Capítulo 02
༺ Zara Stevens ༻
Continuei observando o homem com seriedade, mas ele imediatamente alterou sua expressão rígida para uma mais delicada. Desviei meu olhar e notei que ele parecia até constrangido por ter me tratado de maneira grosseira. Com certo constrangimento, ele se desculpou:
— Me desculpe, não pretendia tratá-la de forma inadequada. Ocorre que estou bastante nervoso, tenho uma reunião em breve e, como ainda não tenho uma assistente para me auxiliar, acabo ficando estressado.
— Não precisa se desculpar, senhor. A culpa foi minha, não mantive o equilíbrio. Realmente, sou um tanto desastrada...
Comecei a rir nervosamente e ele riu junto comigo. Ele tem um sorriso tão dócil, é encantador e cativante. No entanto, minha distração foi interrompida quando vi a mulher da recepção se aproximar dele e entregar-lhe uma nova vestimenta. Ela se virou para mim e disse:
— Boa tarde, você deve ser a candidata para a vaga de assistente, correto? A sala 07, terceira porta à esquerda, dona Verônica está esperando por você.
— Ah, então você é a jovem que Verônica está aguardando? Se você for realmente minha assistente, estou em apuros. Espero que esse incidente com o café seja um evento isolado. — pensei comigo mesma: "Ótimo, era tudo que eu precisava, dar um banho de café no dono da empresa. Realmente, sou uma idiota!"
Mas tentei manter minha compostura e respondi meio sem jeito:
— Peço desculpas, senhor. Não foi intencional. Minha roupa acabou ficando presa no elevador, como mencionei anteriormente. Entretanto, prometo ser mais cuidadosa da próxima vez. Isso se houver uma próxima vez, né?
— Bom, preciso ir. Tenho que trocar de roupa, estou atrasado. Boa sorte na seleção.
Ele me deu as costas e entrou no elevador acompanhado da secretária. Realmente, me sinto uma idiota. Como pude ter o azar de derramar café na roupa do dono da empresa? Essas coisas só acontecem comigo mesmo.
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos negativos, e decidi seguir para a sala onde seria a entrevista, observando o prédio atentamente para me lembrar, caso fosse selecionada.
Assim que entrei, notei que havia outras candidatas para a vaga de assistente e outras para diversas funções da empresa. Muitas pessoas estavam em busca de emprego. Realmente, não está fácil para ninguém.
Esperei minha vez e, depois de alguns minutos, finalmente chegou o momento da minha entrevista. A mulher à minha frente era uma senhora que parecia bem tranquila e gentil. Ela própria sorriu e disse:
— Boa tarde, Zara. Como está? Analisei seu currículo e vi que possui diversos cursos, mas não tem experiência na área. Poderia me explicar o motivo?
— Isso se deve ao fato de eu estar na faculdade, senhora! Não podia trabalhar, mas se me der essa oportunidade, acredito que não irá se arrepender. Sou uma pessoa que aprende rápido, apenas precisarei de orientação. — la concordou com minhas palavras e, enquanto analisava meu currículo, me questionou novamente:
— Seu currículo é excelente! Inclui até mesmo um curso de idiomas. Uau, você também fala mandarim? Isso é perfeito. Seu Rodrigo viaja muito para esses lugares e precisamos de alguém competente nesse assunto para acompanhá-lo nas viagens...
— Sim, falo fluentemente! Aliás, tenho amigos que também falam essa língua. Como mencionei, sou rápida em aprender, basta me fornecer um relatório completo e eu me capacito rapidamente.
Durante a entrevista, descobri que a senhora se chamava Verônica. Ela era a chefe do RH e continuou a conversar comigo e fazer diversas perguntas. Eu nunca pensei que seria tão difícil conseguir esse emprego, mas estou torcendo ansiosamente para consegui-lo. Quero me livrar de uma vez por todas daquela bruxa da Madelene. Após analisar minhas informações e conversar comigo por um tempo, a dona Verônica disse:
— Olha, Zara! Adorei seu currículo, mas você não tem experiência. No entanto, vamos lhe dar uma chance. Porém, você precisa me prometer que será mais cuidadosa, especialmente quando estiver perto do senhor Rodrigo. Ouvi dizer que você derramou café em sua roupa.
— Foi um acidente! Não foi intencional, dona Verônica. Infelizmente, meu casaco ficou preso no elevador e eu o puxei, não o vendo quando tropecei e derrubei o café. Sinto muito por isso. Até mesmo pedi desculpas a ele. — Ela ouviu atentamente o que eu dizia e respondeu, grampeando alguns papéis que estavam em sua mesa.
— Tudo bem, Zara! Como eu disse, vamos lhe dar uma chance. Assinaremos um contrato de seis meses. Se ele gostar do seu trabalho, renovaremos o contrato, tudo bem? Mas, como eu disse, tenha cuidado.
— Não se preocupe, tomarei muito cuidado daqui para frente. Tem mais alguma coisa que eu precise saber?
Dona Verônica me contou sobre o dia a dia de Rodrigo e mostrou-me sua agenda. Realmente, teria muito trabalho como sua nova assistente e, em alguns casos, teria que resolver questões relacionadas à empresa que ele não poderia cuidar.
Quando ela terminou de me dar todas as suas orientações, pediu-me para que eu começasse amanhã mesmo, pois como ele estava sem assistente, as coisas e o trabalho se acumularam. Apenas concordei balançando a cabeça e ouvindo suas últimas ordens, depois me retirei de sua sala. Peguei meu celular e disquei o número de Pietra, que atendeu na segunda tentativa. E comentei eufórica e feliz:
— Pietra, eu consegui o emprego! Preciso comemorar com você.
— Eu sabia que você conseguiria, sua vadia! Você sempre foi muito inteligente. Fico feliz por você, mas como eu já tinha certeza da sua vitória. Comprei algumas garrafas de cerveja e petiscos para comemorarmos...
— Eu não acho que seja uma boa ideia! Eu tenho que trabalhar amanhã.
— Ah, Zara, não estrague esse momento. Algumas garrafas de cerveja não vão fazer você perder o emprego. Agora você pode pegar suas coisas e vir para minha casa. Não precisa mais aguentar aquelas duas bruxas.
— Você tem razão! Meu apartamento está quase pronto. Foram muitos anos economizando, mas agora vou morar na minha própria casa. Pegarei minhas coisas. Te vejo em uma hora. Vou desligar e pegar um táxi aqui.
Pietra concordou comigo, e encerrei a ligação. Realmente, ela estava certa. Era hora de sair daquela casa. Decidi ir pegar minhas coisas de uma vez por todas. Quando entrei, percebi que a casa estava silenciosa. Ótimo! Assim, não tenho com quem me preocupar.
Peguei meus documentos e minhas malas e comecei a arrumar minhas roupas e objetos. Assim que estava saindo do meu quarto, encontrei minha tia e uma amiga dela na sala. Ao me ver, ela disse, séria:
— Finalmente, sua inútil! Onde você estava para se vestir tão formal e elegante? Tire isso e vá fazer café para servir à visita.
— Se você quer que sua amiga beba café, faça você mesma. Eu não vou mais obedecê-la nem acatar suas ordens. Apesar de ser minha tia, você não passa de uma bruxa velha. Meu pai está cego e não percebe que você se aproveitou da morte da minha mãe para tomar o lugar dela. — ela caminhou rapidamente em minha direção e levantou a mão para me acertar um tapa.
Mas, dessa vez, segurei sua mão com bastante força. Ela disse, cheia de sarcasmo:
— Escuta aqui, Zara. Você me respeita, além de ser sua tia. Também sou sua madrasta. Pensa que seu pai não ficará sabendo desse seu comportamento? Solte meu braço agora mesmo.
— Nunca mais se atreva a me bater, Madalene. Você não é minha mãe. Essa foi a última vez que você tocou em mim. Se tentar de novo, vai se arrepender. Avise ao meu pai que estou indo embora. Não aguento mais ficar aqui com vocês duas. Não suporto olhar mais para essa sua cara pintada de maquiagem que mais parece uma palhaça. Prefiro morar na rua do que ficar na mesma casa com você e sua filha.
Eu a empurrei para trás e segui em direção à porta. Antes de sair, ouvi minha ela dizer, com certo deboche, como se estivesse feliz por eu finalmente ter tomado aquela decisão:
— Pois saiba de uma coisa, você já vai tarde! Pelo menos eu não terei que te aturar mais na minha casa, sua bastarda encostada.
— A única encostada aqui é você, sua vagabunda oportunista! Não se esqueça de que essa casa era da minha mãe. Eu não sei como ela nunca desconfiou da cobra que tinha como irmã ao seu lado. Sabe, Madalene, em uma coisa eu fico feliz: você também não durará nessa casa. Espero que logo meu pai arrume uma amante mais nova e dê um pé na sua bunda junto com essa sua filha. Agora, eu não perderei mais meu tempo, porque é um alívio sair desse inferno. Finalmente vou viver a minha vida. Não sou obrigada a ficar sendo capacho de uma puta velha enfeitada e brega. Vá para o inferno...
Saí caminhando, sentindo a liberdade sobre minha cabeça. Nunca mais teria que suportar aquela mulher. Não me importava se meu pai não gostasse de saber que saí de casa. Ele só acreditava nas palavras dela. Se o vi muito, foi apenas uma ou duas vezes quando estava em casa, então não faria falta.
Madalene nunca me deixava chegar perto dele. Ele já me esqueceu como filha e faria o mesmo, deixando de lembrar que eu alguma vez tive um pai.
Uma nova vida me aguarda daqui para frente, com várias possibilidades. Eu só quero esquecer aquele maldito passado que vivi nos últimos anos e construir uma carreira profissional. Quero ser poderosa e bem-sucedida. Por um momento, lembrei da minha mãe. Se ela estivesse aqui, estaria feliz com cada progresso meu.
Já se passaram 13 anos desde que ela morreu. A única coisa que ainda mantenho viva são as lembranças e os momentos felizes ao seu lado. Até aquele maldito acidente, até hoje não temos qualquer tipo de pista de quem o provocou.
Minha mãe acabou não resistindo aos ferimentos e faleceu. Meu pai ficou inconformado e jogou a culpa em mim. É claro que Madalene também teve culpa nisso, pois ela dizia que eu era culpada por tudo. Olhei para o céu mais uma vez enquanto estava no carro e pensei:
"Eu me sinto tão sozinha, mãe. Só queria que a senhora estivesse aqui! Já passei por tanta coisa e sempre tive que ser muito forte para não enlouquecer. Mas eu ainda conquistarei o meu lugar no mundo e serei muito feliz."
Cansei da vida me dando migalhas. De agora em diante, cada lágrima será esquecida, e as noites tristes serão apagadas da minha memória. Desde que aprendi a ser sozinha e me amar em primeiro lugar, cada tombo que levo me faz levantar ainda mais forte.