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Capítulo 1 Ela está morrendo

- Sra. Powell, sua família não veio com você?

Elisa Powell estava confusa. Era apenas um relatório de exame físico, será que ela realmente precisava que alguém a acompanhasse?

Além disso, que família ela restava?

Sua mãe morreu no parto ao dar à luz a ela. Seu pai a tratava como uma ferramenta para ganhar dinheiro. Seu irmão a culpava pela morte de sua mãe e a odiava amargamente. E seu amante - ela o havia roubado. Se não fosse pelo fato de o médico ter mencionado repentinamente a palavra ‘‘família’’, ela quase teria se esquecido do que isso significava.

Depois de um momento de hesitação, Elisa balançou a cabeça.

- Só eu.

O médico franziu as sobrancelhas, levantou os óculos do nariz e soltou um suspiro pesado. Seus olhos estavam cheios de pena e seu tom era de desamparo. Ele entregou a Elisa a pilha de relatórios de laboratório em sua mesa.

- Sra. Powell, os resultados dos exames já chegaram. Câncer de estômago em estágio avançado.

Ele parecia ter pena daquela jovem que tinha uma doença tão terminal, falando e se movendo com cautela.

A respiração de Elisa ficou presa. Ela pegou o relatório do laboratório e franziu a testa ao ver os números. Ela não era médica, mas podia ver a gravidade do tumor em seu estômago.

Na verdade, ela suspeitava de algo quando fez a endoscopia, mas não ousava pensar nisso.

O médico apontou para as imagens, explicando-as uma a uma para Elisa. Elisa se distraiu, captando apenas metade do que ele dizia. Em resumo, ela não tinha muito tempo e precisava ser internada no hospital para fazer quimioterapia o mais rápido possível.

Quanto tempo poderia viver uma pessoa com câncer de estômago em estágio avançado? Elisa sabia mais do que ninguém sobre essa doença, pois seu avô havia lutado por dois anos antes de morrer.

O médico gentilmente sugeriu:

- Sra. Powell, recomendamos que seja internada o mais rápido possível para iniciar o tratamento. -

- Se eu for internada, vou melhorar? - perguntou Elisa roucamente, parecendo murmurar para si mesma.

O médico não respondeu, apenas balançou a cabeça impotente.

Então não havia cura. Elisa lambeu os lábios secos, se levantou e enfiou o diagnóstico em sua bolsa.

Ela agradeceu, virou-se e saiu da sala de diagnóstico.

Quando deixou o hospital, estava chovendo lá fora. A chuva fina misturada com o vento frio picava seu rosto como facas. Elisa abriu a bolsa, tirou o guarda-chuva e o abriu. A chuva caía na diagonal e o guarda-chuva não bloqueava o frio.

O clima de março não era muito frio, mas o frio de Elisa vinha de seus ossos, espalhando-se sem parar pelo sangue até os membros.

Seus dedos estavam vermelhos por causa do frio. Ela segurava o guarda-chuva com uma das mãos e fechava a outra em um punho no bolso, mas, por mais que tentasse, não conseguia se aquecer.

Elisa caminhou sem rumo, girando o anel em sua mão esquerda. Ela olhou para o céu nublado. O clima em Yorkshire mudava muito rapidamente. Antes que ela percebesse, a primavera havia chegado. A primavera deveria ser a estação da vitalidade, então, por que quando ela chegava, significava que ela iria morrer?

Elisa parou na beira da estrada e chamou um táxi. Quando ele parou, ela dobrou lentamente o guarda-chuva e se curvou para entrar no banco de trás.

O motorista perguntou:

- Para onde?

- North Bankshire - respondeu Elisa suavemente.

Depois de dirigir por um tempo, Elisa não pôde deixar de abrir a bolsa e olhar novamente para as imagens do diagnóstico.

O estômago nas fotos estava torcido e feio, difícil de acreditar que era parte de seu próprio corpo.

Ela teve o câncer de estômago por causa da fome. Nos quatro anos de casamento com Hamish Burns, para agradá-lo, ela cozinhou diligentemente de acordo com o gosto dele, pensando que, mesmo que ele não gostasse dela, pelo menos ver uma mesa cheia poderia fazer com que ele se sentisse um pouco mais à vontade com ela.

Mas Hamish não tinha nenhum desejo ou disposição para compartilhar uma refeição com ela. Mesmo assim, ela preparava o jantar todos os dias, enviando mensagens de texto na hora certa para que ele viesse comer. Toda essa espera não o trouxe, mas trouxe o câncer de estômago.

No final, ela não conseguiu conter as lágrimas. Elisa respirou fundo. Ela se considerava forte o suficiente para enfrentar qualquer tempestade.

Mas, hoje, toda a força que ela fingia ter se esvaiu instantaneamente. Seu estômago continuava com cãibras e Elisa se encolheu, incapaz de parar de tremer. Ela mordeu com força com um gemido abafado.

Ao ouvir seus soluços, o motorista olhou pelo espelho retrovisor. A mulher estava curvada, com as costas finas tremendo incontrolavelmente. Parecia que todo o ar do carro seria sugado por ela. Era a primeira vez que ele via alguém chorar com tanto desespero.

- Senhora, você está bem? Acabou de levar um fora ou está com problemas no trabalho? - ele perguntou.

Não houve resposta do banco de trás, então ele continuou:

- Nada é tão ruim que não possa ser suportado. Tente pensar positivo, chorar não resolverá nada. Vá para casa e descanse bem, amanhã o sol nascerá em um novo dia.

Elisa levantou a cabeça com um sorriso amargo no canto da boca.

- Obrigada. - Ela não esperava que a pessoa que a confortaria em sua doença terminal fosse um completo estranho.

O motorista apenas sorriu sem responder e voltou a se concentrar na direção. Quando chegaram a North Yorkshire, ele parou em uma vaga de estacionamento temporária.

A viagem de trinta minutos custou 28 libras. Elisa pagou e saiu do carro, rasgando o relatório do diagnóstico e jogando-o na lata de lixo.

Outro vento frio soprou. Elisa enxugou as lágrimas secas do rosto, retomando a expressão calma e tranquila de uma mulher madura. Apenas os olhos vermelhos e inchados e o rosto sem sangue denunciavam que ela havia chorado.

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