
Resumo
Christian havia tido uma grande perda no passado, por causa disso, se tornou um homem considerado sem coração, que aprendeu a agir da forma mais fria possível. Seu passado ainda o atormentava, assim como as pessoas que o fizeram sofrer. Agora diante de Laura, via sua chance de se vingar e de trazer um pouco de paz para sua vida, mesmo não conseguindo isso, já que continuava apaixonado por ela.Laura acreditava ter uma vida normal, vivendo em seu próprio mundo, ao lado do seu marido. Entretanto, tudo muda quando mata seu marido e foge. Temendo ser presa, acaba indo para o último lugar que não a procurariam: ao lado da pessoa que mais a odiava. Parecia ser a solução de seu problema, quando na verdade só estava entrando em um maior, já que Christian estava prestes a fazê-la pagar por erros que dua família cometeu e por partir seu coração.Rafael era irmão e gerente de Christian, no passado haviam feito uma promessa que não se separariam nunca e que se manteriam juntos até o final.
1
Minha respiração sai pesada, meus olhos estão vidrados no vazio e não há nenhum tipo de pensamento em minha mente.
Me sentia anestesiada, como se tivesse acabado de tomar uma alta dose de medicamentos e o efeito havia recaído sobre mim com força, me deixando completamente inutilizada.
Talvez eu tivesse mais uma parcela de culpa, a cartela faltando seis comprimidos, que praticamente me doparam não estavam longe de mim.
Havia sangue. Muito sangue.
Até então não sabia que um ser humano, continha tanto sangue, mesmo já ouvindo em algum lugar que a quantidade de sangue variava até 5 litros no corpo de um ser humano. Isto explicava o por quê de uma parte do piso branco da cozinha, estar com uma grande poça de sangue ao redor dele.
Não sabia se ele estava morto ou não, naquele canto da cozinha, completamente encolhida, tudo indicava que ele estava morto. Droga, penso, apertando minha cabeça entre as mãos. Ele estava morto. Ele estava morto e eu era a culpada.
As batidas do meu coração estavam começando a me sufocar ou era eu que havia parado de respirar? Puxava fortes lufadas de ar pela boca, meus olhos fixo naquele sangue denso e...escuro, se mexendo lentamente, formando uma poça maior ainda.
Em determinado momento, minha respiração se tornou entre cortada e eu sabia que estava a beira de algum ataque, só não sabia especificamente qual. Mas sabia que algo estava errado comigo naquele momento, além de estar diante de um cadáver.
Droga.
Eu iria ser presa! Era questão de tempo, depois de descobrirem o que eu havia feito. Teria uma morte lenta e dolorosa na cadeia. Mas se eu fosse inteligente o suficiente, não permitiria que me matassem...
“Uma mulher não precisa de armas. E sim da inteligência”, as palavras do meu pai ecoam em minha mente de repente. Era o que costumava dizer, toda vez que pedia para me ensinar a atirar, o que para ele era algo assustador vindo de uma menina de quinze anos.
Esfrego minhas mãos com força no rosto com força, chegando a machucar a pele, lutando contra um ataque de pânico que insistia em tentar me dominar. Não poderia me entregar facilmente, não seria isto que meu pai gostaria de ver, me vendo naquele estado deplorável, orgulho seria a última coisa que sentiria de mim.
Usando a parede como apoio, levanto devagar, sentindo minhas pernas moles, bambas, como se não conseguissem me obedecer. Praticamente arrastando os pés até o telefone do outro lado do cômodo, desviando ao máximo do corpo inertil no meio da cozinha. As batidas do meu coração estavam me deixando surdas, não conseguia ouvir nada além daquelas batidas pesadas.
Minhas mãos tremiam e acabam sujando o aparelho branco, quando começo a apertar os números, que lutava mentalmente para lembrar. Precisando recomeçar três vezes, até acertar a sequência de números.
Temia que algum vizinho tivesse escutado alguma coisa e que a qualquer momento, tivesse pessoas ali fazendo perguntas que eu não saberia responder. O pensamento só fez com que eu errasse mais uma vez a sequência de números, que citava para mim mesma em voz baixa.
- Me ajuda - digo com a voz trêmula, assim que ouço o típico “alô”, gaguejando as palavras - Por favor, me ajuda! - Me sentia em um maldito pesadelo e se estivesse mesmo em um, a única pessoa que poderia me acordar, estava do outro lado da linha.
Um breve silêncio se instala, até que uma voz masculina soa.
- Laura - diz Rafael calmamente e o ouvir dizer meu nome, era como estar diante de um Laura de anjos - O que houve? - A pergunta soa preocupada e até o entendia.
Abro e fecho minha boca, olhando para o corpo que não estava muito longe de mim, mesmo eu me retraindo no canto da parede.
- Eu o matei - sussurro - Ele está morto, Rafael - Puxo o ar com força, a visão embaçando com as lágrimas.
Rafael solta um suspiro pesado, inspirando profundamente, antes de falar.
- Quem, Laura? - Sua voz continua soando controlada.
- Só vem rápido - Peço com a voz urgente, esperando que dessa forma ele entendesse a gravidade da situação naquele momento.
- Fica aonde está. Já estou a caminho.
Saber que alguém estava a caminho e que não iria me matar, trouxe um alívio repentino, não o suficiente para que os tremores pelo meu corpo parassem. A medida que me dava conta do que havia acontecido naquela cozinha, me apavorava ainda mais lembrar das consequências que poderiam ser aplicadas à mim, eram diversas e mesmo eu fazendo parte disso tudo desde sempre, não iria diminuir o peso da sentença.
Quando Rafael adentra rapidamente pela porta dos fundos, levanto novamente do canto que estava encolhida e vou ao seu encontro, não hesitando em o abraçar com força, mesmo correndo o risco de o sujar e acabar o colocando também naquela cena de crime.
Seus braços demoram a se fechar ao meu redor, mas quando finalmente acontece, me sinto segura. Me sinto em casa.
Me afasto segundos depois, notando que ele olhava fixamente para parte do corpo que estava atrás do balcão. Se afastando de mim gentilmente, ele se dá alguns passos para frente, até que consegue ver todo o corpo. E para minha surpresa, ele não tem nenhuma reação, ele apenas fica ali pelos segundos seguintes, encarando o corpo e não faz nenhuma menção de ir ver se há batimentos cardíacos ou não.
- Não vai ver se ele ainda não está vivo? - digo abraçada com o próprio corpo.
- Ele não está.
- Como você sabe? - Gaguejo, respirando pelos meus lábios entre abertos.
- Pela quantidade de sangue... - Ele se detém, inspirando profundamente, com seus olhos ainda fixo no corpo. Quando ele me olha novamente, seus olhos não me acusam de nada, pelo contrário, novamente ele me abraça e beija o topo da minha cabeça - Está tudo bem. Vou cuidar de tudo. Sempre faço isso quando está com problemas, não é?
Assinto automáticamente, sabendo que era verdade. Rafael de uma forma ou de outra, sempre cuidava de tudo, principalmente de mim.
- ...Vou ser presa. Quando descobrirem...
- Ninguém vai tocar em nenhum fio do seu cabelo - Ele segura meu rosto entre suas grandes mãos - Sabe por quê? Não vai estar aqui quando derem por falta dele - Se afastando de mim com duas passadas largas, ele pega um pano de prato e o molha, voltando para mim começa a limpar todo o sangue que havia em meu rosto, no meu busto e nas minhas mãos. O que já fazia grande diferença, perto dos respingos de sangue pela minha roupa.
- Como assim? - pergunto quando os segundos passam, parecendo que se passou um bom tempo.
- Vamos dar o fora daqui - Ergo as sobrancelhas processando aquela informação, tentando imaginar até onde conseguiria ir até eles me encontrarem. Com certeza não muito longe.
Balanço a cabeça dando um passo para trás, sentindo lágrimas grossas molharem meu rosto. Não estava chorando por causa da droga do cadáver, internamente sabia que chegaria o dia em que teria que me defender. E aquele dia havia chegado, só não queria puxar Rafael para tudo aquilo. Eu estava o sentenciando também a morte.
Aperto minha cabeça entre as mãos, fechando os olhos com força, sentindo mais lágrimas vindo á tona. O que eu estava pensando quando o chamei até ali?!
- Laura - Sinto suas mãos em meus braços, massageando a carne com as pontas dos dedos - Olhe para mim. Olhe para mim - Ele repete sério e acabando por fazer um grande esforço, eu o encaro, reprimindo o choro agoniante que queria sair de dentro de mim - Confia em mim - Ele pede, sem se dar conta de que se não confiasse, não teria ligado para ele ás duas da manhã, quando poderia facilmente ligar para a polícia e me entregar, mesmo sabendo que isto não impediria da minha sentença ser aplicada.
Rafael continua a me limpar, quando termina joga o pano dentro da pia e pega minha bolsa que não estava muito longe dali. Antes de segurar minha mão, ele dá mais uma olhada no corpo, acredito que apenas para se certificar de alguma coisa, se ele estava respirando ou se estava parecendo bem morto. Não importava o que estava pensando, ele estava morto afinal de contas e nada iria o trazer a vida.
Enquanto era puxada por Rafael na direção da porta dos fundo, olho para trás, aos poucos o corpo se escondia atrás do balcão, perto de aonde estava caído e me dava conta de que não havia só assassinado meu marido, também havia assassinado os anos que havíamos passado e como isso não foi muito benéfico para mim.
Mais nada mais importava naquele momento, ele estava morto e agora era questão de tempo para que a polícia vinhesse atrás de mim, após descobrirem o que eu havia feito.
