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Capítulo 2 Viagem inesperada

Faz mais de uma hora que cheguei em casa e me tranquei em meu quarto. A Sol veio me visitar, mas não a recebi. Eu sei que ela não tem nada a ver com o que o irmão dela fez, mas mesmo assim quero ficar sozinha .

Sinto que meus olhos estão inchados de tanto chorar. Por quê ele tinha que fazer isso comigo? Era mais fácil dizer que não queria mais nada do que aprontar essa.

- Estela, não vai jantar? Por que você está assim? - diz minha mãe batendo na porta - Vamos, abra a porta para a mamãe e me conte quem te deixou assim, uh?

Minha mãe nunca foi boa em dar conselhos, nunca esteve presente quando eu precisei, e sempre está tentando encontrar um homem igual ao meu pai, o que é impossível .

Minha mãe e meu pai se separaram quando eu ainda era pequena. Minha mãe vivia saindo, e me deixando com a vizinha, enquanto meu pai trabalhava. Até que um dia, meu pai a pegou com outro homem, que na verdade era seu melhor amigo. Desde então não o vejo, já se fazem onze longos anos.

Meu pai era um cara legal. Ele vivia me dizendo para nunca desistir, e se um dia a vida me passase uma rasteira, era para me manter firme e continuar em frente. Sinto tanto sua falta... Ele nunca veio me visistar ou eu fui visita-lo. Pra falar a verdade, eu nem sei onde ele mora, apenas recebo cartas e presentes no meu aniversário.

-Vai, Estela. Abra essa porta! - por um momento esqueci que minha mãe estava na porta .

Me levanto e me arasto até a porta. Essa é a primeira vez que ela se importa com o que estou sentindo.

- Aí, pensei que você não abrirria! - diz adentrando no meu quarto .

Percebo ao vê-la vestida para sair, com um vestido vermelho decotado exageradamente, cabelos loiros soltos e uma maquiagem forte que deixa seus olhos azuis com mais destaque, que ela na verdade não se importa em como estou me sentindo, se estou doente ou com o coração partido.

- Filha, pare de me olhar desse jeito. Eu sei que estou arrasando! - diz sorrindo e eu apenas me viro e me jogo novamente na cama.

- O que você quer, mãe? - como se eu não soubesse.

- Bem ... Você sabe ...

-Mãr, pare de enrolar e fala logo! - sabe aquele momento que você não quer ver ninguém, mas sempre aparece alguém? Essa é sempre a minha mãe. Só aparece quando eu não preciso.

- Tem uma pessoa lá em baixo querendo falar com você.

- Se for o Pedro, diga que eu não quero ver a cara dele!

-Não é o Pedro. Se eu fosse você, iria ver quem é. Mas você é quem sabe... - diz soltando um beijinho no ar e me deixando curiosa.

Pode ser a Sol, por eu não te-la recebido, ela resolveu voltar novamente. Mas, e se minha mãe estiver mentindo? Não tenho mais amigos. Será que é a Pâmela? Mas, ela não teria motivos para vir aqui... a não ser, para esfregar na minha cara que pegou meu namorado, ou melhor, ex- namorado!

Olho para minha roupa, que consiste em uma blusa de moletom vermelha que chega a cobrir meu shorts branco.

- É... Não está feio. Além do mais, eu estou na minha casa- digo saindo do quarto e descendo as escadas.

Escuto vozes de homens na sala, o que me deixa meio insegura. Será que é alguém que minha mãe trouxe? Não seria o primeiro, mas são várias vozes. O que será que minha mãe aprontou dessa vez?

Entro na sala e vejo três homens de costas para mim. Eles estão olhando pela janela, que proporciona a vista panorâmica do lugar em que moramos.

- É... quem são vocês? - assim que termino a frase, todos se viram e me encaram. Mas quando reconheço a pessoa do meio, meu coração acelera e lágrimas se fazem presentes em meu rosto.

-Papai?...- digo correndo e sua direção.

Eu o reconheceria em qualquer lugar, sua aparência está a mesma de antes.

- Minha filhota... - diz ao me abraçar e depositar um beijo na minha testa. Ficamos abraçados por alguns minutos - É, você cresceu! - diz se afastando.

Olho para os outros homens que o acompanhavam, nunca os vi antes.

Um deles é moreno e seus olhos verdes, e está usando uma calça jeans e uma blusa fina azul. E, mesmo por cima da blusa, eu posso ver seus músculos bem definidos.

O outro cara é bem mais velho que meu pai. Seus cabelos estão quase todos tingidos de branco. Mas mesmo assim, igual ao outro rapaz, seus músculos são bem definidos. Está vestido com um paletó de cor escura e uma camisa salmão por baixo.

- Senhores, essa é minha filha, Estela Brancy- diz meu pai apontando em minha direção.

- Olá! - digo meio envergonhada por estar sendo encarada por ambos.

- Olá.. é um prazer finalmente conhece-la - diz o moreno estendendo sua mão em um gesto de cumprimento - ... Eu sou Gastón, esse é o Paulo.

- Olá, Estela! - diz Paulo, também me cumprimentando - ... Seu pai falou muito a seu respeito.

- Espero que tenha sido bem! - digo tentando disfarçar que estou envergonhada. Devo estar toda inchada de tanto chorar.

- E então, filha. Como andam as coisas? - diz meu pai ao se sentar - Lembro que na última ligação, sua mãe disse que você havia começado a namorar.

Oi?! Perai, ele ligou pra minha mãe e nem me avisou? E como assim ela sai falando da minha vida amorosa para todo mundo? ... Olho em diração a escada, mas ela não está mais lá, deve ter saido e eu nem percebi.

- B...bem... e... eu...- como eu vou dizer isso? só de pensar dá vontade de chorar- Eu... eu e o Pedro... terminamos - digo abaixando a cabeça e fitando minhas mãos.

- Oh, querida, eu sinto muito... - diz me abraçando- Quando foi isso?

- Hoje! - digo engolindo o nó que se forma em minha garganta.

- Hoje?! - percebo que todos me encaram. Que vergonha! eu nem conheço esses dois e eles já sabem da minha vida amorosa - O que aconteceu? Tem certeza que não é só uma briga de casal?

- Não, papai. Acabou... pra sempre - digo tentando ser forte, o que não adianta, já que as lágrimas jorram dos meus olhos.

- Ele quis terminar? - pergunta o cara chamado Paulo ... olho para o mesmo, que fica meio envergonhado por ser entrometido - ... Desculpe... eu não...

- Tudo bem, vocês já ouviram até aqui mesmo... Eu peguei ele... com... eu peguei ele com.... - é tão difícil falar - com outra!

Apenas foco meus olhos no chão e lá eles ficam. Ninguém se move e o silêncio predomina. Sinto que eles me fitam. Não quero que sintam pena de mim! Eu sou forte e vou passar por isso!

- Sinto muito, querida. Eu sei o que está sentindo, pois já senti isso. E eu sei que vai passar. - meu pai diz me confortando.

- Obrigada, papai... - digo lhe lançando um pequeno sorriso - Agora chega de falar de mim. E o senhor, quando veio para Torstal?

- Chegamos hoje de manhã. Você estava na escola, então decidimos só vir a tarde para ver como você estava. Vou ficar por aqui até depois de amanhã.

- Que bom... Porque nunca ligou para saber como eu estava? Você fez tanta falta!

- Oh, meu anjo. Eu ligava, mas sua mãe não queria que eu falasse com você...

- Por que? - digo lhe interrompendo.

- Medo que você a deixasse ...

- Ela não tinha esse direito!

- Não fique brava com ela... Ela só queria que você ficasse com ela, e eu respeitei isso. Ela só tem você...

- Ela tinha muito mais, mas jogou fora .

- Ok. Agora vamos falar de falar de assuntos tristes e vamos por o papo em dia... O Gastón mora comigo lá nas colinas. Desde que eu fui pra lá, ele tem sido como um filho. O Paulo é como um irmão, conheceu você assim que nasceu...

Ambos olharam pra mim. Parece que meu pai os trata como da família mesmo. Mas também, a única família dele sou eu.

- Que tal amanhã nós saírmos para tomar um sorvete? - fala Gastón olhando para meu pai .

- Claro! Ótima ideia. Assim damos uma volta e conhecemos a cidade.

- Combinado então! ... Depois da escola, vocês podem me buscar.

Assim ficou certo de sairmos amanhã. Conversamos sobre várias coisas aleatórias. O Gastón e o Paulo parecem ser boas pessoas afinal.

Estou deitada já fazem mais de horas e o sono não vem. Liguei para Sol, mas ela não me atendeu. Espero que o Pedro tenha contado pra ela...

É tão difícil ter que me acostumar a estar sozinha novamente. Não que isso seja chato, mas é que ainda dói saber que eu fui traida assim como meu pai. Não sei... acho que está na hora de colocar na minha cabeça que contos de fada não existem. Apenas pesadelos.

***

Acordo de manhã e tomo um banho para mandar o sono ralo abaixo. Coloco o uniforme e desço as escadas. Escuto conversas na cozinha... Acho que não foi um sonho. Adentro a mesma e encontro meu pai e os outros dois homens tomando café da manhã.

- Bom dia! - digo entrando com um enorme sorriso no rosto - Pensei que havia apenas sonhado com vocês...

- Mas não sonhou, mocinha. Isso é real! - diz meu pai me abraçando - Tome seu café da manhã e vou te levar pra escola. Tenho alguns assuntos a tratar por aqueles lados... então te dou uma carona.

Apenas confirmo com a cabeça. Esse dia vai ficar marcado... Eu sempre quis ter meu pai para me levar na escola ou passear. E agora, mesmo que por um dia, eu vou tê-lo.

Estamos a caminho da escola. Estou atrás com o Gastón e na frente meu pai está dirigindo e o Paulo no carona.

- Papai... e se eu faltasse hoje?! Assom poderíamos ter o dia só nosso. Eu nunca falto, então não teria problema...

- Não, Estela. Você tem que ir para a escola. E mesmo assim não daria. Tenho que resolver uns assuntos e levará a manhã toda. Meio dia venho te buscar, ok?

- Claro... Mas, eu preferia faltar mesmo assim. Não quero ver a cara do Pedro.

- Estela... pelo que eu vi ontem, você é bem confiante! Mostre pra ele que você não vai sofrer por alguém que não merece suas lágrimas. - Gastón diz me encarando e me surpreendendo com suas palavras.

- Viu só? Escute o Gastón... - diz meu pai me lançando um sorriso.

- Ok, vocês me convenceram! - digo descendo do carro assim que chegamos.

Assim que desço, percebo que vários alunos me encaram. Tipo, eu sou uma garota nada popular e estou descendo de um carro lindo com mais três homens e o mais bonito veio atrás, ao meu lado. É, eu não deveria ter aceitado a carona.

Apenas começo a andar sem olhar para qualquer lado. Que vergonha! ... E assim que estou perto da porta de entrada:

- Estela... Estela!... - ouço meu nome, me viro e vejo Gastón correndo no meio do pátio, vindo ao meu encontro.

Ele é muito bonito e só agora eu percebo isso. Várias garotas estão babando no mesmo. Sinto meu rosto esquentar assim que Gastón se aproxima e eu viro o centro das atenções.

- Você esqueceu seu celular no carro - diz me entregando o aparelho.

Só agora percebo que realmente havida o esquecido.

- Obrigado... Gastón - digo meio envergonhada.

- Por nada. Nos vemos mais tarde! - diz correndo novamente para o carro.

Assim que eles se vão, as meninas correm até mim. O que eu fui fazer?? Elas me fazem perguntas do tipo: Quem é ele? É seu irmão? Vocês estão saindo? Qual o nome dele? E a idade?

No fim, acabo não dizendo nada. São muitas perguntas e elas não me deixam falar. Apenas observo e torço para que o sinal toque.

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