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Abaddon (Feras Indomáveis - Vol.1)

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Dalla Mendes
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Resumo

Nunca atravesse as trilhas depois do rio, dizia sua mãe. Mas, ela precisou fugir para se salvar. E já não havia mais como escapar quando o demônio colocou as mãos em sua alma!

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Capítulo 1

— Fuja! Ele vai matar todos nós! — Lisbeth viu o desespero nos olhos de sua mãe puxando-a de dentro do armário, onde havia escondido a pobre filha.

O cheiro de fumaça começava a subir, os olhos de Lisbeth já estavam cheios de lágrimas pelo medo, agora lacrimejavam com o torpor fumegante da fumaça tóxica. Sua mãe segurava as barras do vestido com uma mão e na outra o braço de Lisbeth, arrastando a musseline fina no rastro do medo, tentando livrar a filha daquele maldito pesadelo.

Em outrora viveu um sonho, agora vivia cada dia achando que era o último. Este, muito provavelmente, seria o último.

Desmont, seu marido, descobriu recentemente o caso de Carmélia. Sim, Carmélia não se orgulha por não ser o exemplo paroquial da boa esposa, mas sorria com tranquilidade quando se recordava do amor que viveu nos braços do amante. Amor este que nunca teve nas mãos de Desmont. O marido patife lhe batia constantemente, se deitava com vagabundas de bordéis baratos e agora passou a agredir Lisbeth, sua filha, sua querida pupila.

Carmélia não saberia dizer quantas vezes dobrou seu joelho em agradecimento por não ter dado a luz a tantos filhos. Três foram o suficiente, um infelizmente não chegou a nascer com vida, restando para si Edgar e Lisbeth. Edgar tende a ser seu protetor, mas este estava fora à trabalho, voltaria no mais tardar em uma semana e até lá… Já estaria morta. Restava a esperança de proteger a filha, a fim de que Edgar a encontrasse depois, com vida.

— Fuja!

— Não a deixarei! — gritou Lisbeth olhando a escada, a fumaça aumentando enquanto segurava a mãe — Papai vai matá-la!

Sem que pudesse esperar, Carmélia separou a filha de seus braços, deu-lhe uma bofetada no rosto e deu sua melhor carranca de mãe. Não importa o que custasse, ela tiraria Lisbeth de lá, fazendo a menina se desgrudar de suas saias, para correr por suas próprias pernas.

— Não se desobedece às ordens de uma mãe! — Lisbeth segurou a marca no rosto e olhou espantada quando viu as bochechas da mãe encharcadas de lágrimas — Fuja, eu estou mandando fugir!

Sem esperar por uma reação, Carmélia segurou no braço fino de Lisbeth e a puxou consigo escada abaixo, se deparando com o fogo que se iniciou na cozinha. A madeira do casarão, apesar de grosso, não resistiria por muito tempo, estava para subir e logo comprometeria a estrutura da casa. Foi quando atravessou a porta que o maldito marido a encontrou.

— Carmélia, você e esta cria imunda, vão morrer! — berrou ao longe, ainda dando voltas na casa.

— Fuja! — gritou Carmélia empurrando Lisbeth — Fuja!

— Mamãe!

— Atravesse o rio! — pediu Carmélia segurando o rosto da filha e beijando suas bochechas — Ele vai mover a cavalaria para lhe encontrar, mas o rastro se perde ao atravessar o rio. Corra! Subas as montanhas!

— A igreja me condenaria… — murmurou Lisbeth, vendo desespero nos olhos da mãe.

— A Igreja nunca lhe salvou das mãos de teu pai. Corra! Fuja, Lisbeth! — ela foi arrancada dos braços da filha de forma agressiva, fazendo a mulher cair no chão e sangrar no canto de sua cabeça pelo golpe desferido por seu próprio pai. Quando o mesmo ia atingir Lisbeth, Carmélia agarrou as canelas do homem, mordeu-lhe a pele peluda e o mesmo berrou, chutando-a a contragolpe. — Fuja Lisbeth! Fuja! Espere Edgar! Fuja! — berrou, puxando as calças do marido e o fazendo cair no chão.

Lisbeth é uma criatura pequena, magra e frágil, mas fez o que a mãe mandou. Se arrependeu de ter olhado para trás e ver a mãe ainda sofrer com os golpes do pai, cego de raiva; e adentrou o milharal da fazenda, rezando para correr o suficiente antes de ser encontrada. As farpas do milho seco rasgavam os braços quase nus, mas ela segurou a musselina fina na barra do vestido, pisoteou o chão com fervor e correu.

Nunca em sua vida sentiu tanto medo, nunca em sua vida sentiu tanta raiva de si por ser uma criatura amedrontada. Ela temia por sua mãe, pois já fazia um tempo que tinha tanto medo do pai, que nem em seus olhos conseguia olhar. Sua mãe cometeu o crime do adultério, se não fosse morta pelas mãos do pai, seria escorraçada pelo presbitério da igreja; e viveria o resto de sua vida na vergonha e na miséria. Isso fez Lisbeth chorar ainda mais, correr ainda mais e quando olhou para trás, viu as labaredas de fogo subir. Elas desenhavam o inferno em vida, e os gritos agudos e distantes ecoavam, gravando seu pesadelo em sua memória Sua mãe estava morrendo e Lisbeth fugindo…