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CAPÍTULO 7

MARIA LUIZA

Estou segurando minha língua dentro da boca, ponderando se devo ou não revelar minha identidade e confessar a pequena armação que Pâmela e eu aprontamos.

Não é nada de mais... Ou, talvez seja.

Droga.

Ele está me tratando como a irmãzinha do seu melhor e isso está me matando, passamos por tanta coisa nesses oito dias que me sinto uma megera traidora por continuar ocultando minha verdadeira identidade.

Eu tinha tomado coragem e decidido esclarecer as coisas no mesmo dia do acidente, quando mergulhamos juntos no mar parar arrancar toda a sujeira de nossos corpos. Tínhamos acabado de enterrar um homem, meu psicológico estava abalado, meu corpo fraco e tudo que eu queria era ser chamada pelo meu nome. No entanto, a porcaria do jatinho terminou de explodir e mudou com as minhas  prioridades.

Nós corremos para a praia assim que o fogo diminuiu, nossa sorte é que eu tinha retirado as malas um pouco antes da explosão acontecer. Peguei as que estavam visíveis e de fácil acesso, infelizmente não achei a minha, ela deve ter caído no mar ou ficado escondida entre os escombros. Ao menos, achei a dele e uma pequena de Pâmela que ela deve ter esquecido tamanha sua pressa de ir encontrar o babaca do Fiorentino.

Alguns alimentos enlatados e garrafinhas de água também foram salvas, mas todo o resto virou cinza.

Minha perna está melhor, porém ainda não consigo fazer longas caminhadas, o que se tornou um problema desde que buscamos abrigo para fugir do frio em uma pequena gruta que acabamos descobrindo por acaso, não é tão distante da praia, mas preciso fazer um esforço diário para chegar até aqui. Sem falar que tenho me irritado constantemente com o homem e não paro de pensar na minha família, em como estão e o que devem estar pensando.

Minha mãe sempre foi muito apegada à mim e deve estar destruída, achando que estou morta e nada posso fazer. A sensação de impotência tem me deixado em um constante estado de estresse e isso só aumenta com o tal duque me tratando como uma criança, chamando-me a todo momento de Pâmela e agindo com extrema proteção. Acho que se sente culpado por colocar a irmã do melhor amigo nessa situação, mas não aguento mais o tratamento exagerado e quero ser chamada pelo meu nome, PORRA!

—Pâmela? —Seu chamado me faz revirar os olhos e não escondo meu desagrado quando o encaro.

Ele segura um cacho de bananas em uma das mãos e um coco na outra, sua expressão é de preocupação quando me olha nos olhos.

Relaxo meus músculos, desarmando minha postura irritada quando observo de perto sua beleza. Ele é lindo, extremamente sexy apesar de sempre andar com uma carranca séria. Seu peito está desnudo, mostrando a pele bronzeada pelo sol e uma camada fina de suor o deixa ainda mais atraente, vestindo apenas uma calça jeans.

Um suspiro escapa pelos meus lábios e tenho certeza que ele notou minha vistoria descarada, pois quando subo meu olhar de volta para o seu existe um sorriso presunçoso estampado em seus lábios.

Ele não fala nada, apenas me estende o coco e espera que eu pegue.

Meu rosto queima de constrangimento, estou usando um dos biquínis de Pâmela que achei na pequena mala, aliás biquínis e vestidos praianos é tudo que tem lá. Eu deveria saber já que ela vinha de uma temporada em Ibiza quando nos encontramos e minha amiga nunca gostou de repetir roupas de banho.

—Obrigada. —Sussurro, percebendo só então que venho lhe chamando de Duque todo esse tempo.

Este é o seu nome verdadeiro?

Ele não me corrigiu nenhuma vez, também foi assim que Júlio o chamou quando estávamos sobrevoando. Minha amiga também nunca citou qualquer outro nome.

Movida pela curiosidade e cansada de ter curtas conversas durante todo esse tempo, resolvo perguntar:

—Você realmente se chama Duque?

As palavras saltam para fora e infelizmente não consigo conter meu deboche ao pronunciar o Duque, mas só porque acho muita pretensão alguém se chamar assim. Dou um sorriso simpático para disfarçar meu vacilo.

Uma das sobrancelhas escuras se erguem e ele parece avaliar minha pergunta.

—Você não sabe o meu nome? —Diz, usando um tom desconfiado.

Mordo meu lábio inferior, insegura no que falar. Acho que sem querer acabei me entregando.

Ah, foda-se também! Melhor assim.

Dou de ombros.

—Todo mundo só te chama assim. —Digo, me justificando.

Ele assente, compreensivo.

—Meu pai é um Duque, como sou seu filho herdei o título. Só que no começo me chamavam assim por zoação, após os meus primeiros vôos serem bem sucedidos e os elogios dos meus superiores começarem a surgir o apelido pegou. Não tenho problema com isso.

Quero sorrir pelo seu jeito simples de me informar que tem sangue azul. Puta merda, o cara é realmente um Duque e fica por aí subindo em bananeira e me oferecendo seu coco. Que honra.

Então, o nome dele não é esse.

—Qual o seu nome verdadeiro? Pergunto, não me aguentando de curiosidade.

Ele sorrir, cruzando os braços e me encarando em desafio.

—Eu falo quando você me falar o seu. —Sua voz sai rouca, um tanto sensual e percebo divertimento em suas íris.

Engulo a seco, sem saber o que falar.

Ele me descobriu.

Passo a rir feito uma louca, olhando para todo lugar tentando disfarçar meu nervosismo.

O que deu em mim? Era isso que eu queria, afinal.

A culpa é do olhar intenso que está me dando, ele é todo grande e intimidador.

— Como assim? Você sabe meu nome. —Digo, disfarçando.

—Na verdade, sei que você não é a irmã de Théo. Posso ter visto aquela menina poucas vezes, pois nunca ficávamos em casa e ele sempre foi super protetor com ela, nem mesmo eu tinha autorização para chegar muito perto, mas sei que Pâmela Mourão era uma cópia fiel do meu amigo desde novinha e você não me lembra nada a ele.

Arregalo os olhos, surpresa pela sua revelação. Quer dizer que todo esse tempo ele sabia e estava me provocando com toda a atenção, falando o nome de minha amiga sempre que falava comigo.

Babaca!

—Então, como se chama?

Não respondo de imediato, irritação pelo seu teatro ainda me guia. Ele também não cede, continua parado bem na minha frente, não desviando o olhar.

—Maria Luíza Coutto Guimarães, muito prazer. —Uso todo meu deboche em minhas palavras.

Ele franze o cenho, descendo as vistas para o meu corpo de forma rápida. Murmurando alguns xingamentos baixos.

—O quê? —Pergunto, confusa pela sua reação.

—Você é a pequena rebelde. —Diz e é minha vez de ficar perdida com sua fala.

—Ãn?

—Você é filha mais velha de Helena e Paulo Coutto. —Ele solta todas as informações com um sorriso estranho nos lábios, como se achasse a situação toda divertida, finalmente me mostrando o seu lado descontraído.

No entanto, estou confusa com todas as informações que soltou. Como ele sabe os nomes dos meus pais?

—Como sabe o nome dos meus progenitores? — Pergunto.

Ele dá uma risada amarga, balançando a cabeça de forma negativa.

—Isso só pode ser a porra de uma brincadeira de mau gosto. —Murmura.

—Fale, como sabe de tudo isso?

—Sua irmã me passou a sua ficha completa, então você é uma rebelde que largou a faculdade, hein? —Tem um sorriso zombeteiro no seu rosto.

Bufo, indignada.

Aquela pestinha...

Briana está me saindo uma pestinha fofoqueira de mão cheia, mas tem algo de errado nessa história, minha irmãzinha não costuma sair falando com estranhos do nada.

—E por qual motivo ela te forneceu essas informações? —Questiono.

Ele dá de ombros.

—Simples, sou o noivo bonitão da Dinda dela, Raul Rabello, prazer. —Ele diz, parecendo nostálgico, esticando a mão para um aperto.

Sorrindo largamente para mim.

E aí, minha ficha finalmente cai.

Caralho!

—Você é o noivo gostosão da Stella!

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