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CAPÍTULO 1

Suila!

O dia de hoje não me trás boas lembranças, na verdade ele me trás as piores que poderia ter. Há muitos anos atrás nesse mesmo dia aconteceu meu casamento, bom, pra algumas pessoas isso poderia ser uma data feliz e festiva, mas pra mim não foi... Há anos atrás fui obrigada a me casar aos onze anos de idade, e meu noivo já era um homem adulto. Essas lembranças me fazem mal, me machucam e fazem minha alma sangrar toda vez que isso me vêm a memória. Os anos que passei ao lado do Zaki, o meu ex marido, foram assombrosos e não há um momento se quer que fui feliz ao seu lado, é exatamente por isso que digo que esse dia não me trás boas lembranças, porque foi nele que meu pesadelo começou.

Meu casamento durou até os

meus treze anos de idade. Nesses

anos que fiquei ao lado dele, sofri todos os tipos de abusos possíveis e fui agredida de todas as formas, não sei nem como sobrevivi a isso e sai ilesa dessa situação... O Zaki me batia, me humilhava e me forçava a fazer as suas vontades e tinha que obedecer ou era espancada. Não sei quantas vezes fui espancada por esse homem, mas me lembro perfeitamente de uma das vezes. Ele me agrediu porque me neguei "deitar" com ele e fazer suas vontades, ele me bateu tanto, mas tanto, que fique sem enxergar por dias, tive meu nariz quebrado e até cheguei a fraturar alguns membros. Nesse mesmo episódio a minha mãe adotiva, Serena, me encontrou em um hospital do meu país, ela estava com a intenção de fazer missão e ajudar as pessoas menos favorecidas, e ela me achou e me ajudou... Eu não sei como, mas contei toda minha história a ela e no mesmo dia ela me prometeu que me ajudaria e me tiraria do mostro que eu chamava de marido, e como sempre ela fez, ela cumpriu com sua promessa... Minha mãe lutou contra as leis de um país machista por tanto tempo até conseguir fazer a proeza de anular meu casamento, em seguida ela lutou para me trazer pra cá e para me adotar, mas no fim ela fez tudo que se propôs a fazer e desde então ela é o meu anjo.

Não sei como isso é capaz, mas

desde a primeira vez que vi meus

pais adotivos senti amor por eles e

pra mim eles são os meus pais... Eu os amo como se elas tivessem me feito e sei que o sentimento é recíproco, sei que é real.

- Filha?- minha mente voava

longo quando a voz melodiosa

de minha mãe soou de repente me pegando de surpresa e me pregando uma peça.

Imediatamente levantei a cabeça desviando-a da papelada que há sobre minha mesa e a minha mãe estava lá, bem parada na minha frente sorrindo sutilmente.

- Oi mãe! Estava tão entretida

aqui que nem te vi chegar. A senhora precisa de algo?- pergunto a ela lhe dando um pouco da minha atenção.

Ela terminou de entrar em meu escritório ao ver que tinha minha permissão para isso, como se isso fosse preciso, e sentou-a na cadeira vazia que há de frente para mim.

- Não, não preciso de nada. Só

vim vê como estava os seus estudos

e pra saber se você está nervosa pra hoje a noite.- ela se explicou tirando um sorriso involuntário de mim.

Os meus pais adotivos são

pessoas, digamos... Influentes!

Meu pai se chama Charles Albani,

ele é dono do "Albani Empire", uma empresa multinacional voltará para

a tecnologia, a pioneira no Brasil e uma das mais rentáveis aqui e no mundo... Atualmente trabalho ao seu lado na empesa, sou a CMO, a chefe

do marketing e também sou eu quem comanda todos os trâmites quando há negócios a se fazer com acionistas, é um bom trabalho e amo fazer o que faço.

Hoje é um dia especial para

mim e também para a minha

carreira. Durante a noite de hoje ocorrerá a minha primeira reunião

de apresentação do nosso "produto" para um grupo de homens gringos que querem fazer negócios com nossa empresa. É um passo importante pra mim, mas não me sinto muito nervosa por saber que estou preparada pra isso... Aliás, é exatamente pra isso que venho me preparando desde entrei na empresa, então me senti pronta e sei que farei tudo com êxito e darei meu máximo para representar a empresa da melhor forma possível.

- Tudo que é novidade nos

trás nervosismo e medo, mas

confesso que pensei que estaria

muito mais nervosa do que estou

hoje. Estou me sentindo confiante mãe!- a respondi.

Minha mãe sorriu, bateu palmas

e comemorou da forma que sempre faz pra qualquer feito... Minha mãe é uma "perua" descrita, igual a essas de novela, tanto na sua aparência que é um pouco cheguei, até no seu jeitinho maluquinha de ser. Minha mãe é uma senhora de cinquenta anos de idade, ela é baixa, diferente de mim, a sua pele é branca como a neve, mas isso é tapado pelo bronzeamento que ela insiste em fazer, os seus cabelos são loiros e chamativos e seu rosto é como de um anjo de tão meiga que ela é.

- Tenho tanto orgulho de você

Suila. Você é a pessoa mais forte e esforçada que conheço, é muito bom pra uma mãe ver sua cria se tornar em um ser humano tão lindo e tão iluminado.- ela me disse sorrindo de orelha a orelha e me fazendo sorrir.

Levantei-me do meu lugar

ao ouvir seu elogio, fui até ela é

a abracei por trás e deixei um beijo demorado em seu rosto.

- Mãe, eu só sou o que sou hoje

graças a você. Você é meu anjo na terra, o anjo que me protege há anos

e que me tirou de um pesadelo. Eu te amo mãe e sempre serei grata a tudo que a senhora me fez!- declarei o meu amor a ela.

A abraçava de olhos fechados,

mas pude ouvi-la chorando bem baixinho e isso me fez rir do quão "derretida" e chorona minha mãe é.

- Você quem me salvou Suila!

Estava em uma fase difícil da minha vida quando te encontrei e você me fez ter vontade de lugar e confinar a viver, você me deu forças e me dá até hoje... Você é o meu anjo!- ela também se declarou para mim.

Acho que nem se eu viver cem

anos nessa vida terei tempo bastante para agradecer a minha mãe e ao meu pai por tudo que eles fizeram e fazem por mim. é um sentimento de gratidão tão grande que não dá pra explicar.

- Senhoras? Com licença!

Não quero atrapalhar todo o

momento, mas o almoço já está

servido... Só vim avisar porque a senhora pediu dona Serena.- a voz

do Jorge, o mordomo da casa soou quebrando nosso momento.

Afastei-me de minha mãe

colocando-me de pé e sorri ao

olhar para o Jorge, ele sorriu pra

mim como resposta também... O

Jorge trabalha paga a nossa família

há anos, desde muito antes que eu chegasse na família, pelo que minha mãe diz, ele está aqui desde que ela se casou com meu pai. Ele é o homem de confiança da família e é tratado por nós como um familiar e sei que ele também gosta da gente como tal.

- Tudo bem Jorge, você nunca

atrapalhar. Estou mesmo faminta

e preciso desligar a cabeça dos meus estudos por alguns momentos.- disse a ele para tranquiliza-lo.

- Então vamos descer, porque

também estou faminta e tenho

muitos compromissos durante

essa tarde.- minha mãe respondeu, pegou minha mão e nos descemos juntas para a sala de jantar.

O almoço ocorreu em paz e

nós aproveitamos o momento

para conversar, e eu, para tirar a cabeça por um momento da minha apresentação de mãos tarde e tentei espairecer um pouco.

Após o almoço voltei mais

uma vez para os meus estudos

para estar totalmente pronta para

a apresentação de mais tarde. Não quero errar uma palavra se quer ou deixar algo sair do controle, o meu pai e os acionistas da empresa confiaram em mim para isso, então não permito que algo saia do controle.

Ao terminar de me preparar

mentalmente para a reunião, fui

me arrumar esteticamente para a reunião, me aprontei e me vesti a caráter. Vesti um terninho social preto, calcei um scarpin da mesma

cor, prendi meus cabelos em um puff

e peguei minha bolsa de couro, onde está todas as papeladas que preciso pra mais tarde.

Saí do meu quarto as cinco e

meia da tarde com tudo em mãos

e ao descer a escada e entrando na sala logo me deparei com a minha mãe e a Charlotte, a minha irma nova aguardando por mim... Charlotte e eu nos damos muito bem, até melhor do que irmãs de sangue. Quando cheguei na família pensei que seria odiada por mais irmãos, mas ela me deu todo seu apoio e me recebeu de braços abertos, já o Anthony, meu irmão mais velho, não agiu da mesma forma. É visível que ele me odeia!

- Você está tão linda Suila!

Vou tirar uma foto pra gente

lembrar sempre do quão especial

esse dia foi.- Charlote disse ligando um flash na minha cara e quase me deixando cega.

Sorri sem jeito com a recepção

das duas, mas decidi não cortar a animação delas. É bom ver o quanto elas gostam de mim, me sinto muito especial e amada!

- Okay, mas não é pra tanto.

É só uma apresentação, é algo

normal...- disse a ele tentando não demostrar meu real estado.

- Não seja modesta Suila.

Você se esforçou, tem seu

mérito e a gente tem sim que

celebrar o momento.- minha mãe

logo me cortou.

Sei que esse momento é especial, tanto pra mim, quanto para alguns dos membros da minha família, mas não quero criar expectativa em todo mundo, vai que algo da errado depois. Não quero decepcionar ninguém.

- Eu sei e concordo com vocês,

mas acho melhor a gente esperar

dar certo pra comemorar depois.- disse a eles, mas não adiantou muita coisa, porque elas não pararam de falar sobre o assunto.

Após ficar quase meia hora

presa na sala ouvindo as duas

falarem, tirarem fotos de mim e

me darem mil e uma dicas e truques, finalmente consegui sair de casa e o motorista já aguardava por mim.

Da minha casa até a empresa

tive meu momento para relaxar, colocar a cabeça no lugar e pensar

um pouco a sós sobre a apresentação.

Durante as últimas semanas

ouvi de tudo dos meus pais, de

colegas de trabalho e de amigos

sobre essa apresentação, mas quero fazer algo novo e seguir um caminho meu, não é que as fichas das pessoas que vivem ao meu redor não valem nada, mas é que quero ser guiada pela minha própria cabeça dessa vez e ter meu próprio caminho.

- Está entregue senhorita Albani.

Uma boa sorte na apresentação viu.- o motorista me desejou ao parar o seu carro em frente a empresa.

- Muito obrigada, pela carona

e pelos bons desejos... Ahh, por

favor não me chame de senhorita,

o senhor sabe muito bem que pode me chamar de Suila.- disse a ela pela milésima vez.

- Me desculpe senh...quer dizer,

Suila. Sempre me esqueço, mas não vai mais acontecer.- ele se corrigiu me fazendo rir.

Me despedi dele, ele me desejou

boa sorte mais uma vez e em seguida sai do carro e entrei para a empresa de cabeça erguida, mas ao sentir o olhar de todos sobre mim confesso

ter sentido uma certa insegurança, mas não deixei me abalar e segui de cabeça erguida até o último andar.

- Boa noite senhorita Albani!

Trouxe seu chá... Ahh, a sala de reuniões já está pronta do jeito

que a senhora pediu. Os homens

já estão lá aguardando por você e

pela sua apresentação.- Andreia, a minha secretária, falou tudo de uma vez ao se aproximar de mim.

Estendi as mãos pegando meu

chá de camomila e bebi um pouco

dele pra vê se me acalmo um pouco.

Sei que mais cedo disso que estava tudo bem e que estava tranquila, mas agora tudo mudou.

- Nervosa?

- Um pouco, mas vai dar certo

tudo.- a respondi tentando soar de forma confiante.

Foi só o tempo de fechar a boca

e olhar para o lado que o Anthony

se colocou ao meu lado com aquele

seu sorrisinho frio e irônico... Sério, a última coisa que preciso hoje é do show de deboche do meu irmão.

- Preparada para seu grande dia?

Andreia deu seu jeitinho e saiu

de fininho assim que Anthony se aproximou da gente dando a desculpa de que iria levar minha pasta até a sala de reuniões.

- Claro que sim! Tenho certeza

que meu maninho veio me desejar

uma boa sorte.- tentei ser tão irônica quanto ele.

Anthony sorria até o momento,

mas seu sorriso sumiu no segundo

em que ele notou que dessa vez não iria cair no seu joguinho. Sei que ele só quer me desestabilizar, mas não vai conseguir.

- É engraçado como você consegue

tudo que você quer com esse seu jeito e se fazendo de coitadinha, inclusive, conseguiu ficar a frente da reunião porque todo mundo ficou com pena de você pela sua histórinha triste de vida.- ele ironizou minha situação.

Cheguei a abrir a boca para

responde-lo, mas quando comecei

a falar meu pai surgiu do meu lado me fazendo calar a boca rapidamente.

- Que bom que você chegou!

Os acionistas já estão na sala de

reuniões e estávamos esperando

por você para começar a reunião.

Você está pronta?- ele questionou-me.

Sei que tudo pode dar errado,

eu posso ficar nervosa na hora e

ter um ataque de panico, mas me sinto pronta e darei o meu melhor

pra que tudo flua da melhor forma possível.

- Sim, eu estou!

Meu pai me desejou boa sorte,

me deu um beijo na testa e ele

seguiu ao meu lado até a sala de reuniões... Ele tomou a palavra de início, contou um pouco sobre toda

a história da nossa empresa, fez uma pequena introdução sobre o nosso produto e depois ele passou a palavra para mim.

- Boa noite senhores! Como o

senhor Charles Albani falou, meu nome é Suila Albani e sou a chefe de market...- comecei a falar, mas no meio da frase fui interrompida por uma voz impetuosa que tomou conta de toda a sala.

- Você quem vai apresentar

a reunião?- um homem fez a

pergunta, e ao seguir o som de

sua voz encontrei olhos negros que

me fizeram petrificar.

No centro da mesa há um

homem que faz jus ao lugar

que ele ocupa, só os seus olhos

já são capazes de dizer o quão

poderoso ele é e sua expressão de

oponente também ajuda. O homem

apesar de estar sentado aparenta ser alto, seu corpo é forte, mas não é nada bruto ou grotesco, sua pele é clara, ele é bardudo e em seu rosto há algo que me deixa hipnotizada.

- Sim!- o respondi tentando

não demostrar meu real estado.

Ele me olhou como se eu

estivesse acabado de dizer

alguma besteira e sua reação

me deixou tão confusa. Por que

dessa sua reação?

- Me desculpem, mas sou um

homem sério e não posso perder

meu tempo com besteiras!- O tal homem exclamou e só pelo jeito que ele me olhava entendi o que ele queria dizer.

Ele não quer me ouvir porque sou mulher... Ele acha que eu não capaz!

Filho da mãe!

- O senhor acha que não sou capaz

de apresentar um produto a vocês por conta do meu gênero?- o questionei já me sentindo péssima, sentindo muita raiva.

- Sim! No meu país as mulheres

não costumam falar, então para mim isso não é algo confortável... Quero ouvir alguém capaz!- o filho de uma mãe bateu na tecla.

A véia do meu pescoço começou

a saltar de tanto ódio, minhas mãos começaram a soar e tive vontade de xinga-lo de todos os nomes possíveis.

- Não acreditou que estou tendo

que ouvir um absurdo desses em pleno século vinte e um... Meu Deus!

Ao notar todo o desconforto deles,

a minha ira e o climão que havia na sala o oportunista do Anthony logo se pés de e veio até mim.

- Acho melhor eu seguir com a reunião, esses homens não vão

querer te ouvir falar... E só você

me passar todas as suas anotações

dou continuidade em tudo.- Anthony previsível como sempre disse tudo o que esperava.

Me preparei para isso por meses, abdiquei de tanta coisa e dei meu sangue por esse momento para ele ser tirado de mim... Não é justo!

- Se for para ouvir uma mulher

falar prefiro abrir mão de fazer negócios com essa empresa. Sou um homem sério e não tempo a perder!- O troglodita insistiu.

Ao ouvi-lo reafirmar seu papo machista me dei conta de que esse caso está perdido para mim e não irei me humilhar por ele, eu não preciso disso... Sei que sou capaz como todos os homens que estão nessa sala, não será um idiota qualquer que irá me derrubar com palavras torpes.

Olhei em volta fitando cada

pessoa que estava naquela sala,

mas ao chegar nele fiquei por um

bom tempo paralisada e uma raiva misturado com um sentimento muito estranho se fez presente dentro do meu coração.

- Com licença!- disse olhando diretamente para ele e sai da sala

sem querer ouvir mais uma palavra se quer.

Hoje era para ser um dos dias

mais inesquecíveis da minha vida, e olha no que deu.

- Já acabou a reunião? Conta logo como foi... Tenho certeza que você arrasou!- Andreia surgiu do nada na minha frente sorrindo de orelha a orelha.

Agora vai acontecer tudo o que

eu mais temia, todos vão chegar para me perguntar como foi a reunião e não tirei ao menos uma resposta para dar, porque não cheguei completar uma frase se quer... Tudo por culpa daquele homem maldito!

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