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CYBER

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Dan Yukari
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Notas

Resumo

Victoria é uma garota órfã de treze anos que nasceu em um mundo devastado pelos Reploids, robôs com Inteligência Artificial poderosos que declararam a humanidade como inimiga do planeta. Enquanto todos lutavam para sobreviver, Vic sempre seguira acreditando que um dia a humanidade seria liberta daquelas correntes de medo, fome e terror. Certo dia, ela conhece X, um garoto que mudaria seu mundo antes mesmo de salvar sua vida logo em seu primeiro encontro. Quando os olhos azuis de X e os olhos castanhos de Vic se encontraram pela primeira vez, ambos sabiam que era seu destino ficarem juntos. O mundo de Vic era feito de sonhos. O mundo X era feito de dados. E juntos, eles salvariam o mundo de todos.

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I - Power Up - Parte 1

Quando meus olhos se abriram pela primeira vez os dados estavam completamente fora de ordem e confusos. A primeira imagem que registrei fora um gigantesco borrão azul com outras nuances multicoloridas se movendo naquele estranho mar de informações aleatórias. Mais tarde eu teria uma análise precisa desses eventos e evidentemente um melhor entendimento dos fatos.

Contudo, naquele momento tudo que eu pude entender é que, ameaçada por aquelas duas formas em destaque, uma branca e outra vermelha, estava ela, a razão de tudo que aconteceria a seguir.

♠♠♠

A garota descia escorregando pela lateral da duna, rezando para que a areia quente não adentrasse suas roupas. Era uma jovem de corpo pequeno, relativamente frágil como todas as outras meninas da sua idade. Se a areia invadisse qualquer parte do velho traje esfarrapado e sujo que usava ela sofreria grandes queimaduras na pele delicada.

Poucas pessoas ousavam caminhar pelas ruínas no deserto à luz do dia, mas ela tinha suas razões. E depois de despistar a todos para fugir do esconderijo, não poderia desistir agora. Seu objetivo estava logo à frente, porém, atrás de si um grande problema tomava forma. Um maldito drone de vigilância a havia detectado e estava lhe seguindo. Nem seria preciso a presença de um X Hunter para ela ser abatida, apenas o disparo de um daqueles gigantescos insetos de metal seria suficiente.

Em certo ponto na descida íngreme e lisa, a garota escorregara e caíra, rolando como uma bola pela ribanceira. Quando finalmente a inclinação acabara, ela estava largada no chão, com o corpo todo dolorido e provavelmente cheia de hematomas por baixo do traje grosso feito de lona. Erguera a cabeça sentindo o pescoço estalar. O capuz lhe deixava apenas os olhos à mostra. O drone descia pela inclinação em sua direção vindo em alta velocidade.

Felizmente aquele tipo de sentinela não registrava formas de vida, apenas movimentos.

Vic baixou a cabeça e esperou alguns segundos ouvindo o chiado da criatura metálica que passava por ela. Então, apostando na única chance que tinha levantou o corpo e apontou com a pequena pistola que carregava. O disparo lançara dois projéteis carregados de energia que ao chocarem-se com a criatura de metal liberaram uma forte descarga elétrica causando um curto no núcleo central da mesma.

O zunido da criatura parou segundos antes que ela se espatifasse no chão de pedra com o som do tilintar de centenas de pequenas peças se soltando e se partindo. A garota correu e se escondeu atrás de uma enorme parede das ruínas naquela bacia. Aquele barulho poderia atrair outros drones ou mesmo sentinelas mais perigosas e ela já havia tido a sorte de escapar de um deles. O sol estava alto e Vic sentia-se cozinhando por baixo daquele traje, mas sabia que se parasse em alguma sombra e retirasse o mesmo para descansar, não seria capaz de se vestir de novo no caso de ser localizada por outro inimigo.

A menina esperara por cerca de três minutos. Se houvessem outras sentinelas por perto já teriam aparecido. Sem perder tempo correu e se agachou onde a criatura abatida havia caído. Colocara o embornal de lado e começara a apanhar peças. Não era sua meta, mas não poderia deixar a chance passar. Apesar da pouca idade já havia aprendido a selecionar as peças boas.

A Resistência precisava daquilo para manter o estoque de armas com as quais se protegiam das sentinelas e até mesmo de X Hunters. Embora nunca tivessem destruído um X Hunter, havia entre eles quem tivesse conseguido atrasá-los e escapar deles e isso era digno de medalhas e troféus, se eles tivessem algo assim.

Enquanto apanhava as peças e olhava para os lados atenta, Victoria notara a característica inscrição na parede alguns metros adiante. Era a mesma inscrição que ela vinha rastreando nos últimos meses. A cada vez aquela busca a levava para ruínas mais distantes dos túneis de acesso para o esconderijo subterrâneo da Resistência, mas ela tinha esperanças de que encontraria algo ou morreria tentando.

Com o embornal carregado pela metade, a jovem o jogou nas costas e caminhou para a sombra, não era viável carregar peso demais. Aquele calor causava desidratação acelerada e isso reduzia seus sentidos, seus reflexos e seu vigor. Era o mesmo que se tornar um alvo fácil para seus predadores naquele lugar. Havia diante de si um grande sítio de pedras onde outrora existira algum tipo de instalação. Talvez em algum lugar por ali estivesse a arma secreta que garantiria a vitória da Resistência contra os Reploids. E ela pretendia encontrá-la.

Apenas mais um instante de descanso enquanto a menina abaixava a máscara de pano que lhe cobria a face para beber um gole da água no cantil. Aquele era seu bem mais precioso, talvez até mais que a pouca comida que carregava. Torcia para encontrar alguma planta ou caverna onde pudesse reabastecer.

A caminhada continuara por algum tempo sem novas surpresas. Aquelas ruínas eram muito diferentes das anteriores quais explorara. Parecia um labirinto e ela se perguntava agora se sua memória ajudaria na hora de sair dali e voltar para a base.

Pela posição do sol, o mesmo se esconderia em mais ou menos quatro horas, então ela poderia retornar com mais segurança. As sentinelas eram mais frequentes durante o dia, pois muitas delas se abasteciam automaticamente com energia solar. Durante a noite o número de vigilância caía pela metade, embora fosse o horário preferido dos X Hunters.

O tremor sob os pés de Victoria a alertaram antes mesmo que ouvisse o barulho. O som que seguira os abalos sísmicos eram estrondos altos e explosivos, como pedras muito grandes sendo arremessadas contra o chão.

Sem pensar duas vezes a garota agachou-se e correu para a sombra de uma parede alta. O traje que usava levava uma capa com capuz, cujas cores se confundiam com a cor da areia e das rochas. Usando de astúcia era capaz de se camuflar e escapar dos predadores mais comuns dessa forma. Entretanto, o que a garota vira, a fizera tremer.

O barulho dos impactos fortes contra o solo era causado por um gigantesco X Hunter, um Reploid em sua maioria na cor branca com detalhes azuis cromados. O enorme automato tinha o corpo arredondado, braços e pernas curtos e grandes e a cabeça lembrava um tipo de mamífero com longas presas, uma criatura que Vic só conhecia por ilustrações e anotações em velhos arquivos, pois havia sido extinta há muitas eras.

Pior que isso era o fato de que não bastasse aquele predador poderoso naquele lugar havia ainda um segundo ao lado dele! O outro era vermelho cromado e tinha detalhes dourados. Era mais alto e o corpo lembrava um ser humano vestindo armadura. O detalhamento na armadura e a cabeça lembravam um povo antigo que adorava se caracterizar como uma criatura que chamavam de dragões.

Sim, embora arquivos com dados sobre a antiguidade fossem raros, Victoria tinha fascínio por aquele tipo de conhecimento. Em suas explorações por ruínas ou entre os achados de outros membros da Resistência, a menina devorava todo tipo de informações sobre os povos e animais do passado que conseguia assimilar.

♠♠♠

A menina sabia que tinha poucas chances de voltar viva para casa agora. Aqueles dois destruiriam todas aquelas ruínas para capturá-la e ela teria sorte se morresse. Já ouvira histórias de membros da Resistência capturados pelos Reploids que haviam sido torturados por meses antes de serem assassinados.

Era surpreendente que os Reploids nunca tivessem chegado às cavernas de acesso à base. Normalmente os membros da Inteligência por trás da Resistência mudavam a entrada e saída principal em períodos aleatórios a fim de evitar qualquer tipo de rastreio, mas ainda assim ela sempre se sentira surpresa que com os vários membros já capturados nenhum nunca tivesse entregue qualquer segredo sob tortura antes de morrer.

Rumores diziam que os Reploids tinham métodos de manter um ser humano vivo por anos a fim de aterrorizá-lo e ela temia que sua sanidade não aguentaria tamanha pressão, temia ser capturada e entregar aqueles que a haviam mantido viva e segura – mesmo ela sendo tão rebelde – por tanto tempo.