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Capítulo 1: Infância perdida.

{Narrador}

Em uma casa confortável localizada no continente de Zerolar, um garoto de cerca de doze anos, com cabelos brancos com pontas pretas e orelhas da mesma cor, estava tentando ensinar um bebê de dois anos a andar. Ambos estavam na varanda da casa, mas como essa era sua área natural, sentiam pouco frio. O filhote de cabelos brancos com mechas azuis e orelhas da mesma cor era muito esforçado, o que deixava seu irmão mais velho muito orgulhoso dele.

— Isso, Seber, um passo de cada vez. — Disse o garoto com os braços abertos em direção ao pequeno, seus olhos castanhos brilhavam em conjunto com seu sorriso pontudo e radiante. A cauda branca com pontas pretas e uma linha da mesma cor balançava levemente, demonstrando a satisfação de Hiama.

A criança caminhava devagar, tentando manter o equilíbrio, sempre com um sorriso adorável com covinhas no rosto de bochechas gordinhas e coradas. O pequeno Seber começou a dar passos mais rápidos enquanto balançava sua cauda branca e azul-claro. Quando chegou ao irmão mais velho, quase pulou em cima dele, gargalhando de alegria.

— Muito bem, maninho! — Hiama abraçou o filhote e levantou-o nos braços antes de entrarem juntos em casa.

A mãe dos dois meninos estava na sala de estar assistindo ao programa "Mais Você", apresentado por Ana Maria Braga. Helena era uma alfa lúpus com uma estatura de 1,90m de altura, cabelos brancos com mechas azuis, olhos castanhos com pupilas finas e pele branca. Ela olhou com um sorriso para as crianças, pegou Seber no colo e Hiama sentou-se ao seu lado no sofá. A alfa lúpus acariciou as orelhas dos lobinhos, algo que eles adoravam.

— Mamãe, eu consegui fazer o Seber andar 10 passinhos hoje! — Revelou o jovem de olhos castanhos, olhando alegremente para sua mãe, com uma expressão doce e meiga enquanto balançava sua cauda. Isso era algo raro de se ver, um alfa lúpus sendo doce ou meigo com os outros.

— Que bom, minha fofura! Fico feliz que esteja tão empenhado em ajudar seu irmãozinho. — Helena bagunçou os cabelos e as orelhas do pequeno lúpus, que não gostou nada disso, acabando por inflar suas bochechas. O alfinha Seber só conseguia rir e bater palmas, pedindo por mais bagunça. — Ah, olha como ele é fofo, não é mesmo, Seber? — Ela olhou para o mais jovem albino, vendo seu sorriso com covinhas e seus olhinhos brilharem.

— Para, mamãe! Eu não sou fofo, sou sedutor. — Afirmou o menino ao afastar a mão de sua progenitora de seus cabelos para fazer uma pose de galã de novela. — Viu? — Perguntou, mas logo parou de encenar quando as risadas de Helena começaram.

— Ahahahaha! Parece mais um galã da deep web, hahaha! — Zombou a alfa, até sentir dores no estômago de tanto rir.

— Humpf, eu sei que sou bonito. Não preciso da opinião dos outros! — Declarou o menino, enquanto suas orelhas se inclinavam para trás. Ele bateu o pé no chão, empinou o nariz e se dirigiu ao quarto dos pais.

Hiama foi procurar seu pai ômega para contar-lhe sobre a zombaria de sua mãe, mas não o encontrou no cômodo. Então, farejou o local, percebendo que os doces feromônios de Saturn estavam cada vez mais fracos. Lembrou-se que seu pai havia saído há três semanas, sem dar nenhuma informação sobre onde iria. Apenas disse a Helena para não procurá-lo por um tempo, pois, segundo o ômega, ele voltaria para casa. Seu pai costumava fazer isso frequentemente, e já havia acontecido antes, antes do nascimento de Seber.

— Mamãe, onde está o papai? — Perguntou o pequeno lúpus com tristeza na voz, enquanto encarava sua mãe com os olhos levemente marejados. — Ele nos abandonou? — Questionou, sentindo uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha.

— Não, meu amor! Seu pai saiu a trabalho. — Mentiu Helena, tentando acalmar o filhote. Ela puxou-o para si e o abraçou, acalmando-o um pouco com seu forte cheiro de alfa.

— Ma... Ma... — Era a voz do filhote de olhos verdes tentando chamar a atenção da mãe. Ambos olharam espantados para Seber, o qual levou um pequeno susto pela ação dos mais velhos.

— Olha, mamãe! Seber falou, ele falou! — Hiama saltitava de alegria, enquanto secava seu rosto um pouco úmido pela lágrima solitária.

— Meu Acan do céu! Fala de novo, filho! — Helena estava eufórica, assim como o filho mais velho. Ela colocou o pequeno alfa sentado no sofá. — Vamos lá, Seber, fala: 'mamãe'. — Ela balançava a cauda animadamente com Hiama.

— Não, maninho! Fala: 'irmão'. — Falou de maneira competitiva, sorrindo travesso para a mãe, que estreitou os olhos fingindo estar emburrada.

De repente, os três ouviram um ruído vindo da porta principal e viram Saturn entrar normalmente. Hiama correu para abraçar o homem, que media 1,71 metros de altura, tinha cabelos castanho e branco, pele bronzeada e olhos laranja. A alfa da casa olhou irritada para o marido. Embora sentisse vontade de socá-lo, ela nunca o faria, pois o amava, apesar das falhas de Saturn.

— Papai! Senti tanto a sua falta! — Exclamou o filhote, abraçando fortemente a cintura do ômega e balançando sua cauda de forma eufórica. Ele percebeu os doces feromônios do homem e ronronou feliz.

— Eu também senti a sua falta, assim como a da mamãe e do seu irmãozinho — Respondeu Saturn, pegando o filhote no colo e dando-lhe um beijo carinhoso na bochecha antes de colocá-lo no chão para pegar o outro.

Ele segurou Seber, que pulava alegremente no sofá, e abraçou o filhotinho que balançava sua pequena cauda enquanto inalava o doce aroma relaxante do pai. A mulher albina abraçou com força o ômega, Saturn surpreendeu-se, porém retribuiu o ato logo após sentiu Hiama abraçã-lo novamente. Assim, formando um lindo abraço em família.

Bem, isso era o que eu pensava antes de tudo aquilo acontecer.

...

A noite chegou silenciosamente acompanhada de uma forte nevasca. Já eram 22h55min. Os filhotes se preparavam para dormir. O mais velho, que era albino, tomou banho junto com o irmão mais novo, escovou os dentes e repetiu o processo com o irmãozinho. Em seguida, Hiama vestiu seu pijama com estampa de gatinho, enquanto Seber recebeu a ajuda do pai para colocar sua roupa de dormir.

— Boa noite. — Despediu-se Saturn enquanto dava um beijo na testa de cada criança, cobrindo o pequeno lúpus na cama e o alfinha comum no berço.

Em seguida, o ômega deixou o quarto das crianças e foi até a cozinha para conversar com sua esposa. Ele sentou-se à mesa em frente a ela e notou que Helena mantinha a cabeça baixa e as mãos sobre a superfície plana. Parecia que ela iria receber uma bronca.

— Diga-me, o que exatamente você faz durante essas suas "saídas a trabalho"? — Questionou a fêmea com um semblante sério, algo que destoava de sua personalidade geralmente divertida e gentil. O homem ficou arrepiado dos pés à cabeça com o olhar penetrante e castanho que lhe era direcionado.

— Eu... transporto cocaína para Suãn... — Respondeu Saturno, evitando olhar nos olhos de Helena, por saber que ela perceberia imediatamente que estava mentindo, caso contrário.

— Não tente me enganar, Saturn! Suãn se localiza ao norte de Zerolar e levaria cerca de 29 dias para chegar aqui sem transporte aéreo! — Elevou seu tom de voz com irritação, batendo com o punho direito fechado na mesa, que tremeu.

— Você v-vai acordar as crianças. — Disse baixo, encolhendo-se na cadeira com medo da agressividade da esposa. O ômega olhou para a alfa e percebeu que seus olhos, antes castanhos, agora estavam amarelo vívido.

— Então, por favor, me diga: onde você vai quando passa tanto tempo fora de casa? — Perguntou Helena, mantendo-se ao lado de Saturn e encarando-o fixamente. Sua presença intensa parecia aumentar pouco a pouco, intimidando o marido. — Hein?! — Acrescentou, usando a Voz para tentar fazer o ômega falar.

— Eu não te amo mais, Helena. Eu tenho... outra família agora. — Declarou Saturn, soltando a "bomba atômica". Sua esposa expressou surpresa num primeiro momento, mas logo em seguida seu semblante mudou para ira.

— O quê? — Indagou ela, com a voz tornando-se fria e sombria, enquanto começava a rosnar inconscientemente, com as orelhas voltadas para trás. O lobo interior dela estava coberto de ódio, e a outra parte ansiava pela visão do sangue do ômega imundo espalhado pelo chão. No entanto, Helena conseguiu se controlar para não feri-lo, afinal, ela o amava profundamente. Todavia, é preciso reconhecer que tudo tem um limite, inclusive o amor.

A fêmea estava se afastando dele quando teve seu pulso agarrado com força. Helena então olhou por cima do ombro, seu olhar triste encontrando o de Saturn, que chorava com lágrimas escorrendo de suas orbes laranja. Helena grunhiu amargurada, sentindo que tudo aquilo estava acabando com seu coração e mente.

— Por favor, me dê um último beijo. — Disse Saturn com a voz embargada pelo choro.

Ainda segurando seu pulso, a alfa hesitou um instante antes de ceder ao pedido, unindo seus lábios num beijo melancólico. Não a julgo, somente os lúpus sabem a intensidade do amor que sentem por seus predestinado.

Mal sabiam eles que havia um certo lúpus albino os encarando com receio do que havia visto até aquele momento. Hiama observava tudo pela fresta da porta, aparentando estar com medo da mãe dele. Foi então que a lúpus e o ômega se beijaram pela última vez, antes de Saturn sugar a energia vital de Helena, fazendo-a cair sem vida no chão. Restou apenas um corpo seco e podre ali. O olhar do pai e filho se encontrou, um olhar doentio e vazio que provavelmente Hiama nunca esqueceria.

01/01/2020, 04h39min (presente).

O alfa lúpus acordou assustado com a lembrança horrível do passado. Ele arfava e suava, sentindo seu coração pulsar muito rápido. Suas orelhas lupinas estavam abaixadas e a cauda junto ao corpo. Era mais um pesadelo que Hiama tinha tido ao longo dos últimos 30 anos. Hoje, aos 42 anos e com 1,96m de altura, ele se tornara o primeiro-ministro de Zerolar. Apesar de ter se tornado um homem muito belo, Hiama também se tornara frio, teimoso, sério e insensível. É uma pena, contudo, o lúpus não possui um Amojak.

Já seu irmão Seber havia se tornado o líder mais novo do continente Zerolar, com 32 anos. Possuía uma estatura de 1,86m de altura e uma aparência tão bela quanto a do irmão. No entanto, a personalidade do alfa comum não era muito semelhante à do irmão mais velho: Seber era atencioso, sério, esforçado e um pouco extrovertido. Basicamente, essa é a definição do quinto líder mais forte de Dabascã, planeta onde habitam. Seu Amojak é Gelo Quente.

Este Amojak é capaz de produzir gelo através de seu próprio corpo, porém trata-se de uma forma incomum de gelo, uma vez que apresenta coloração avermelhada em seu interior e pode explodir. O tempo necessário para que a explosão ocorra é de 5 segundos, sendo que quanto maior for o tamanho da pedra de gelo, maior será a explosão em massa e vice-versa.

Hiama levantou-se e dirigiu-se à sacada para abrir a porta. Observou o céu noturno, repleto de estrelas, e contemplou a aurora boreal que imitava suavemente as ondas do mar. Em seguida, inspirou profundamente o ar gélido da noite e expirou lentamente, criando vapor no ar devido ao intenso frio. Apoiando-se na barra de ferro, admirou a bela vista da muralha de pedra que cercava a Sede do Governo Suãnino, deixando apenas um enorme portão de metal carbyne na entrada, que estava coberto de neve, e a luz tênue da lua crescente aperfeiçoava a paisagem. Hiama bufou, passando a mão nos cabelos e deixando-os arrepiados. Em seguida, disse para si mesmo:

— Daqui a pouco, tudo começa de novo.

Continua...

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