta das marcas de sol, seus cabelos estão começando a ficar grisalhos e os seus dentes são podres... Eu não tenho nem o que falar!

Fiquei calada ao vê-lo e me

mantive quietinha em meu canto

me sentindo aterrorizada... Vejo em seus olhos que a promessa que meu pai me fez não irá se cumprir, ele não irá me respeitar.

Ele caminhou em passos lentos

em minha direção, parou em minha frente e estendeu sua mão trazendo-a para o meu rosto e o alisando, mas me distanciei por medo.

- Você está com medo de mim?- ele

me questionou ao rir sem mostrar os dentes.

- M...eu pai me disse que você

iria me respeitar... Eu não quero

isso.- disse a ele tentando me impor.

O homem riu na minha cara

ao me ouvir falar, ele balançou

sua cabeça e deu um passo a frente ficando ainda mais próximo de mim.

- Ele te disse isso? Pra mim ele

prometeu que você seria totalmente minha assim que toda a dívida que ele tem fosse paga, eu paguei e agora você é minha Suila. Minha esposa e você me pertence.- ele disse em baixo tom, mas me causou arrepios é um frio na espinha, mas não um frio bom.

- Por favor não faça nada

comigo... Eu sou uma criança.- pedi, ou melhor, implorei pra que ele não fizesse nada comigo.

Aquele homem me olhou nos

olhos, mas pude ver neles que ele

não sentia se quer um pinguinho de piedade de mim... O meu marido me pegou pela cintura, aproximou o meu corpo do seu e olhou em meus olhos enquanto sorria sadicamente.

- Amor, você já não é mais

uma criança, você já é uma

mulher... A minha mulher!- ele

exclamou e me agarrou tirando um grito agudo de mim.

Eu gritei por toda a noite, pedi

ajuda e implorei pra que alguém fizesse algo por mim, pra que alguém me ajudasse, mas ninguém me ajudou e eu só parei de gritar quando fiquei tão exausta que desmaiei sobre a cama perdendo a consciência.

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