Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Maju 1

Depois de um longo dia puxado de trabalho e um insistente cliente chamado Eduardo ficar o dia todo no meu pé, eu em fim consigo voltar para a minha casa. O meu trabalho é bem longe do morro do Alemão onde moro, lá eu não tenho muitas amizades e nem ando na rua, nunca fui nos bailes ou nas festas, só tenho uma única amiga que se chama Jenifer ou melhor Pretinha, nós crescemos juntas. Ela é bem diferente de mim, tem uma alma de pipa voada e fica até mesmo no meio dos caras perigoso, porém eu não tenho muita coragem e passo bem longe deles por medo mesmo. O único que ainda converso é o Jeferson, irmão dela, e o Madson que ela anda pegando escondido de todos, mas minha mãe não gosta muito e diz para eu sempre correr deles e principalmente do Imperador, deste eu tenho muito medo, a fama dele é de homem frio e calculista que mata sem piedade. A Dani, filha da amiga da minha mãe se envolve com ele e só anda com a cara quebrada. Penso enquanto as horas passam dentro do ônibus

Assim que chego na ponta do morro já fico desanimada, mas fazer o que né? A vida não é fácil para ninguém e principalmente para uma favelada como eu. Penso subindo e percebo quando os vapores da entrada começam a soltar conversa. A verdade é que eles não se importam que eu ouça o que eles dizem. 

Vapor1- Nossa! Chegou a princesinha da Favela man. O melhor do meu plantão é ver ela passando para ir pra casa.

Vapor2- A mulher mais linda que a favela já viu, por ela eu largo até essa vida de bandido... Eles comentam e eu finjo não ouvir enquanto continuo subindo até que paro ao ver uma movimentação na pracinha e pessoas aglomeradas em um formato que lembra o circulo. Por uma brecha consigo reconhecer a Dani, ela está brigando com alguém novamente, provavelmente por causa do Imperador. Ela não muda e parece que também não cansa de pagar mico, e pensar que no passado éramos amigas. Eu nunca pensei que no futuro ela estaria nessa situação, tão mudada, tão diferente. A garotinha de olhos verdes que costumava ir para minha casa quando criança para brincarmos de boneca não existe mais, olhando ela agora no presente, tento notar algum resquício da Dani que conhecia, mas não encontro, ela se tornou  uma total desconhecida aos meus olhos... A mesma está usando uma mini blusa rosa, os cabelos estão compridos. O comentário da favela toda é que o Imperador bancou as cirurgias plásticas dela e até deu dinheiro para ela colocar o cabelo. 

A gritaria continua e eu fico ali tentando passar para ir embora, mas sou impedida pela multidão. O povo começa a gritar encorajando toda a cena, em meio essa situação vejo algumas pessoas fotografando e gravando como se tudo fosse um show do seu ídolo, mas aquilo estava mais para um show de horrores. A Dani humilhava a menina pegando uma tesoura para cortar o cabelo e nesse momento escuto um barulho de motos e quando vejo lá está o Imperador e o Morte, os dois ali no meio da confusão, o povo abre espaço e consigo vê-lo ali sem camisa mostrando as suas tatuagens e não posso negar, ele é muito bonito.

Ele também é um diabo e eu tenho pena da Dani que vive se rastejando a esse homem frio, eu não queria está na pele dela... Penso olhando para eles até ver ele pegar a arma e dar tiros para cima, eu saio dali rápido tentando me esconder. Eu nunca cruzei com ele, ele nunca me viu e nem deve saber da minha existência, e isso é bom porque de pessoas assim devemos manter distância.

Vou caminhando até chegar na minha casa e lá eu vou direto para o meu quarto. Ele não é muito grande, nele há uma cama de solteiro, uma cômoda de cabeceira com um abajur e um aparelho velho de som, ao lado da cama decorando o chão tem um tapete colorido e por fim, o que eu mais gosto no meu quarto, uma janela com cortinas brancas quase transparente, que proporciona a visualização do céu, desde a cor alaranjada quando o sol se põe até a cor escura do céu estrelado.

Pego uma roupa e saio dali indo direto para o banheiro, onde tomo um banho frio e visto um pijama rosa com desenhos de bananas.

Me sinto completamente confortável com a minha escolha, desço as escadas para arrumar a mesa do jantar, pois daqui a pouco a minha mãe chega e eu quero curtir um final da tarde ao seu lado, com esse pensamento vou direto para a cozinha preparar a janta e nesse momento escuto a voz da doida da Jenifer.

Jenifer: Miga, cheguei!

Maju: oi doidinha, entra aí, a porta tá aberta... digo gritando da cozinha e logo ela vem até onde estou.

Jenifer: oi meu amor lindo... Como foi hoje no trabalho?

Maju: oi amiga, foi tranquilo e cansativo como sempre.

Jenifer: E o bonitão da zona sul? Me conta se vocês já ficaram.

Maju: Ainda não, amiga. Ele me chamou para sair, porém eu ainda não confirmei se vou. Não sei  se devo ir, amiga.

Jenifer: Aí amiga, para disso... Deixa de fazer cu doce. Eu quero só ver quando você vai dar essa piriquita mulher. Tu já tem 22 anos e nada, não sabe o que está perdendo.

Maju: Aí... Não é assim as coisas não, eu preciso me apaixonar. Eu quero que seja especial, só isso amiga.

Jenifer: Tá bom, tu que sabe e enquanto isso eu vou continuar curtindo.

Maju: Curtindo com um homem perigoso amiga, cuidado!

Jenifer: Ai amiga, ele faz gostoso, pena que é descarado e não fica só comigo.

Maju: E aí tu faz papel de trouxa igual a Daniella

Jenifer: Não amiga, não mesmo... A besta anda por aí pagando de fiel e querendo bater em todo mundo por causa do imperador e ele passando a rola na favela toda.

Maju: Pois é, e cuidado para você não acabar assim. Hoje mesmo estava chegando do trabalho e estava rolando a maior briga da Daniella com alguma mulher, o Imperador e o Morte chegaram bem no meio e eu imagino até o fim dela.

Jenifer: Ficar com o rosto todo inchado de porrada, né minha gostosa?

Maju: Meu Deus, só pode ser louca de se submeter a isso.

Jenifer: Amiga, a fama é que o imperador faz gostoso e todas querem sentar para ele. A Dani foi brincar e se apaixonou. Quer vida fácil, dinheiro e curtição ao lado dele, então tem que pagar o preço amiga

Maju: Pois é, então análise porque o Madison não é flor que se cheire.

Jenifer: Tá bom Maju. Eu sei me cuidar, relaxa... Eu só tô brincando e ele também. Porém eu vim aqui te chamar pra irmos no baile amanhã.

Maju: Não sei não, acho melhor não amiga

Jenifer: Pensa com carinho amiga,  por favor... Bom, agora vou lá em casa que talvez eu receba uma visita hoje.

Maju: Eu imagino até quem é essa sua visita, Dona Jenifer.

Jenifer: Ai amiga... Sou jovem, eu curto hoje e amanhã me arrependo com o rabo ardendo... Ela diz e sai correndo, eu fico ali rindo das maluquices dela e continuo cozinhando. Quando termino desligo o forno e me deito no sofá para assistir televisão e acabo pegando no sono.

Desperto assustada e olho no relógio vendo que já são 22 hrs e a minha mãe ainda não chegou. Isso é estranho demais, pois ela sempre chega 19 hrs, eu não entendo. Me levanto preocupada já achando que aconteceu algo e quando pego o telefone para ligar a porta da casa é aberta e minha mãe aparece com uma cara abatida.

Maju: Mãe? O que foi? Por que a senhora está assim?

Maria: Filha, eu passei mal no trabalho e fui levada ao hospital e lá fiz uma bateria de exames e descobri que estou com câncer, meu amor. E para piorar tudo, a minha patroa me demitiu.

Maju: Calma mãe, vai ficar tudo bem! A senhora é forte. Fica em casa descansando e se cuidando e eu continuo trabalhando e cuidando das despesas da casa.

Maria: Meu amor, eu só tenho um mês de vida

Maju: Como assim mãe? Tá brincando comigo?

Maria: Não, meu amor. Eu não estou brincando... Eu preciso fazer uma cirurgia no valor de 40 mil e eu não tenho esse dinheiro, então eu vou morrer.

Maju: Meu Deus, isso não! A gente vai dá um jeito, mãe. Eu não sei, podemos tentar fazer alguma coisa. Sei lá,  vamos falar com o dono do morro e pedir dinheiro emprestado ou com o Madison, ele namora a Jenifer, ele pode nos ajudar  e a gente vai pagando aos pouquinhos.

Maria: Não minha filha, nada disso. Não pense nisso, não se meta com esses homens.

Maju: Eu não quero te perder,  minha mãe... digo me levantando e saio dali sem rumo com lágrimas nos olhos.

Como eu iria viver sem a minha mãe, isso não é justo. Sempre foi apenas nós duas, uma pela outra e agora essa bomba cai no meu colo e eu não sei nem o que fazer, mas de uma coisa eu sei, eu não quero perder a minha mãe, eu não posso viver uma vida sem ela, isso acabaria comigo. Eu preciso dar um jeito, preciso arranjar uma solução para isso, não sei como, mas preciso... Fico andando sem rumo e quando paro percebo que estou em frente a casa da Jenifer, bato na porta e de imediato quem abre é o irmão dela, o Jeferson.

Jeferson: Maria Júlia, o que está acontecendo... Que cara é essa menina? E as roupas que você está vestida... Eu não consigo responder, apenas sigo até a Jenifer que está parada  a poucos centímetros atrás dele e me desmancho em seus braços, não me importando com nada em minha volta.

Jenifer: Se acalma, amiga. O que foi?

Maju: A minha mãe está muito doente, só tem um mês de vida e eu preciso de 40 mil reais. Não sei viver sem ela!

Jenifer:  Calma, meu anjo. Vai dá tudo certo e prometo que vou tentar te ajudar.

Maju: Menor, você tem como me ajudar? Me empresta e eu pago.

Menor: Eu não tenho esse dinheiro todo não.... O Morte que também estava ali diz

Morte: Vai dá tudo certo, Mana.

Maju: Como Madison se eu não tenho como salvar a minha mãe? Me ajuda Madison!

Morte: Eu não tenho como te ajudar, mas eu sei quem pode te ajudar.

Maju: Quem?

Morte: O Imperador, só que ele vai cobrar esse favor.

Menor: Ficou doidão? Querendo entregar a Maju na mão do Imperador? Ela não merece isso não.

Jenifer: Eu concordo, ela não merece ele mesmo não e eu não vou deixar ela fazer essa merda.

Maju: Eu aceito. Fala com ele para mim, por favor.

Madison: Você tem noção do que ele vai querer em troca Maju?

Menor: É lógico que ela não tem e ela não deve se meter com ele...

Maju: Tudo bem, eu quero e eu preciso salvar a minha mãe.

Madison: Beleza, eu vou falar com ele e te digo, provavelmente eu faça esse encontro com vocês amanhã no baile e ele não vai negar, eu tenho certeza que ele vai ficar louco. Você é muito linda!

Maju: Tudo bem, eu suporto só uma noite e depois fico livre.

Menor: Não acho que vai ser só uma noite não, mas tudo bem, eu só espero que você tire isso da sua cabeça.

Maju: Fica calmo, eu vou ficar bem, eu sei o que estou fazendo e tudo isso é pela minha mãe.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.