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CASSANDRA RIEZ

MADRI, 26 de Março de 2015

Querido diário!

Essa data ficará marcada como o dia que encontrei o amor da minha vida, quer dizer, eu já conhecia como você bem sabe, há tempos que falo sobre ele pra você. O nome dele é Yago Valente irmão mais velho da minha melhor amiga Estela.

Tudo aconteceu quando estudávamos na antiga escola. No nono ano numa tarde chuvosa, uma caminhonete antiga encostou no meio fio. E quando o motorista barbudo tatuado saiu de dentro dela, uau! Perdi o fôlego. Era o homem mais lindo que já tinha visto na vida. Seus cabelos muito claros contratavam com a pele beijada pelo sol.

Músculos e mais músculos sobressaiam pela regata branca e os braços tatuados me deixaram sonhando por dias. Fiquei hipnotizada por ele.

Naquele dia ele a buscou na escola. Estela muito solícita e preocupada me ofereceu uma carona até a mansão, porém eu estava tão nervosa e impactada com a visão daquele deus louro, que não consegui murmurar nenhuma sílaba. Gaguejei miseravelmente. Então apenas acenei com a cabeça que não queria.

Recordo como ele me olhou confuso, certamente me achou uma retardada, com algum severo atraso mental. Foi muito estranho e intenso, mas não saia nenhum som de minha boca, parecia que meu coração estava na garganta, só de ter aqueles olhos azuis direcionados a mim.

Depois daquela ocasião, o tal homem, chamado Yago, volta e meia aparecia para buscar a irmã ou levá-la pela manhã.

Ele encostava a caminhonete no meio fio, e a escola inteira suspirava. Até mesmo as professoras mais quietas e casadas paravam tudo o que estavam fazendo no momento, para ver o monumento sair da veículo escuro. E ele percebia, numa das vezes ele veio de motocicleta. Nossa! Bad boy, misterioso foi os dois atributos que adicionei aquele pacote.

A motocicleta era linda como ele, parecia fazer dele num conjunto de sonho de tão perfeitos juntos. Muito tempo que cuido aquele homem, querendo ser notada por ele e sempre desejei uma oportunidade, apesar de saber que ele é mais velho, quando eu completar 18 anos poderei me declarar abertamente.

Agora que começamos nesse cursinho ando um pouco mais animada, Estela vai sozinha, então eu decidi voltar a frequentar a casa. No início me desanimei, Yago estava em uma viagem de motocicleta pela Europa com o moto clube que ele faz parte. Ficou quase dois anos fora. Entretanto me apeguei a família e nem senti tanto a ausência, quanto imaginava que sentiria. Os Valente me tratam como um membro, e meu aniversário nunca mais foi solitário.

Tia Marieta e vovó Maria fazem a festa para mim com meu bolo predileto, recheio de ameixas negras e leite condensado.

Mas hoje tive uma maravilhosa surpresa ao chegar lá. Consegui vê-lo de perto pela primeira vez em anos, pois não é que ele ficou ainda mais lindo.

Um espetáculo, com aqueles jeans surrados abraçando as coxas torneadas, a camiseta de algodão justa arregaçada nas mangas mostrando os bíceps tatuados era um delírio aos olhos.

Estávamos somente as mulheres na cozinha conversando sobre amenidades e aí foi quando ele entrou, apanhou uma maçã e deu um beijo na tia Marieta, mãe dele, acenou um cumprimento silencioso e saiu.

Mas esses poucos segundos foram suficientes para o meu pulso acelerar desgovernado. Meu coração quase saiu pela boca quando ele dentou aquela fruta. Parecia em câmera lenta. Senti uma inveja, queria aquela mordida na minha pele, no lugar que fosse não importava, desejei sentir aquela ferocidade. Ansiei as marcas que aquela barba propiciaria na minha pele sensível. Seu cheiro deve ser incrível e seu gosto muito mais. Calma maluca! Você é uma virgem tarada, precisa se acalmar. Mas perco o foco quando o vejo.

Aquele aceno antes de sair do cômodo, foi rápido e desinteressado, minha tentativa de uma saudação oral audível foram por terra outra vez. Fiquei nervosa, mesmo que aqueles olhos azuis escuros não se direcionaram pra mim, emudeci e minhas mãos gelaram por baixo da mesa, espero que ele não tenha percebido como eu estava.

Mesmo ansiosa preciso bolar um plano perfeito para interagir como uma adulta que eu sou. Aguardo ansiosa os efeitos da minha presença constante na casa dos Valente. Só preciso que ele me note, sei da nossa diferença de idade, porém final do ano serei maior de idade e ficarei mais tranquila para ser mais ousada ao demonstrar o que eu sinto por ele.

Madri setembro de 2015

Querido diário

Muitas vezes reclamei ao longo desses cinco meses o desprezo de Yago por mim, não entendo ainda o motivo, mas ouvi algo entre ele e o irmão como não querer me encorajar a ter esperança, mas um pouco de gentileza não faz mal a ninguém.

Não bastasse fingir não saber meu nome só pra me chamar de magricela, ver a cartela de mulheres que entram e saem da garagem onde ele instalou a oficina provisória, me corrói cada vez mais. Ando até recusando os convites pra sair a noite por puro despeito em não ver as garotas penduradas em seu pescoço como num jogo de cadeiras.

Pensei que com o tempo ele iria me notar, estou sempre que posso dando brecha pra isso, mas percebi o efeito contrário, quando mais eu me aproximo mais ele me afasta. Isso não me faz sentir feia ou desmerecida, porque na escola dizem que sou bonita, os meus colegas a maioria já me convidaram para sair. Ele é o único que parece sentir repulsa por mim e é isso que não entendo.

Triste e complicada essa minha fixação por esse maldito homem que não sai da minha cabeça. Dei o braço a torcer e acabo por desistir de entender. A minha dignidade de mulher grita pra parar com essa atitude que pode passar aos que não me conhecem a fundo uma infantilidade de menina dos coeiros.

Corajosamente hoje pelo menos tomei o primeiro passo pra mudar isso. Marquei uma consulta com um novo psicólogo e vou me tratar, não é normal, há três anos uma paixonite adolescente dessas, moldando meus atos e planos pra girar ao redor de um homem que só me dá o seu desprezo em troca.

Sei que sou carente de afeto, mas tem algo errado comigo, talvez a medicina explique e resolva.

Minha vida não pode parar por causa dele, sou uma jovem com quase dezoito anos, pronta pra cursar uma faculdade e não sou acostumada com autopiedade, nem vitimismo. Se eu não mudar isso agora vou me afundar ainda mais na minha depressão. Não é por ele que minha carência de afeto será suprida, infelizmente tenho que aceitar essa constatação. Vivo sozinha há anos, mas infelizmente não me acostumei. O que eu fiz pra merecer viver assim?

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