
Resumo
Helena não acredita que o amor descrito nos livros possa existir, ou melhor, seu romance se tornou dramático depois que ela se separou de seu primeiro amor. Apaixonada por escrever, ela agora vive em um bloqueio total: do escritor, do leitor, do amor. Tudo está parado desde que Demian e o rompimento de seu relacionamento destruíram sua inspiração. Mas há muitos livros, além de histórias de amor, e um livro, seu favorito, será abordado pelo garoto taciturno da aula de redação: Bestian Gasty. Eles têm várias coisas em comum: a paixão pela escrita, a paixão pela leitura, um ex - nesse caso, seu melhor amigo - e a falta de inspiração. - Você gostaria de ler o livro junto com ele, poderia me ajudar?", pergunta ela por sugestão do professor Collins. Helena aceita, embora esse livro - que tem Noah e Any como protagonistas - tenha um valor para ela que vai além das páginas amareladas. Um valor que ela guardará para si mesma. Quem é Loe para Helena, e quem será Any para Bestian? Será que o romance coincidirá com o livro de sua vida ou sempre haverá uma flor cheia de vespas em seu caminho? - Qual é a flor que você mais gosta? - E isso? Será que esse será o ponto em comum entre eles?
Capítulo 1
Helena
— Helena, eu já te disse que não me sinto bem. Pare de me ligar. Necessito de um descanso. -
- Um descanso? Mas o que você está dizendo? Não somos do tipo que faz uma pausa e reflete. -
— Sim, é verdade, mas as coisas mudaram. -
- A causa? A distância? Prometemos a nós mesmos que iríamos superar isso. Posso fazer-lo. Você? Você não quer? -
Ele ficou em silêncio por um momento. “Repito, Helena, não me sinto bem. Então não, não estou com vontade de superar nada. Estou saindo agora. Não me ligue, por favor. -
Era esse o final que você queria? Se eu soubesse há cinco meses que este livro terminaria assim, também não o teria comprado. O problema, porém, é que não era um livro qualquer. Foi o livro da minha vida. A última conversa entre meu ex e eu.
Eu teria preferido ser o guerreiro de um livro de fantasia onde o vilão muda e faz tudo por amor. Mas não: eu tinha que ser protagonista de um romance chorando pelo leite derramado – no caso um chocolate quente – em frente a uma mesa na menor livraria de Londres, na Bloomsbury Square.
Imaginei a cena descrita pelo escritor:
Helena, após o rompimento, retorna à antiga livraria do bairro, onde as duas se conheceram. Ele relê as falas de seu livro favorito, que compartilhou com seu primeiro amor.
Arrependa-se disso. Eu poderia acrescentar.
Ele olha sonhador para a janela banhada pelas gotas de chuva em um dia frio de outubro. Ele pode parecer despreocupado aos olhos de quem olha para ele e não sabe, mas na verdade a chuva está dentro do seu coração.
Uma tempestade o dividiu em dois.
Aquela tempestade tem nome e sobrenome, e o que desgasta Helena é que ela não sabe quando poderá ver o sol novamente.
Eu adoraria conhecer o autor desses capítulos tristes. O que eu fiz com você para merecer um final tão dramático?
- O que você está lendo? -
Eu sinto que conheço essa voz.
Parei de assistir uma gota competir com outra para descobrir quem estava interrompendo minhas fantasias: era Bestian Gasty.
Sim, essa era a voz dele. Sempre gostei dele, principalmente quando recitava seus poemas. Era quente e doce, como o chocolate fumegante que ele me forçou a beber.
Você deve responder e tentar ser interessante. Por que você quer estar nos olhos dele? Apenas responda.
- Hey Olá! “Isso é...” Eu tinha falado sobre isso na aula há uma semana, mas tinha certeza que ele não se lembrava. —É um romance de fantasia. -
Procurando uma desculpa para deixar pela metade, hoje deixei a xícara na mesa. Era pequeno para duas pessoas, destinado a quem queria ler em paz, mas Bestian puxou uma cadeira mesmo assim e sentou-se à minha frente.
- Pode? —Ele estendeu a mão em direção às páginas do livro. Ele usava três anéis. Adorei os anéis, os seus. E suas mãos também.
“Sim, claro”, respondi. Peguei o marcador e fechei para entregá-lo a ele.
—Você não vai errar o alvo? —perguntou ele, assim que sua mão tocou a capa dura daquele livro que havia me amaciado.
—Mh, não… eu sei quase de cor. — Sorri, quase inocentemente, mas havia retirado a placa por um motivo muito específico.
Não havia nada de inocente escrito naquela página, e deixar o garoto mais taciturno e charmoso da turma saber o que uma garota aparentemente inocente estava lendo na frente das pessoas não estava nos meus planos.
— Academia... — leu o título. —Este é o seu livro favorito, certo? — Ele olhou para cima, me atingindo com seus olhos da floresta: verdes e castanhos.
Lembrei-me, pensei antes de responder. — Sim, exatamente, é ele. -
Ele fechou o livro e eu estendi a mão para recuperá-lo. Eu estava com ciúmes disso. Tinha post-its, frases destacadas, anotações escritas à caneta, indeléveis. Esse livro sabia muito sobre mim, para Bestian Gasty eu era um estranho, apesar dos quatro anos de curso que frequentamos juntos. Ele nunca tinha dito uma palavra para mim.
Ele segurou-o com força, então recuei imediatamente, esperando que ele não tivesse notado o gesto. Suas mãos acariciaram a capa bege, desbotada pelo tempo, até parar nas páginas laterais: a ansiedade explodiu num instante ao tocar em alguns post-its.
“Escolha-os com cuidado”, continuou ele. —São da mesma cor da capa. Mesmo que a sobrecapa esteja faltando. -
— Culpado — eu ri. — Detesto ler com sobrecapa, então guardo em casa para não estragar. -
Não toque nas notas adesivas.
Não toque neles, por favor.
Ela olhou para baixo e seu cabelo grosso e ondulado caiu em seus olhos. Ele sorriu. Quando ele sorriu, seu queixo tremia porque seu rosto era tão fino quanto o de um personagem de Tim Burton e ele parecia estar descascando cada camada extra de pele.
—Temos uma coisa em comum. -
- Que queres dizer? — Posso ter mais alguma coisa em comum com esse menino além da paixão pela escrita e pela leitura?
—Eu também tiro a sobrecapa. — Ele colocou o livro sobre a mesa e eu suspirei de alívio porque ele deixou aquela pilha de páginas e anotações pessoais demais em paz. —Embora eu ache que ela é linda. É? — .
— Você é daqueles que julga um livro pela capa? Levantei as sobrancelhas, pronta para julgá-lo pessoalmente se ele me desse uma resposta positiva.
— Sim, eu sou esse cara. Ou talvez não, quem sabe. Em sua opinião? —Ele apoiou os cotovelos na mesa, pronto para o interrogatório.
Sim... como era Bestian Gasty? Seus poemas diziam muito sobre ele, assim como seu silêncio.
A capa de um livro é silenciosa, não pode dar valor a um livro, mas chama a atenção. Você compra o livro, talvez nem tenha gostado do conteúdo do final do jogo, mas pelo menos ele acrescenta beleza à sua estante. Mas o que resta? Apenas a estética, que nada tem a ver com as emoções que o interior de um livro pode transmitir.
A capa do Bestian é muito bonita, mas o que tem dentro? Quem é ele realmente?
— Eu diria que te conheço muito pouco para entender que tipo de pessoa você é. -
Ele deu uma boa olhada no meu rosto, como se estivesse me notando pela primeira vez em anos. Eu me pergunto se você gosta da minha capa. —Então teremos que consertar isso. -
Minha tentativa de parecer falante com o garoto taciturno na aula de redação falhou miseravelmente depois daquela frase.
— Escute... — Ele preencheu meus vazios.
—Professor Collins sugeriu que lemos um livro juntos porque ele acha que não consigo interagir muito com as pessoas. — Notei alguma dificuldade ao dizer isso em voz alta. —Ele diz que assim também bloqueio minha escrita e que não consigo expressar o que realmente quero porque não presto atenção nas pessoas, na sua maneira de falar, de se mover, de reagir. -
Estudando seus movimentos, eu o teria descrito como menos confiante que o normal. Quase parecia vergonha.
—Você gostaria de ler este livro?
Comigo? -
Ele usou exatamente a mesma frase. - Você quer ler este livro? —Por que repetir se entendi bem? Estou protelando?
- Só se quiser. -
Seus olhos pararam de olhar para os meus. Eu não sabia o que ele tinha achado mais interessante nas minhas costas, mas também resolvi prestar atenção em outra coisa: os post-its entre aquelas páginas.
É apenas um livro. - Claro, sem problemas. — A curiosidade de saber mais sobre seu enredo, além da capa, me intrigou.
—Effy, olá, como você está? -
Esta voz. Eu teria reconhecido esse um em mil. Voltei-me para o balcão da cafeteria e descobri que o problema havia entrado na livraria. O que ele está fazendo aqui?
Como dois ímãs opostos, suas íris grudaram nas minhas. A boca do meu estômago começou a tremer. Foram os dois segundos mais longos da minha vida.
De repente, porém, seus olhos frios mudaram de visão e colidiram com os de Bestian. Ela assentiu e ele retribuiu o gesto. Nada mais.
Bestian nem sempre foi um solitário. Ele tinha um amigo, ou melhor, quase um irmão. Eles cresceram juntos e ninguém jamais pensaria que eles seriam separados.
Porém, isso aconteceu antes de Demian e eu nos conhecermos. Apenas uma vez perguntei a ele o que havia acontecido e quando ele respondeu: “Não quero falar sobre isso”, eu sabia que precisava encerrar o assunto.
—Vocês ainda estão juntos? -
A voz de Bestian interrompeu o que os olhos do meu ex queriam me dizer. Olhei para ele novamente. Eles me lembraram mais o outono do que o inverno. - Não. -
- Bom. - Bom ? —Então te vejo aqui amanhã no mesmo horário? -
- Sim, claro. - Não há caminho de volta.
Ele se forçou a se levantar da cadeira. Ele deu um passo em minha direção; Aquela mesa era muito pequena. Ele colocou a palma da mão direita sobre ele para se apoiar. Ele inclinou ligeiramente a cabeça para se aproximar do meu rosto. Não muito, ele conseguia respirar, sim, mas se respirasse só conseguia sentir o aroma dela; um aroma agradável.
—Você vai trazer a sobrecapa? ele perguntou baixinho.
- Eu não desgosto. Isso fica na minha casa,
seguro – brinquei, sorrindo para ele.
- Que pena. Eu teria gostado de ver isso. —Ele retribuiu o sorriso. Ele tinha um lindo sorriso. Sem frio. —Até amanhã, Helena. -
- Até amanhã. -
Eu o segui porta afora e tentei não me concentrar no lindo casaco azul da minha ex. Bebi o chocolate novamente, agora frio, como a voz dele.
— Um café correto com... —
Com creme e cacau em pó amargo.
— Com creme e cacau amargo em pó. -
Obrigado.
- Obrigado. -
Para você, Helena? Chocolate ao leite normal?
