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Capítulo 3

Fernanda

Fui indo em direção a garagem, coloquei minha mala no carro e abri a porta do carona para entrar, mas ele a bate com força me impedindo.

— Para de agir feito criança, caralh*!

Olhei para ele incrédula. Felipe estava com os olhos vermelhos, não sei se por não ter dormido ou por ter usado alguma coisa.

— Criança, eu? — falei um tanto debochada enquanto cruzei os braços e me escorei no carro. É, talvez eu estivesse sendo um pouco infantil mesmo, mas eu estava com muita raiva dele, então acho eu que tinha esse direito.

— Você sai transando com todas as mulheres que aparecem pela frente sem se prevenir, mas eu é quem sou criança? Tá bom! — ri debochada no final.

— Não fala o que você não sabe! — ele respondeu.

— Felipe, vamos fingir que esse circo que você montou aqui ontem, não aconteceu, tá legal? Agora eu entendi, você fez esse teatro todo de casamento para que eu não descobrisse sobre seu “outro filho”. — falei com aspas porque estou com muito ódio e ele pegou meu braço com força, me assustando com a sua agressividade.

— Olha aqui, eu fiz isso tudo que você acabou de chamar de circo, teatro ou sei lá o que você pensa, porque eu te amo, porque é com você que eu quero ficar e não importa se eu tenho outro filho ou não, nada vai mudar entre a gente! OLHA PRA MIM CARALH*! — falou para eu olhar para ele, pois eu estava com o rosto virado para o lado contrário, não queria encarar seu olhar.

Ele vira meu rosto, me fazendo olhar no olho dele.

– Que papo é esse de não vai mudar nada? Muda tudo! – você não percebe, Felipe?

— Não muda nada, Fernanda! Entre nós, vai continuar tudo como sempre foi.

— Você está se ouvindo? Presta atenção, é um filho seu que não é comigo e você está dizendo que não muda nada? Então, quando você saiu da cadeia, se você estivesse feliz com a Jéssica, o meu filho também não mudaria nada na vida de vocês?

— Não viaja, Fernanda! É muito diferente!

— Não é diferente coisa nenhuma, Felipe! Um filho, é sempre um filho, independente da situação, sem falar que você me traiu!

— Eu não te traí porr* nenhuma!

— Para de mentir Felipe, para! Eu já descobri, abre o jogo, quando foi que aconteceu? Quando eu estava no cativeiro, no hospital ou quando eu estava lá no apartamento da sua mãe? Fala! — eu estava fora de mim.

— Você pensa isso de mim? Você acha que eu seria capaz de te trair enquanto você tinha acabado de passar por um sequestro, perder nosso filho e ainda quase morrer? É esse tipo de homem que você acha mesmo que eu sou? — ele balançou a cabeça em negativo.

Eu não respondi a pergunta dele, fiquei em silêncio e ele foi me puxando pelo braço para voltar para dentro da casa.

— Me solta, Felipe! Eu não fico nem mais 1 dia aqui com você. Me larga, me esquece! Maldito dia que eu me envolvi com você de novo!

Nessa hora ele parou, me olhou e perguntou:

— É isso mesmo? Você se arrependeu de ter voltado comigo?

— Muito! — mesmo me doendo demais  e sendo mentira, soltei isso como se fosse um vômito, eu estava magoada e queria magoá-lo também. Ele me puxa em direção ao carro novamente, me forçando com brutalidade a entrar.

Volta para o interior da casa, deve ter ido trancar as portas e ativar o alarme. Fala ao telefone com alguém, traz uma mochila e entra no carro, dá partida e sai em alta velocidade.

Voltamos para a Penha com ele dirigindo feito um louco e permanecemos o tempo todo em silêncio. Durante o caminho, fui refletindo e tentando digerir o que estava acontecendo.

Em tempo recorde, estávamos chegando no morro e assim que chegamos em casa, Ângela estava sentada no tapete da sala, brincando com o Gabriel. Felipe vai até eles, beija Gabriel enquanto permanece calado.

Ângela, percebendo que algo está errado, pergunta:

— Aconteceu alguma coisa? — o olhar dela ia dele para mim e vice versa.

Ele não responde a pergunta, apenas me olha e vai para o segundo andar da casa.

Eu suspiro, abraço forte meu filho, o enchendo de beijos, sentido seu cheirinho que eu amo e que estava morrendo de saudades.

— O que está acontecendo, Fernanda? Vocês acabaram de casar e parece que voltaram de um enterro?

Gabriel voltou a brincar, muito interessado num jogo de montar peças que eu percebi ser novo, provavelmente Ângela deu a ele.

Sentei no sofá e comecei a contar, poucos minutos depois, parei de falar porque o Felipe desceu, veio dar mais um beijo no Gabriel e saiu sem falar nada batendo a porta com força.

Assim que contei a Ângela tudo o que sabia até o momento, ela estava visivelmente abalada, passava a mão na testa enquanto estava com os cotovelos apoiados no joelho.

— Fernanda, minha querida, de todo meu coração, eu não gostaria que você passasse por tudo que eu passei, mas parece que a história está se repetindo.

— Como assim? O seu marido também teve um filho fora do casamento? – perguntei.

— Até hoje não apareceu nenhum. Como já lhe contei antes, eu fui muito feliz com o pai dos meninos. Mas antes eu vivi um inferno na minha vida de casada, então eu não ficaria surpresa se daqui a pouco aparecesse 1, 2 ou sabe-se lá quantos filhos que ele tenha tido com várias mulheres por aí.

Involuntariamente coloquei a mão na boca, chocada e logo peguei a mão dela em sinal de solidariedade.

— Sabe Fernanda, apenas duas pessoas até hoje ficaram sabendo tudo o que realmente aconteceu entre mim e o Jorge.

Jorge era o pai do Felipe e do Eduardo.

Ela pensa um pouco, suspira e volta a falar.

— Uma dessas pessoas, foi a Josefa e a outra, a pessoa que eu achava ser a minha melhor amiga, a pessoa que sabia tudo da minha vida, a qual peguei na cama com o meu marido, um tempo depois...

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