Capítulo 5 - Brenda
A sensação ruim de estar sendo observada e o que minha tia Liz me falou, já não estava mais evidente em mim. Melinda, sempre me tirava as melhores sensações ao ponto de esquecer até o dia que se aproxima.
Saímos dali e cada uma seguiu o seu caminho. Tia Liz como sempre, foi surpreender o marido na filial que montaram aqui em Trento. Melinda, foi se encontrar com o irmão e o tio que pasmem, tem quase a mesma idade.
Eu, mais uma vez não o conheci e espero que possamos nos conhecer em breve já que fiquei curiosa com o que tia Liz e Melinda me falaram sobre ele. Mas seu nome deixa um sabor doce em meus lábios, Miguel.
Agora estou aqui, dirigindo para a empresa onde terei uma reunião daquelas com alguns acionistas.
Sim, uns engraçadinhos que deram para questionar ultimamente a minha capacidade e o meu trabalho. Eu não ligo, mas infelizmente, rende umas boas dores de cabeça mesmo que eles sendo os minoritários.
Assim que chego, já tenho uma desagradável surpresa. Alguém estacionou o carro na minha vaga e pelo visto não é daqui.
Por um segundo pensei ser o novo funcionário que irá somar na empresa mas, vendo a placa, percebo ser de outra cidade.
Estranho, porque tenho a impressão que conheço esses números? Dou de ombros colocando na vaga ao lado e me preparo para sair do meu carro. Dessa vez um dos seguranças já sabendo que sou eu quem se aproxima, vem me ajudar.
Vai até o meu porta-malas e pega a minha cadeira. Coloca frente a minha porta e trava. Ao abrir a porta o cumprimento e me transporto para as minhas pernas nos últimos anos.
Ao destravar minha cadeira, disperso o segurança que volta para o seu posto. Sigo para os elevadores com uma sensação esquisita. Não sei porque, mas parece que conheço aquele carro mas não me lembro de onde, nem percebo que já estou chegando ao meu andar.
O ding me desperta. Sigo até a minha sala cumprimentando a todos e assim que abro a porta, agora sei quem é o dono do carro. Tenho o desprazer de ainda mesmo que indiretamente me lembrar quem é o dono.
- O que faz aqui? – Pergunto seca.
- Eu sou um dos acionistas quer dizer, estou representando um tio que pediu pela reunião.
Guio a minha cadeira até a minha mesa de tampo de vidro e balanço a minha cabeça ciente do que ele acabou de falar.
- Então vamos falar sobre negócios. Trouxe a procuração que lhe dá poderes para resolver os assuntos do seu tio?
O vejo abrir e fechar a boca. Se acha que é assim, se aproximar novamente e com isso vou ser a mesma tola de antes, se enganou. O que quero realmente é distância, mas se não sabe enredar isso, farei com maestria.
Vamos ver até aonde ele vai com essa mentira.
Abrindo uma pasta preta que ele tem em mãos, Matt me faz um sinal pedindo para apoia-la na mesa e eu assinto.
Ele segue até a minha mesa sem tirar os seus olhos dos meus, mas não desvio não porque esteja hipnotizada por aquele belo par de um azul lindo, mas porque não posso fraquejar, não depois de anos me preparando para um dia vir acontecer isso.
“Click”, assim que a pasta se abriu, Matt retirou um papel que conheço bem pelo timbre e me entrega.
De fato, há uma procuração assinada e lavrada em cartório pelo seu tio. Respiro fundo reunindo forças porque de fato, terei que conviver com esse ser pelo menos no trabalho.
De soslaio, vejo um leve brilho no olhar desse carcamano, mas se ele pensa que me venceu, está enganado. Farei da sua vida um inferno, pelo menos até ele deixar de frequentar a minha empresa.
Faço um sinal para que ele se sente e o mesmo faz sem pensar duas vezes.
- Bom, se a nossa reunião era somente se apresentar, está apresentado. Agora posso dar por encerrada essa reunião.
Matt me interrompe e detesto quando me fazem isso.
- Na verdade, eu sei que meu tio não tem uma alta porcentagem na empresa como acionista, mas eu quero uma sala para estar trabalhando aqui e resolvendo as suas questões.
Sorrio incrédula com esse pedido.
- É sério isso?
- Muito sério Brenda. Não voltei só para o representar sem vir aqui trabalhar, afinal é parte dos negócios da minha família.
Reviro os meus olhos. O encaro como se houvessem mil facas para o apunhalar e com a minha aura sombria, o respondo sem nem ao menos me dar ao trabalho de ser educada.
- Por ser uma empresa de família, que não admitimos que qualquer pessoa queira uma sala somente para não fazer nada. Se esse é o seu objetivo, pode ir embora.
- Brenda, eu sei que errei muito com você e que não vai me perdoar...
O interrompo.
- Não perca o seu tempo me dizendo o que fazer, ou até mesmo falar do passado. Passado esse que está enterrado. Estou agindo como uma empresária que preza pela evolução da empresa e nos lucros. Eu sei separar bem as coisas, mas se o senhor não sabe, não posso fazer nada, o que me mostra que está no lugar errado.
- Me desculpe. Mas estou aqui para trabalhar.
- Ok.
Que cara chato! Realmente não percebi antes que ele era assim, mas agora não sei porque, aquele sonho que venho tendo ultimamente me veio a mente, será que era esse o aviso que me enviou antes. Esquece Brenda! Deve ser apenas uma coincidência.
Pego o meu telefone e interfono para a minha secretária.
- Pode vir a minha sala por favor?!
- Sim senhora.
Encerro a ligação aguardando a chegada da mesma que em segundos bate na minha porta e eu autorizo a sua entrada.
- Senhora...
- Providencie uma sala para o senhor Matt. Ele está representando o senhor Giuseppe, um dos nossos acionistas.
- Perfeitamente.
Olho em direção a Matt que está todo garboso com um sorriso de orelha a orelha que com certeza em breve o tirarei dessa cara de pau dele.
- Queira me acompanhar senhor?
Assim que Matt se levanta para acompanhar a minha secretária, os interrompo.
- Ah é só mais uma coisa.
Os dois me encaram.
- Que seja no andar debaixo a sala do senhor Matt já que o seu tio é um acionista minoritário.
- Tudo bem senhora.
Sorrio internamente pois, o sorriso que estava no rosto do Matt se desfaz ficando uma carranca até engraçada.
Assim que saem da minha sala o restante do dia foi maravilhoso.
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Em algum lugar da Itália...
A palestra que o jovem rapaz havia feito na Universidade da Sicília foi um sucesso. Todas as garotas que estavam acompanhando a bela apresentação, estavam não só encantadas com o conhecimento passado, mas com o belo homem que a conduzia com maestria.
Ao sair da Universidade após cumprimentar o reitor e todos os demais profissionais que o estimava muito, já que pela pouca idade, era um jovem de muito conhecimento e sabedoria.
Fora da Universidade, algumas belas mulheres se aglomeraram no estacionamento e uma jovem o chamou a atenção.
Ela estava na presença de ninguém menos que o seu tio Vicenzo.
Um belo jovem quase da mesma idade com a diferença de que Miguel é alguns meses mais velho, lembrava muito o seu pai Marximi quando jovem. Alto, Moreno claro, olhos castanhos e cabelos pretos. Não tinha nada na fisionomia da sua mãe Barbarela.
“Não acredito que meu tio está com mais uma”. – Pensou indignado por sua vida libertina.
- Meu sobrinho. Demorei mais cheguei! – Debocha.
Revira os olhos e ironiza.
- E já acabei a palestra. Estava o que, na farra mais uma vez “titio”.
A garota que estava de braços dados com Vicenzo, olhava de cima a baixo aquele belo homem a sua frente sem se importar em ser discreta.
Vendo as mulheres olhando cobiçosas para o seu sobrinho, Vicenzo sorri malandramente.
- Mas, eu acredito que cheguei na hora certa sobrinho. Olha quanta gatinha que você pode até arrumar uma namorada.
Abrindo o porta-malas, o rapaz coloca a sua mochila e encara o tio com desdém.
- Não obrigado.
Seguindo até o lado do motorista, abriu a porta para entrar e olhou mais uma vez para Vicenzo que o interrompe.
- Qual é meu querido. Está se amarrando a uma mulher que nem conhece só para acabar não achando. Tem que se divertir.
Colocando os óculos escuros com lente espelhada, ele sorri.
- A conheço assim, nos meus sonhos. Em breve nos esbarramos, eu sinto. Agora já vou, mamma e Melinda estão viajando e quero ver a minha nonna.
Sem esperar qualquer resposta, o jovem adentra no seu automóvel dando a partida. Acelera o deixando para trás com a mulher que Vicenzo passou a noite.
