ERA PRA SER UM ROMANCE

Você já teve um sonho maluco daqueles que, quando você conta pra alguém, a pessoa ri e fala: "Você é louca?" ?

Eu tenho um.

O meu é o maior sonho do mundo. Até mesmo pra alguém com 1,60m como eu.

Meu sonho é casar com Arthur Flynn.

Eu tenho milhões de pôsteres dele. Cadernos, canetas, toalhas, garrafinhas, copos, chaveiros, blusas, bonés, faixas, pulseiras, sapatos, adesivos e, você entendeu.

Eu sou fã dele e nosso casamento está mais próximo do que se imagina.

Louca eu? Por quê?

Só porque ele é o maior astro adolescente da atualidade?

Só porque tem um milhão de garotas - e garotos também - querendo a mesma coisa?

Eu sei que toda garota tem seu amor platônico na adolescência e, quando cresce, vê que era só uma paixãozinha besta. Mas não é o meu caso.

Na-na-ni-na-não.

Eu posso não ser alguém tão persistente. Posso não lutar por todos os meus sonhos.

Mas este eu tenho certeza. Certeza absoluta.

Eu serei a senhora Flynn.

Então, como boa argumentadora que sou, reúno todos os prós de uma viagem de 3 meses para Los Angeles. Organizo tudo em pastas, com valores, programações, objetivos educacionais e tudo mais que convença meus pais de que esta é a melhor opção para as minhas férias.

Visto meu melhor terno azul marinho, aquele que me deixa com cara de CEO. Pego os dois sentados assistindo um documentário e quase morrendo de tédio. Eles fazem isso pra tentar serem mais adultos? Até parece que eu não conheço os dois, né?! Coitadinhos, tão quase dormindo.

— Estamos aqui hoje para estudar a proposta de Maria Alice. - Entrego uma pasta para cada um. — Nas primeiras paginas vocês verão autorizações e programas de viagens, isso só será necessário posteriormente. Pulemos para página 12. Como sabem, a senhorita Alice sempre preza pela sua educação. Então, nada mais justo que, antes de iniciar seu último ano escolar, ela tenha experiências educacionais em outra cultura. Os benefícios são inúmeros e cada um deles está descrito nas próximas 4 paginas. Sem muita delonga, passemos para página 17. Temos, por extenso, todos os valores descriminados. Trata-se de alimentação, transporte, moradia, educação e, obviamente, lazer. Claro que temos algum valor já economizado, mas não o suficiente para uma viagem deste porte. Por isso, com a autorização, solicito um "Paitrocínio". Na última página, temos uma carta da solicitante para cada um de vós. Os senhores terão um tempo para ler e dar sua resposta.

Eles estão com aquele sorriso no rosto. Claro, eles já me conhecem. Quando coloco algo na cabeça, nada mais tira.

— Maria Alice, isso nada tem a ver com um certo cantor, tem? - Minha mãe me conhece mesmo, Droga!

— Senhora Maria Eduarda, os senhores vão entender que, na fase em que me encontro, amores são sempre necessários, porém, o mais importante é a educação.

— Educação? Então, você não vai procurar o Arthur Flynn? - Ela me encara com seus olhos investigativos e faz aquela coisa que mãe sabe que desarma você.

— Mãe, é só uma viagem. A senhora viajou sozinha na minha idade.

— Eram outros tempos e...

— E que tipo de experiência a senhora quer que eu tenha? Ficar aqui, ouvindo música, trancafiada no meu quarto? Ou explorar o mundo? Conhecer novas culturas, e sim, quem sabe conhecer o Arthur Flynn. Tudo é experiência. E é meu sonho. Você nunca teve um? - Falo tudo rápido sem dar chance dela responder. — Você nunca se apaixonou? E se seus pais tivessem a chance de te mandar pra uma viagem onde seus sonhos podem se tornar realidade? Você ia querer, não é? Você fez isso. E pode fazer isso por mim. Eu sei que pode. Não precisa fazer formatura pra mim, não precisa me dar mesada pro resto da vida e não precisa me dar presente pelo próximo ano inteiro. Ah, darei 30% de todo o dinheiro que eu ganhar no próximo ano, com minhas tarefas. E ajudarei no serviço doméstico, mais do que antes, sem reclamar.

— 30%? - Meu pai, fala.

— O senhor sabe negociar, viu? 50% e não falamos mais disso. Mas, por favor. Não percam a chance de serem os melhores pais do mundo e me mandarem para maior experiência da minha vida. Vocês sabem que essa história eu contarei para os netos de vocês, não sabem? E pros bisnetos também. Tenho certeza de que vocês não querem que eu conte que meus pais foram estraga prazeres e que eles só não são netos de Arthur Flynn porque vocês tiraram essa oportunidade de mim.

— Não queremos que você se decepcione, filha. Você sabe que pode nem ver este rapaz. - Minha mãe tenta bancar a mãe responsável.

— Eu não vou me decepcionar, mãe. Vou ficar frustada se eu não for, isso sim. Pode ser que eu não encontre com o Arthur Flynn, mas e daí? Eu quero viver essa experiência. Quero marcar essa como a primeira viagem de muitas. E ela vai ser ainda mais especial porque meus queridos pais, compreensíveis e incentivadores, me darão de presente.

Os abraço e bato palmas, animada com a esperança do sim.

— Alice, nós vamos pensar e analisar com calma sua proposta. Ainda tem 1 mês até suas férias. Suas notas influenciarão muito na nossa decisão.

— Espero não me arrepender de ter te dado aquela blusa de "melhor pai do mundo". - Sorrio e dou um beijo em seu rosto. — Mamãe, faça valer todo o tempo que passei fazendo joias de macarrão. - A beijo e saio.

Como eu disse, não vai ser fácil me vencer depois dessa. A não ser que eles digam não. Mas, depois dessa argumentação fantástica, quero só ver.

Arthur Flynn, meu amor, prepare-se pra conhecer a mulher da sua vida.

*****

Oi gente,

Algumas coisas vão mudar nesta história. Alguns detalhes pra acrescentar. E muita confusão da Maria Alice e os irmãos Flynn.

Adicionem as bibliotecas e deixem as estrelinhas.

Amo vocês.

Beijos, S. ?