02
"Tentativa fracassada
Da densa escuridão de seu escritório em casa, quase no escuro, seu pai o observava.
-Sim, vá em meu lugar. Aqui está o endereço", ele acenou com a cabeça.
Karim não queria ir, mas acabou se animando. Ele pegou o celular descartável e partiu em seu carro. Ele estava com tanta raiva naquela noite que detestava ter se casado com uma estranha, e essa raiva se transformou em um desejo sombrio de machucá-la. Ele apertou com força o volante, virou e estacionou.
***
Em um ambiente sombrio e frio, Juliette lutou e resistiu, enfrentando um furacão de incerteza e vulnerabilidade. Tentou descansar em uma cama precária, mas o silêncio opressivo e os medos desenfreados o mergulharam no desespero.
A extinção parecia iminente, sem escapatória.
-Deixe-me sair daqui, eu lhe peço, deixe-me sair! - implorou ele, com aquele ardor subindo à garganta.
Ela passou um tempo ali, horas intermináveis.
A dor física e a fome a consumiam, enquanto a fraqueza limitava seus movimentos.
Na escuridão, ela ouviu passos que fizeram seu coração acelerar e ela se encolheu, tremendo, aguardando a chegada de uma terceira pessoa.
-Ele está aí? -disse o homem de voz grossa e penetrante.
Sim, senhor, achei que seu pai viria em vez de você", ouviu-se outra pessoa, em voz baixa.
O estômago de Juliette ainda estava se revirando. Ela temia não saber o que aconteceria com ela, embora nada de bom pudesse resultar disso.
Em segundos, a porta se abriu, revelando um homem corpulento; Juliette não conseguia tirar os olhos do homem de ascendência árabe, cativada por seus olhos verdes intensos e sua aparência imponente. Seus traços faciais bem definidos, como o maxilar quadrado e as sobrancelhas espessas, só aumentavam sua atratividade. O cabelo escuro e bem cuidado desse homem enigmático dava um toque de mistério.
E ela tinha um palpite, como se essa não fosse a primeira vez que o via.
O cara se inclinou e a perfurou com força, antes de, em um movimento brusco, agarrar o queixo dela, levantá-lo ferozmente e se conectar com ela. Seus olhos cor de âmbar estavam cheios de medo e, com todo o seu cabelo castanho desgrenhado, ela estava apavorada com ele.
-Você é um presente do meu pai, e sabe de uma coisa? eu adoro me livrar do embrulho, vou me divertir demais com você, Juliette", ele saboreou o nome dela com malícia, enquanto beijava o pescoço dela com força e a soltava.
-Quem é você? -ela hesitou com medo, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Quem?!
Ele se virou e sorriu soberbamente.
-Seu mestre, eu sou seu mestre, droga! Você deve me obedecer sem reclamar ou conhecerá minha fúria. Agora, levante-se e siga-me", ele disse com um sorriso nos lábios.
Ela queria cuspir palavrões nele, mas seus olhos flamejantes a avisaram que ela desencadearia o inferno ali mesmo se ousasse dizer uma palavra.
Ele era um tirano!
"Eu o odeio com todo o meu coração." Ela disse a si mesma, agarrando-se à ideia de ver a luz, mas nela encontraria apenas um feixe carbonizado.
Alguns minutos se passaram, Juliette tremia de medo, mas sabia que não tinha escolha. Ela se levantou com dificuldade e o seguiu, sentindo-se como se estivesse aprisionada em seu próprio pesadelo.
***
Do lado de fora, Karim Ghazaleh estava começando a se sentir atordoado. Ela, a virgem que seu pai comprou, era a jovem que uma vez o olhou nos olhos e pediu que ele guardasse sua faixa rosa, assegurando-lhe que um dia eles se encontrariam novamente.
Agora, com a respiração irregular, depois de remexer no bolso da calça, ele a encontrou.
Percebendo que ela estava lá, ele colocou a armadura de volta, voltando a ser frio e dominador.
-O que diabos você está olhando?
Juliette desviou o olhar, abaixou a cabeça; tal docilidade fascinava o árabe. A moça esbelta, ela encapsulava tudo o que ele desejava dizer ao cretino.
Poucas horas depois, ela estava entrando na propriedade do milionário, o medo estava se apoderando dela, ela não conseguia estudar o lugar. Ela estava bloqueada, só sabia que havia luxo por toda parte. Finalmente, ela foi empurrada para um quarto.
-Você vai ficar lá! -disse ela antes de dar uma última olhada e trancar a porta.
Ela não bateu na porta, não pediu ajuda, estava ciente de que sua voz estava silenciada naquela gaiola dourada.
Ela estava tentando descobrir por que estava ali, por que aquele homem a odiava e o que ela havia feito para merecer um lugar ao lado daquele homem detestável.
-De agora em diante, você será responsável por minha noiva, Melanie, ela está cansada, não a incomode", ordenou ele a outra pessoa.
-Sim, senhor.
"Sua noiva?"
Se ela já estava apavorada, agora estava ainda mais, ao saber que aquele espécime cruel a forçaria a ser sua esposa.
***
Juliette já estava sob o domínio dele, naquele quarto tão desolado, mas cheio de luxo; ela foi novamente tomada pelo milionário, que a dominou com um único olhar.
-Você acha que pode acabar com minha paciência sempre que quiser? Odeio que você faça isso, coma! - exclamou ele e, impaciente, jogou a bandeja de comida para ela.
A sopa quente se derramou em suas pernas e ela gemeu de dor. A queimação a percorria ferozmente, e ele apenas a olhava satisfeito com a cena.
-Está doendo muito!
Juliette correu para o banheiro e, com urgência, jogou água fria sobre a área, acreditando que isso diminuiria a dor.
-Você vai ficar trancada! Você também não verá a luz do dia hoje", disse ela antes de sair, fechando a porta.
Ela percebeu que isso não era suficiente e que precisava de atendimento médico urgente. No entanto, lembrou-se de que estava trancada e não tinha como sair.
A dor continuou a aumentar e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto enquanto ela tentava encontrar uma maneira de escapar. Mas foi tudo em vão, pois a porta ainda estava trancada e não havia sinal de que alguém viesse ajudá-la.
Juliette se sentia presa e desesperada enquanto lutava contra a dor e o desamparo - como alguém poderia ser tão cruel a ponto de deixá-la trancada dessa forma?
Karim, em seu quarto, olhava para o chicote, com o coração disparado e as mãos molhadas só de pensar nisso. Ele estava respirando com dificuldade e as vozes se confundiam em sua cabeça.
Ele não podia fazer isso.
Enquanto Juliette chorava muito naquele quarto.
-Você precisa sair daqui, você pode fazer isso", ela sussurrou desanimada, perdida em desespero.
Não, não haveria libertação para ela!
Em busca de alguma pomada para a queimadura, ela encontrou um cortador de caixa. Ela o pegou e o guardou, não querendo ser descoberta. Esperava que ele não percebesse sua intenção. Sim, Juliette só queria matar o cara e fugir.
-Cheguei com os cobertores, senhorita Juliette, está aí? -Era a empregada.
-Estou no banheiro", disse ela, hesitante.
-Se precisar de alguma coisa, é só me avisar.
-Obrigada", disse ela.
O creme para queimaduras iluminou seus olhos e ela logo aplicou um pouco em seus membros feridos.
Mais tarde, aliviada, viu que a área estava limpa. A mulher não estava lá, ela se deitou na cama e olhou mais uma vez para o cortador de caixa.
Será que o objeto afiado seria suficiente e eficaz apenas ao ser cravado em seu peito?
Isso o mataria?
Ele não ficaria de braços cruzados, precisava tentar.
E, de repente, ele ouviu a voz dela novamente.
-Sim, pai, ela ainda está no quarto.
Ela estava em uma ligação telefônica. Foi o que pareceu.
Quando, de repente, a porta se abriu. Novamente, seus olhos furiosos e possessivos estavam fixos nela.
"Por que ela tinha que aparecer de novo?" Ela não teve um único segundo de paz!
O olhar penetrante dele varreu a sala, mas quando seus olhos se fixaram nela, algo mudou. Uma centelha de interesse e desejo surgiu nos abismos de seus olhos profundos.
Ela sentiu seu coração começar a bater mais rápido e suas bochechas coraram levemente. Aquele olhar imperioso despertou nela uma mistura de emoções: intriga, mas uma pitada de insegurança que a deixou sem fôlego.
Por que seu captor a estava fazendo se sentir assim?
O árabe, sem perder um segundo, aproximou-se da trêmula Juliette. Seu passo era firme e determinado, enquanto ela se esforçava para manter a calma e esconder o impacto que o homem poderoso tinha sobre ela.
Karim apertou suas bochechas com força e, quando a jovem tentou manobrar o cortador de caixa, sua mira continuou sendo uma farsa, pois ele adivinhou e se apressou em pegá-la.
-Que porra você quer fazer, hein? -Ele gritou, mesmo sabendo que ela estava aterrorizada.
Sua mente estava nublada, ela apenas balbuciava coisas incompreensíveis. Até que ela fez algo inesperado, ousou beijar o homem,
O tempo pareceu parar quando ela sentiu a correspondência de Karim. Não, não precisava ser um momento mágico, ela também não precisava se entregar completamente a ele. Mas o beijo foi uma sinfonia de emoções, uma dança exigente e uma ebulição que a deixou paralisada, transcendendo até mesmo ele, aquela estranha conexão nas profundezas de sua escuridão.
Mas ele reagiu e a afastou.
-Você não sabe o que dizer, mas me beija. Você é uma mulher fácil? Isso é interessante.
Juliette cerrou os dentes.
-Eu vou matar você!
Ele não esperava por isso. Onde estava a docilidade? Agora ela estava se tornando um felino. Mas ela ainda parecia um gatinho desesperado.
-Mate-me de uma vez! Faça isso! -desafiou ela, jogando o cortador de caixa em algum lugar.
Sem armadura, ela não podia fazer nada contra ele. Então ele zombou, uma risada que gelou seu sangue.
-Imbecil", murmurou ele sob sua respiração.
Ele se incinerou, prestes a atacá-la novamente.
-Eu posso ouvi-la, conheço seus movimentos também. Não dê um passo em falso, não me insulte também, não terei piedade de você, querida noiva.
-Não vou me casar com um cara como você!
Karim a soltou e pegou o objeto afiado, antes de colocá-lo em seu pescoço delicado e fino. Ela quase ofegou.
-Quem disse que eu quero um casamento assim? Mas você não tem voz aqui, eu sou seu mestre, Juliette, seu futuro marido até que a morte nos separe.
Seus olhos ficaram vidrados, a ponta mal roçou sua pele pálida, apenas o suficiente para deixar um hematoma, a marca daquele monstro.
