Capítulo 7
Samuel narrando.
O tempo é a única coisa a qual não temos controle na vida, por mais que você deseje pará-lo ou retroceder é totalmente impossível, a única coisa a se fazer é saber aproveita-lo o máximo possível para que assim não haja arrependimentos, foi exatamente isso que deduzi ao ver Dylan pedindo Marina em casamento, eu poderia correr lá e impedi-los, poderia contar toda a verdade e dizer que estava vivo, mas escolhi não fazer isso, a vida roubou esse tempo de mim e Dylan ousou em agarra-lo. Pela primeira vez escolhi sacrificar minha felicidade em pró da dele, não importa quantos anos se passassem e o quanto Dylan me odiasse, ele sempre será como meu segundo irmão, se a queda da aeronave não foi um acidente, só espero que ele não esteja envolvido nisso. Sei o quanto pode ser egoísta as vezes, e todo o mal que fez ao Alex tentando atingir-me, agora se tornar um assassino? Não posso acreditar que seria capaz e me atormenta em pensar o que eu faria se realmente fosse verdade.
O Dylan seria capaz de tal ato apenas para ficar com a minha mulher? Não quero pensar nisso, ódio não é algo que gostaria de carregar no meu coração, desejo que ambos sejam felizes, se Marina o ama, isso é a única coisa que importa. Agora se não foi o Dylan quem poderia ser? Não sou um homem que tem inimigos, pelo menos não que soubesse.
Atravessei a rua destroçado, não poderia negar a dor e o conflito que estava sentindo, se fosse seguir meu coração jamais a deixaria escapar, indo contra todos os meus princípios a tomaria de seus braços, e sinceramente? essa é minha vontade. Só que não posso! Dylan perdeu sua mulher por minha culpa, e agora finalmente conseguiu seguir em frente, Marina está feliz sem mim, estou feliz que tenha superado minha morte com tanta determinação. Porque de fato minha vida foi um grande nada sem ela, nem preciso de memória para saber o quanto infeliz e vazio estive nesses últimos anos.
Olhei para o alto e percebi que o céu estava escurecendo, preciso comprar uma jaqueta e ir ao hotel para passar essa noite. Entrei na loja logo a minha frente e escolhi um casaco de couro para me proteger da chuva, a assistente terminou de passar o cartão e guardei no bolso da jaqueta, aproveitei e o vesti no provador. Estranhamente meu cabelo se encontrava grande como sempre, talvez meu inconsciente tenha me impedido de cortá-lo nos últimos anos que vivi sem memória.
A chuva começou a engrossar gradativamente, puxei a touca cobrindo e fui em busca de um abrigo, meus olhos pararam no antigo cinema e foi onde decidi me esconder da chuva, fiquei no canto de costas checando se meus documentos estavam na carteira, aliviado, respirei fundo me virando no exato momento que Marina entrou como um furacão passando perto de mim, sem notar minha presença.
Como se meu corpo tivesse vida própria dei alguns passos ficando atrás dela, ela pediu para o atendente a abrigar ali, e ofereceu dinheiro, estava nervosa e um tanto afobada, foi quando tirou a bolsa desajeitadamente e sua toca caiu, revelando seus cabelos selvagens e ondulados, parecia tão macios que tive que me controlar para não toca-los, passou sua mão por baixo o ajeitando e suas pontas tocaram meu rosto, fui totalmente invadido por sua fragrância me deixando tonto e recuei um passo para trás.
Logo depois se retirou entrando no salão.
__ Com licença, qual é o filme que aquela mulher escolheu?
__Nenhum Senhor.
__ Ótimo, vou escolher um para ambos, também desejo entrar. __ O filme é a Bela e a Fera.
__Como preferir, pode entrar. - Lançou um sorriso cordial e aceno.
Eu sei, não havia lógica alguma para tentar justificar o que estava fazendo agora, dane-se! eu queria apenas passar alguns minutos com ela, queria poder guardá-la na minha mente por mais tempo, mesmo sabendo que de alguma forma ela nunca saiu definitivamente de lá, me sentei em uma fileira um pouco atrás, apoiei o queixo sobre a mão e continuei a monitora-la mesmo de longe, não sabia qual era sua reação quando o filme começou a passar, mas tive a certeza da minha, meu peito se angustiou e a necessidade dela começou a aumentar, respirei fundo. O que estou fazendo? Não posso ficar aqui, não posso suprimir meus sentimentos se continuo a mendigar por migalhas.
Me levantei imediatamente e resolvi ir embora de uma vez por todas, eu sei que iriamos nos encontrar novamente, só espero estar maduro o suficiente para lidar de forma afável com toda a situação, e dando uma última olhada para trás deixei o salão.
Lembranças do dia do acidente começaram a retornar aos poucos, lembrei quando o piloto avizou que o combustível estava vazando e que teríamos que fazer um pouso de emergência, a ideia éramos pousar em uma área aberta perto da floresta, porém o avião começou a dar pane no sistema, a única solução era o mar, por isso me mandou colocar o salva vidas que iriamos pular, me entregou uma pasta e alguns envelopes lacrados e disse se acaso não sobrevivesse era para procurar sua esposa. E infelizmente o pior aconteceu, mesmo parecendo ter deixado no piloto automático o avião mudou de rota se chocando com uma montanha antes que pudesse pular.
Por sorte, a pasta esteve guardada por todos esses tempos na minha maleta , fui até o hotel e analisei os papeis, descobri que sua mulher morava em uma ilha não muito longe daqui, o dia amanheceu e fui em busca de alugar um pequeno iate. Era necessário ocupar minha mente com outra coisa, por isso nada melhor que buscar justiça, se Dylan for mesmo o responsável por esse acidente ele vai ter que pagar, não por mim e sim pela morte do piloto e Marina que me perdoe, mas nem ela vai conseguir me impedir.
Aluguei um iate em porto seguro, estava terminando de pagar o valor devido, ainda estava usando o nome de Gregório, pelo menos por enquanto não quero que saibam que estou vivo. Era esse meu plano se não fosse um pequeno obstáculo.
__Senhor Sam! - Girei o pescoço avistando o Vitor vim correndo na minha direção, tentei ignorá-lo. desfiz o nó para sair a bordo.
__Senhor Samuel! Não adianta fingir que não meu viu, Meu Deus! Como isso é possível? O Senhor está mesmo vivo? Sempre acreditei que não tinha morrido. Marina precisa saber disso. Marina corre aqui, seu amor ressurgiu das cinzas! - Gritou, e corri até ele e tampei sua boca.
__Ficou maluco? O que pensa que está fazendo? O reprendi irritado. - Ele bateu na minha mão para soltá-lo.
__Eu estava blefando. Marina não está aqui. - Sorrio zombando.
__Claro, Vitor deixa-me dizer uma coisa? Marina não pode saber que estou vivo. Nem ela e muito menos minha família por enquanto. E você vai ser meu fiel escudeiro se ficar calado. - Advirto seriamente.
__Aé? E o que te faz pensar que vou guardar seu segredo Senhor Samuel? - Me desafiou arqueando a sobrancelha.
__Está vendo esse Iate? Ele pode ser todo seu quando eu terminar de usá-lo nessa missão. - Encarou o Iate e em seguida a mim.
__Minha boca é um túmulo, por onde eu entro? - Caminhou procurando a entrada e balanço a cabeça sorrindo.
Vitor entrou olhando tudo em volta de boca aberta, e o sigo logo atrás.
__Jessica vai enlouquecer quando ver isso aqui.
__Você ainda está com a Jessica? Estou feliz por vocês. - Sorri honestamente.
__Sim, estamos casados, sou pai de família agora, veja só. Mostrou a aliança orgulhoso. __Mas voltando ao assunto, por que não quer que ninguém saiba que o Senhor está vivo?
__ É melhor assim Vitor, pelo menos por enquanto. __Não se preocupe, não vai precisar guardar esse segredo por muito tempo.
__Posso me sentar? Apontou para a poltrona. __Embora esse iate seja incrível, aceito guardar o segredo também porque sou seu amigo. Deve ter seus motivos, só que sou amigo da Marina, quero dizer ela sofreu muito com sua perda, embora agora esteja namorando seu primo Dylan. - Tampou a boca.
__Tudo bem Vitor. Já sei que Marina e Dylan estão juntos.
__Já sabe é? Como descobriu?
__Isso não importa. - Pigarreio __Esquece a Marina um pouco. Vou ter de contar alguns detalhes do que aconteceu comigo, e o que quero que faça por mim. Você está livre? Porque teremos que viajar.
Vitor informou Jessica sobre a viagem, e como ela acabou ficando preocupada e Vitor contou que estava gravida, resolvi contar para ela também e pedir segredo. Mesmo correndo o risco de ir correndo contar tudo para a Marina, na realidade, não acredito que vou poder esconder essa morte por muito tempo.
Fiz um jantar para nós dois, Vitor comeu e ficou cantando várias músicas aleatórias no Karaokê se divertindo, quase senti falta da sua energia. Sempre reparei sua semelhança com a Marina, enquanto Vitor desfrutava do conforto do Iate fui para fora respirar ar fresco.
Peguei a maleta e sentei-me na cadeira, o céu estava demasiadamente estrelado hoje. Apoderei-me da minha câmera e resolvi tomar coragem e verificar o que havia dentro dela. Passei algumas fotos de modelos, pelo visto era esse meu trabalho, sempre fui um bom fotografo tenho até licença para fotografar, tinha fotos minhas em festas com algumas pessoas estranhas as quais não reconheço, era mais de cinco mil fotos e nenhuma delas atraia minha atenção, em algumas estava bastante diferente de cabelo curto e terno e gravata, algumas de mascará, talvez algum baile a fantasia? porém meu olhar era vazio e triste. Foi então que uma foto em especial me chamou atenção, deslizei o dedo franzindo a testa retornando a foto anterior, uma moça vestida de amare-lo usando uma máscara brilhante, tirei várias fotos dela comendo escondida na cozinha e outras dela vindo na minha direção. Balancei a cabeça incrédulo tentando segurar as lagrimas.
Mesmo sem te conhecer meu coração continua me puxando para você, como se precisasse de você, não importa qual seja minha versão, Samuel ou Gregório, ele sempre irá ansiar e correr para encontrar-te Marina.
É uma pena que agora seja necessário eu fazer o contrário, eu sei que prometi que voltaria e realmente voltei, mas dessa vez não posso ficar.
Quero acreditar que existe um motivo por trás disso, quero tentar compreender o que o Senhor tem preparado para mim, mas porque tudo parece tão injusto? Por que sobrevivi a esse infeliz acidente se como consequência perdi tudo o que mais amava? Por que continuo sobrevivendo e outras pessoas morrendo por minha causa? Por que não eu, ao invés da Jade? Ou ao invés do piloto desse avião? Vejo a bíblia dentro da maleta e balanço a cabeça em negativo, fecho a maleta sem olhá-la.
__Não consigo entender, não há mais resquício de fé dentro de mim. Se era para sobreviver e passar por essa dor de ver a mulher que eu amo com meu primo. Deveria ter morrido e deixado eles serem felizes sem mim, mas se esse é meu castigo, tudo que tenho que fazer é acatá-lo.
Amanheceu, descemos na Ilha, de cara fiquei surpreso com o lugar, várias arvores, principalmente coqueiros, o sol estava ardente e aquela sensação de liberdade tomou conta do meu interior, natureza! Senti tanta falta disso, também vislumbrei alguns aquários pelo caminho com peixes de todos os tipos, cheguei à conclusão que deveria ter visitado esse lugar antes, Vitor e eu seguimos a estrada de areia a procura das poucas casas que tinha na região, também avistei algumas montanhas e uma parte de mata fechada.
Depois de analisar o lugar, finalmente encontramos a casa que estávamos procurando. Bati na porta e aguardei alguém atender.
__Espero que não seja tarde para dizer, mas nós já estivemos aqui. - Girei o pescoço o encarando.
__Sério? - A porta se abriu bruscamente e meu rosto se direcionou para a pessoa que atendeu.
__Pois não, Meu Deus! - Ela colocou a mão na boca chocada como se tivesse visto um fantasma.
__Oi Senhorita Erica. - Vitor acenou tímido.
__Olá Vitor. - Continuou me olhando espantada.
__Eu sou o Samuel Miller.
__Eu sei quem você é, não posso acreditar que está vivo, sua mulher tinha razão. Deus faz coisas extraordinárias. - Crispei os olhos. Marina esteve aqui?
__Perdoe-me, podem entrar. - Gesticulou e concordei sem graça.
Nos acomodamos e Erica contou muitas coisas a quais não sabia, inclusive, sobre ter se aproximado da Marina nesse tempo por causa do acontecimento.
__Eu sinto muito pelo seu esposo, prometo que vou fazer de tudo para conseguir pegar o responsável por esse atentado e assim poder me redimir. Graças a ele estou vivo. - Ela soltou um longo suspiro.
__Não acredito que será fácil, eu sou advogada e a anos venho tentando resolver esse caso. Sabemos que foi um atentado, mas ainda não encontramos o responsável.
__Com minha ajuda iremos encontrar. lhe dou minha palavra.
__De qualquer forma Samuel a culpa não é sua, conheço meu marido e ele faria exatamente o que fez, daria a vida para salvar quem estivesse ao seu lado. - Engoli seco desviando o olhar.
__Ele foi um herói. Ele parecia desesperado em me salvar, sem se importar com ele.
__Imagino. - Seus olhos encheram de lagrimas. __ Realmente desejo que a justiça seja feita.
__E se depender de mim, será.
__E a Marina? Deve ter ficado muito feliz quando descobriu que está vivo. - Sorrio fraco.
__Ela ainda não sabe.
__E por que não? Perguntou confusa.
__Muita coisa mudou como deve saber, Marina seguiu em frente e não a culpo por isso.
__Não vai ao menos lutar por ela? É seu primo entendo, mas não deveria ser ela escolher com quem quer ficar. - Neguei com a cabeça.
__Existe muitas coisas que não sabe. Enfim, sei que a pessoa que tentou me matar pode tentar de novo se descobrir que estou vivo. E quem estiver comigo pode acabar levando a pior. Sei que ainda estou casado com a Marina, por isso Erica, se não for aproveitar da sua boa vontade, queria que me ajudasse com o divórcio. - Apoiei minhas mãos sobre o joelho e crispou os olhos.
__Tem certeza Samuel? É realmente isso que deseja, se afastar da mulher que ama?
