TEMOS QUE IR!
Sem outra opção naquele momento, Kael, resignado e ferido no corpo e na alma, permaneceu na pequena cabana de Lyra. Jurou que, assim que suas feridas cicatrizassem, partiria sem olhar para trás. Enquanto isso, ela, com o coração dividido entre a dor e uma alegria silenciosa por tê-lo por perto, levantava-se ao amanhecer para cumprir seus deveres como serva no castelo da matilha.
Naquele dia, ela foi designada para limpar bem ao lado do escritório de Mirkay, o irmão mais novo de Kael. O mesmo traidor que incitara a matilha contra seu Alfa, manipulando e corrompendo para tomar o poder. De dentro do escritório, risadas ecoavam com arrogância. Mirkay brindava com Jordan, seu cúmplice mais próximo.
Lyra, com a vassoura na mão, fingia varrer o chão, embora na realidade seus ouvidos estivessem atentos.
«Pobre tolo!» Mirkay riu, cheio de escárnio. «Foi tão fácil. Ele me confiou tudo, como o idiota sentimental que sempre foi.»
A explosão de risadas ecoou no corredor, risadas tão cheias de desprezo por aquele que um dia foi o Alfa. E Lyra, cerrando os punhos, sentiu algo dentro de si começar a despertar.
«Ele nunca imaginou que você seria capaz de destroná-lo. Mas tome cuidado, meu amigo», Jordan alertou, baixando um pouco a voz. «Seu irmão é um Alfa forte. Estou convencido de que ele voltará. Os servos o viram escapar para a floresta... Kael ainda está vivo.»
Mirkay soltou uma gargalhada estrondosa, revirando os olhos arrogantemente.
«Isso não me preocupa. Ele está gravemente ferido; não irá longe. E eu já movi meus pauzinhos», disse ele, em tom venenoso. «Desta vez, ele não escapará. Eles arrancarão a cabeça dele, e com ele, qualquer esperança de alguém vir disputar este trono... um trono que eu conquistei com inteligência, um trono que será meu para sempre.»
Ele ergueu seu copo com um sorriso malicioso. Jordan brindou o dele com entusiasmo.
Do corredor, Lyra mal conseguia conter o tremor nas pernas. O que acabara de ouvir gelou seu sangue. Ela deu um passo para trás, pronta para correr, mas ao fazê-lo, a vassoura caiu a seus pés com um baque surdo que quebrou o silêncio.
O som alertou Mirkay, que imediatamente virou a cabeça. E a encontrou.
«Bem, o que temos aqui?» ele murmurou ironicamente ao vê-la. «Ora, ora... se não é a pequena Ômega que sempre olhou para meu irmão como se ele fosse um deus.»
Seus olhos a percorreram com desprezo, mas também com desejo. Lyra, paralisada, baixou o olhar, sem saber como escapar.
«Como é saber que o homem que você ama está prestes a morrer?» ele sussurrou cruelmente.
Lyra empalideceu, sua voz presa na garganta. Sentiu o coração bater violentamente, ameaçando se partir.
«Senhor... eu... eu não sei o que o senhor quer dizer», ela gaguejou, temendo que suas palavras a condenassem.
Mirkay se aproximou com passos lentos e predatórios. Ele pegou o queixo dela entre os dedos, forçando-a a levantar o rosto. Ao ver seus olhos grandes e úmidos, sua beleza pura e sedutora, sentiu um impulso primitivo. Suas pupilas dilataram e seu olhar se tingiu de um assustador vermelho escarlate.
«Lyra, Lyra! A pequena Ômega... Como você é linda», Mirkay disse com um sorriso distorcido que fez a pobre garota se arrepiar. Jordan ergueu as mãos em resignação, lançando ao Alfa um olhar cúmplice.
«Estou indo, irmão. Aproveite sua... 'festa'», disse ele antes de sair do escritório.
Lyra balançou a cabeça, ainda tremendo.
«Eu... eu tenho que ir, senhor.»
Mas os olhos de Mirkay já estavam fixos nela como facas. Se seu irmão moribundo não soubera valorizá-la, ele certamente o faria... à sua maneira. Com um olhar aceso de desejo perverso, ele avançou como um predador.
«Venha aqui, pequena. Se Kael não a fez se sentir mulher... eu farei questão de fazê-lo.»
«Não! Espere... o que você está fazendo?» Lyra recuou, mas ele foi mais rápido. Ele agarrou seus braços e a puxou para si violentamente, forçando-a a sentir sua respiração e sua força. Seus lábios ásperos e pesados se chocaram contra os dela.
Ela se debateu, chutou, lutou desesperadamente. Embora fosse forte, não conseguia igualar a brutalidade daquele lobo enlouquecido que afiava suas presas a cada tentativa de Lyra de resistir.
«Você será minha, Lyra! Você não pode resistir», ele rosnou, sua voz baixa e perigosa.
Suas mãos a apalparam sem piedade. Repulsa e desamparo se misturaram no peito de Lyra até que, desesperada, ela conseguiu arranhar o rosto dele com toda a força que lhe restava.
«Maldita seja!» Mirkay rugiu, o arranhão queimando em seu rosto.
A fúria irrompeu. Com um golpe, ele a derrubou. O punho de Mirkay quebrou a boca dela e Lyra caiu no chão, sangrando e com dor. Mas ela não cedeu. Com um chute, ela o fez tropeçar. Foi sua única vantagem, mas durou apenas segundos.
Ele avançou novamente, agarrou-a pelos cabelos e a arrastou para seu corpo, prendendo-a. E então, ele a atingiu com uma cabeçada, quebrando o nariz da mulher indefesa, e o sangue fluiu ainda mais violentamente. Lyra estremeceu de medo.
«Ah!» ela gritou, impotente para se libertar.
Mirkay não parou. Ele estava possuído pela crueldade, pelo desejo de destruição. Não ouvia nada além de sua própria respiração enlouquecida, ignorando os gemidos de Lyra, que, embora completamente espancada e destroçada, continuava a lutar.
E justamente quando Mirkay estava prestes a arrancar suas roupas, Lyra conseguiu agarrar o cabo da vassoura. Com a força desesperada de uma Ômega encurralada, ela lhe desferiu um golpe brutal na cabeça. O impacto ressoou surdamente, e o corpo do Alfa caiu no chão como um saco de carne inerte.
Sem perder um segundo, Lyra correu para fora do castelo. Ela sabia que tanto sua vida quanto a de Kael estavam por um fio.
Ela abriu a porta da cabana violentamente, e Kael, percebendo seu cheiro alterado e o rastro inconfundível de sangue, imediatamente se sentou. Ele franziu a testa, alarmado.
«O que diabos aconteceu com você, Lyra? Você está ferida?», ele perguntou, com um tom um tanto preocupado, surpreendendo-a. Mas não havia tempo para explicações.
«Temos que ir, Kael. Agora.»
«O quê?» ele gaguejou, ainda atordoado, guiado pelo cheiro dela.
Lyra foi até o guarda-roupa, abriu a porta com força e enfiou as primeiras coisas que encontrou em uma mala: documentos, algumas roupas, itens essenciais. Em seguida, abriu um baú escondido e pegou todas as suas economias. Ela havia trabalhado por anos esperando pagar a faculdade, mas agora, tudo o que importava era a sobrevivência.
«Vamos, Alfa!» ela disse com determinação, pegando o braço dele.
Kael grunhiu de dor, sentindo algo sombrio no ar, mas ele a deixou guiá-lo. Ela o ajudou a entrar no carro, fechou a porta e o ligou com força. O motor rugiu enquanto eles deixavam a cabana para trás.
Mas eles não haviam ido longe quando, pelo retrovisor, Lyra viu as luzes de vários carros se aproximando; eram os soldados do castelo se aproximando.
