5. Ciúmes
No segundo andar da biblioteca, Richard se aproximou de uma estante e a empurrou com força. A estante girou como uma porta, revelando um longo corredor escuro. Richard foi na frente e apertou um interruptor. O corredor se iluminou.
— Vamos? — Richard disse às garotas.
— Já entrou aí dentro? — Perguntou Megan.
— Quem você acha que descobriu esse lugar? — Disse Richard. — Quando era criança e brincava de pique esconde, sempre me escondia aqui. Alex e os outros nunca me encontravam. — Ele riu. — Aliás, não contem para eles? Esse ainda é o meu esconderijo. Só estou mostrando para vocês porque somos amigos, agora.
— Opa! Agora a gente sabe onde te encontrar. — Brincou Megan.
— Tem tantas passagens secretas nesse castelo que seria difícil descobrir todas, mas venham. — Disse Richard.
As garotas entraram no corredor e Richard fechou a passagem.
— Quantas você conhece? — Perguntou Megan.
— Muitas. Acho que sou o que mais conhece as passagens, também sou o único que se importa, além do Howard, claro. Tem algumas passagens que levam para fora do castelo, direto para a floresta. Mas cuidado quando encontrarem alguma dessas passagens para não se perderem. Eu recomendo que sempre andem com seus celulares. — Falou Richard. — É muito fácil se perder se não souber onde está indo.
Ao fim do corredor, havia dois caminhos; um à esquerda e outro à direita. Richard seguiu o caminho esquerdo, e ao fim deste havia uma porta. Ele girou a maçaneta e empurrou a porta, entrando no quarto. As garotas o seguiram.
Seren se aproximou de um baú que tinha nos pés da cama e o abriu. No baú havia livros, sapatos, um espartilho, uma boneca de porcelana, algumas joias sem muito valor e alguns chapéus femininos.
Um quadro coberto por um pano branco chamou a atenção de Megan. Ela puxou o pano e observou a pintura da tela. Uma moça jovem, sentada de costas. Ela tinha longos cabelos ruivos e cacheados. Estava nua. Os lençois de seda cobriam seu corpo da cintura para baixo. Ela parecia acabar de despertar.
— Um despertar sensual. — Sussurrou Megan.
— Como? — Richard se aproximou dela.
— Quem é a mulher do quadro? — Perguntou Megan.
— Emanuele. Richard a pintou. — Ele disse.
— Eu nunca teria deixado alguém me pintar assim. — Falou Megan.
Annabelle veio ver a pintura de perto. Curiosa.
— Que bela! Não tem nenhum quadro que mostre o rosto dela? Não vi nenhum retrato que mostrasse o rosto dela. Em todas as pinturas, ela sempre está de costas ou com o rosto virado ou com uma máscara. É estranho. — Falou Annabelle.
— Os principais retratos dela estão em exibição nas galerias de arte do castelo. — Disse Richard.
— Adoraria visitar uma dessas galerias. — Falou Megan.
— Eu também. — Disse Annabelle. — Por que não nos leva até uma dessas galerias?
— Precisaria da permissão do Alex. Geralmente, essas galerias ficam em exibição no meio do ano quando o castelo abre suas portas para os visitantes. — Falou Richard.
— Acredito que Alexander fará uma exceção para nós. — Disse Seren.
— Talvez, quem sabe. — Disse Richard pensativo.
Seren encontrou um pequeno caderno de capa de couro marrom e o escondeu em seu casaco.
— Esse castelo é cheio de surpresas. — Disse Annabelle.
— Mais até do que possa imaginar. — Falou Richard.
— Podemos ir, agora? Esse quarto não tem uma boa vibração. — Disse Annabelle.
— Sim. — Disse Richard e guiou as garotas por corredores que foram ficando cada vez mais estreitos.
Ao fim de um deles havia uma escada que dava para um cômodo superior. Richard subiu na escada e com as duas mãos empurrou uma área no teto até uma passagem se abrir, e ele passar por ela.
— Podem vir! — Chamou Richard.
As mulheres se entreolharam e Annabelle foi a primeira a subir a escada e passar pela passagem. Megan e Seren foram atrás dela.
A passagem deu para um cômodo amplo e luxuoso, um quarto ao estilo gótico, com mobílias antigas.
Megan foi até o closet e se surpreendeu por ele ser maior que seu quarto. Havia roupas e sapatos antigos, mas ainda bem conservados, limpos e perfumados. No centro do closet tinha um espelho com moldura feita de ouro puro e com pedras preciosas incrustadas. Megan encarou seu reflexo no espelho e ajeitou seus cabelos negros.
— A quem pertence esse quarto? — Perguntou Annabelle sentando-se num sofá vermelho.
— Essa é a Torre Do Vampiro. — Disse Richard.
Annabelle levantou-se e foi até a sacada. Richard e Seren a seguiram. A vista lá de cima era muito bela, com todo o verde da floresta em contraste com o azul do céu nublado formava um cenário melancólico, mas belo.
— Então, foi daqui que Emanuele se atirou? Foi uma última visão muito linda. — Disse Annabelle e suspirou.
— Ela dormia aqui quando foi casada com Reymond Price. — Falou Richard.
— Acha que os dois foram felizes antes de tudo o que houve? — Perguntou Seren a Richard.
— Sim. Acho que sim. Mas todos que estavam à volta deles não mediram esforços em destruir essa felicidade, e é tão triste… Reymond e Emanuele… Emanuele e Nicolau… Tudo o que poderia ter sido e não foi. Quantos corações partidos e quantas lágrimas… Todos estão condenados a amores não correspondidos, às traições e… — Richard percebeu que as mulheres o encaravam, e disfarçou rápido — Me desculpem? — Ele deu as costas a elas e suspirou. — É que…
— Não. Tudo bem. — Falou Seren. — Nós entendemos. É a sua família.
— Não contem aos Campbell 's ou aos Ferland que eu as trouxe aqui. Eles podem não gostar. — Falou Richard.
— Tudo bem. — Falou Seren.
Encantada com as pedras que enfeitavam a moldura dourada do espelho, Megan as tocou. Nesse instante, ela se desequilibrou e quando percebeu que ia cair, agarrou a moldura com força. O espelho girou como uma porta, revelando outra passagem que dava para um quarto idêntico ao que ela estava agora. Só não havia portas ou janelas.
— Ei, pessoal? Olhem só o que eu encontrei? — Gritou Megan ansiosa.
— Meg? Onde você está? — Perguntou Annabelle voltando para o quarto.
— No closet. — Megan respondeu.
Os outros vieram e entraram no closet.
— O que é isso? Outra passagem secreta. — Falou Annabelle.
— Venham ver de perto? — Chamou Megan.
— Quem criou esse castelo? — Annabelle perguntou a Richard.
— Luigi III. O castelo foi planejado por ele e levou quase noventa anos até ficar pronto. — Muitos dizem que Luigi III era encantado, que pertencia ao Povo Das Fadas e que ele vivia atrás das paredes. — Falou Richard.
— Esse cara era um gênio! — Falou Seren. — Um gênio excêntrico, mas um gênio.
— E Emanuele e Reymond dormiam aqui, também? — Perguntou Annabelle.
— Esse era o cantinho secreto deles. — Respondeu Richard.
— Há câmeras nesse castelo? — Seren perguntou.
— Câmaras? — Richard pensou que ela tivesse dito a palavra errada.
— Não. Câmeras mesmo. — Falou Seren.
— Sim. É para a nossa segurança. Mas não se preocupem. Não há nenhum pervertido de plantão. Todas as câmeras são operadas por uma mulher, a senhora Gardner. As Câmeras estão espalhadas pelos corredores, galerias e nos porões. Não há câmeras nos banheiros nem nos quartos. Não se preocupem. — Falou Richard.
— Nos porões? — Repetiu Megan e engoliu em seco.
— Os Campbells colecionam raridades, muitas compradas no mercado negro. Mas não comentem? Os Campbells são ricos e mimados. Compram tudo o que querem por puro capricho. — Disse Richard.
— Por que está nos contando isso? — Perguntou Megan, desconfiada.
— São boas garotas. Não quero que se iludam. Os Campbells podem ser atraentes, mas não são, com certeza, príncipes encantados. Ao menos, não depois do pôr do sol. — Disse Richard e percebeu que deixou as garotas nervosas. — Ei, calma? Brincadeirinha. Eles não mordem.
— Será? — Falou Megan baixinho.
— Vamos agora? Ainda temos vários lugares para conhecer. — Falou Richard.
Eles continuaram o tour pelo castelo. Richard levou as garotas até o salão principal e explicou que o corredor direito acima da escadaria levava aos quartos enquanto que o esquerdo levava direto às galerias de artes em exibição e a biblioteca.
Voltando ao salão, entre a escadaria havia outros dois corredores, o direito levava à sala de estar, à sala de jantar, aos estúdios, à sala de música, à enfermaria, ao spa, ao cinema e ao salão de festas. Já o corredor esquerdo levava à cozinha, a adega, a sala de piano, ao teatro, ao porão e aos calabouços e à lavanderia.
— Não acredito que tem um cinema aqui! — Falou Annabelle.
— É antigo, mas alguns filmes como E o Vento levou, valem a pena. — Disse Richard.
— Eu quero conhecer o Spa. — Falou Megan animada.
— E eu, o cinema. — Disse Annabelle.
— Podemos ver um filme, essa noite, se quiserem. Seria legal. Faz tempo que ninguém usa o cinema mesmo. — Falou Richard.
— Sério? Que demais! — Falou Annabelle gostando da ideia.
Hum, desculpe. Essa noite não vai dar para eu acompanhá-las. Quase me esqueci que tenho um compromisso. — Disse Richard aborrecido.
Mas ainda podemos ver o filme? — Perguntou Seren.
— Sim. Podem. Pedirei a alguém para acompanhá-las. — Falou Richard.
Eles continuaram seu tour pelos calabouços escuros e fétidos.
— Aqui, ficavam os prisioneiros que foram vencidos em guerra. — Disse Richard enquanto eles passavam pelas celas. — Logo mais, vemos a sala do purgatório, onde muitos foram torturados.
As mulheres não puderam conter sua curiosidade e precisaram tocar alguns dos instrumentos de tortura. Annabelle se aproximou de uma espécie de maca que era usada para puxar os membros do torturado. Um flash invadiu sua mente, e ela viu Alexander III se divertindo enquanto torturava um infeliz. Foi tão real que Annabelle se sentiu atormentada pelos gritos do homem torturado.
— Senhorita White, está tudo bem? — Richard perguntou.
— Sim. Eu só… — Annabelle balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos ruins.
— Nas poucas vezes em que vim a esse lugar, me impressionei muito. Imaginei as pessoas sendo torturadas e… Até podia sentir a agonia que sentiram e ouvir seus gritos em minha mente. Pobres almas sofredoras. — Falou Richard. — Dizem que se alguém andar por entre as celas, já tarde da noite, pode ouvir seus gritos desesperados, implorando por misericórdia.
Lágrimas escorreram pelo rosto de Annabelle. Ela não conseguia entender, mas sentia que, de alguma forma, fazia parte da história daquele castelo. Talvez, estivesse impressionada com o sofrimento das pessoas que foram torturadas ou com os casos de Emanuele.
Richard se aproximou dela e enxugou suas lágrimas com suas próprias mãos.
— Me desculpe? — Falou Annabelle sem graça.
— Você, realmente, é especial, senhorita White. — Falou Richard.
— Especial? — Repetiu Annabelle.
Uma alma sensível diante do sofrimento alheio. — Falou Richard acariciando o rosto dela.
† † †
Às duas e vinte, como combinado, as Evil Princess estavam paradas em frente a escada, esperando por Alexander Campbell.
— Trouxeram o CD? — Megan perguntou às outras.
Seren exibiu o CD. Séria.
— E se o Alexander não gostar das nossas músicas? — Disse Megan insegura.
— Ele é um produtor e pode fazer muito pela gente. Então, se ele não gostar das nossas músicas, cantamos o que ele quiser e pronto. — Falou Seren.
— Lógico. Ele vai nos dar fama. — Disse Marina.
— Eu não quero fugir muito do nosso estilo. — Falou Annabelle.
— Nem eu. Gosto da nossa banda do jeito que ela é. — Disse Megan.
— Quanto sentimentalismo! Se não tivermos uma visão mais artística, nunca seremos nada além de uma banda de garagem. — Falou Seren.
— Continue assim, Dornelles? E tenho certeza de que irá longe. — Falou Alexander descendo a escada e indo ao encontro dela.
— Boa-tarde? — disseram as mulheres.
— Boa-tarde. — Disse Alexander. — Estão prontas?
— Sim. Estamos. — Respondeu Luana.
— Vejo que… Se arrumaram para a ocasião. — Disse Alexander reparando bem nas roupas das garotas.
— Exageramos na produção? — Falou Marina.
— Estão fabulosas, mas… Não vamos a lugar algum. — Disse Alexander.
— Como assim? Eu pensei que fossemos ao seu estúdio para que o senhor nos ouvisse cantar. — Falou Megan.
Alexander riu.
— Eu não entendo. — Disse Megan.
— Posso saber o que é tão engraçado? — Falou Luana irritada.
— Não, Luana. Não. — Disse Annabelle a pegando no braço, mas Luana se afastou de Annabelle e encarou Alexander.
— Gosto da sua atitude, senhorita. Hoje em dia, não é fácil encontrar alguém com personalidade. — Falou Alexander sorrindo e se voltou a Annabelle. — Me disseram que é você a líder do grupo. Verdade?
— Sim, senhor. — Respondeu Annabelle.
— O senhor está no céu, querida. Por favor, me chame de Alexander, apenas? — Disse ele.
— Sim. Como quiser. — Falou Annabelle.
— Ok. — Alexander se voltou às outras. — Tenho um estúdio, aqui. Não precisamos sair. Venham, sigam-me!
As garotas o seguiram até o estúdio, no próprio castelo.
— E então, o que acham? — Alexander perguntou às garotas.
— Aí, foi mal. — Disse Luana sem graça.
— Tudo bem. — Falou Alexander sorrindo.
— Será que… Qualquer dia desses, a gente podia ver uma das galerias que estão fechadas? — Perguntou Annabelle.
— Sim. Mas é claro! É só falarem com Richard. Ele tem as chaves. — Falou Alexander.
— E então, vamos começar a cantar ou não?! — Disse Seren ansiosa.
— Claro, vamos começar. — Falou Alexander.
As mulheres cantaram em grupo, depois em duplas e por último fizeram um solo cada uma para que Alexander tivesse uma ideia de como elas cantavam em conjunto e sozinhas.
— Hum, gostei muito da sua voz, Megan. É forte. — Falou Alexander. — A sua também, Annabelle.
— Obrigada. — Falou Megan.
— Que bom que gostou. — Falou Annabelle.
— Aliás, todas têm vozes perfeitas. — Falou Alexander. — Tenho certeza de que essa banda vai fazer muito sucesso.
— Isso quer dizer que… — Falou Megan emocionada.
— Sim. — Disse Alexander. — Vou adorar trabalhar com vocês, garotas. E podem compor mais duas faixas para o álbum.
— Oh, minha nossa! Não posso acreditar! — Falou Megan contente.
— Mal posso esperar para começarmos a gravar. — Disse Marina.
— Eu também. — Falou Seren.
— Temos de compor as outras canções. — Falou Annabelle animada.
— Sim. Com certeza. — Disse Luana sorrindo.
Alexander levou as garotas de volta ao Salão principal e, depois, saiu.
— Estou cansada. Vou para meu quarto! — Disse Marina.
— Tudo bem. Nos vemos mais tarde então. — Falou Annabelle.
— Sim. — Disse Marina e foi para seu quarto.
— E aí, o que fazemos agora? — Megan perguntou às outras.
— Não sei. — Falou Annabelle.
— Por que não damos uma volta por aí? — Sugeriu Seren.
— Não. Vamos nos divertir um pouco na sala de jogos? — Falou Luana.
— É uma boa ideia. — Disse Megan.
— Então, vamos? — Falou Luana sorrindo.
— Vamos! — Disse Megan.
— E vocês, vem ou não? — Perguntou Luana a Annabelle e Seren.
As duas se encararam, antes de responderem.
— Vou tomar um banho e, talvez, me junte a vocês. — Disse Seren.
— Eu vou dormir. Estou exausta. — Falou Annabelle.
— Não! — Disse Luana segurando Annabelle pelo braço.
— O que é isso, Luana? Me solta! — Falou Annabelle.
— Nos vemos mais tarde, então. — Disse Seren, antes de ir.
— O que foi isso, Luana? — Perguntou Annabelle, se afastando de Luana.
— Isso o quê? — Disse Luana se fazendo de boba.
— Você sabe bem do que estou falando. Não finja que não! — Falou Annabelle.
— Será que você é tão cega que não percebe que Seren tem uma queda por você e, por isso, fica fazendo cena para te conquistar? Mas não vou deixar! E, se ela continuar assim, se metendo no meu caminho, vou acabar com ela. — Falou Luana brava.
— Não aja como uma idiota. Seren e eu somos apenas amigas. — Disse Annabelle.
— Como nós duas éramos?! — Falou Luana.
— É diferente e você sabe disso. — Disse Annabelle.
— Não. Eu não sei. — Falou Luana.
— Deveria saber! — Falou Annabelle e caminhou em direção à escada.
— Está satisfeita, agora?! — Megan disse a Luana.
— Cala boca! — Falou Luana e foi correndo atrás de Annabelle.
