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2

Balanço a cabeça, descartando os pensamentos que surgiram sem serem convidados na minha mente e começo a pegar os documentos e folhetos espalhados da mesa e devolvê-los ao carrinho organizador para serem arquivados. Empilho as canecas e pratos vazios no carrinho de serviço, destinado a servir comida e bebidas, ao lado da porta. Pelo menos posso me perder na limpeza dessa sala e trazer um pouco de calma de volta ao caos na minha cabeça. Eu me dedico à tarefa, mergulhando meu cérebro na limpeza profunda, limpando a bagunça feita pelos seus ocupantes anteriores; tomara que um pouco dessa limpeza profunda limpe meus pensamentos e me ajude a voltar a ser eu mesma.

* * *

“Emma? Sr. Carrero quer vê-la.” Uma vozinha infantil surge atrás de mim fazendo com que eu deixe cair meu espanador. Meu coração para de repente e meu cabelo está grudado no rosto por causa do empenho da minha limpeza entusiasmada.

O quê? Jake?

Minha cabeça cambaleia um momento.

Não. Giovanni!

Eu me sinto uma idiota. Coloco um sorriso firme no rosto antes de me virar suavemente para reconhecer a garota. É uma das pequenas recepcionistas, só cabelos loiros e seios grandes, como a maior parte das funcionárias do Sênior. Ele é asquerosamente singular sobre as mulheres que emprega, encontrando aquelas cuja aparência é menos parecida com a mulher com quem está casado e mais como as “coelhinhas” do mundo de Hugh Heffner.

“Ok, onde ele está?” Minha voz está serena, apesar da minha irritação e sinto uma onda familiar de controle mover-se inesperadamente através de mim.

“No escritório dele. É melhor você ir imediatamente, ele está de mau humor.” O tom em sua voz trai seu medo do Carrero Sênior, mas eu o ignoro. Ele não me assusta nem um pouco. A atitude dele em relação aos funcionários dá nos meus nervos mesmo nas circunstâncias mais favoráveis, estou acostumada àquela cara feia da família Carrero e seus modos maliciosos. Jake não tinha sido contrário a usar essa cara feia quando o mau humor atacava, cenários impossíveis e confusão geral. Acho que, de alguma maneira, ao vir para cá, perdi todo o mal-estar ao ficar perto de Giovanni Carrero. Meu coração sendo arrancado por um homem que compartilha seu nome me tornou imune aos efeitos que qualquer Carrero poderia ter tentado colocar em mim.

Afasto as lembranças dele, não posso pensar nele agora.

Nunca!

Se o fizer, acabarei me torturando sobre o quanto sinto falta dele e o quanto penso sobre a noite em que fizemos sexo … repetidamente. Vou me torturar até a insanidade e não posso me dar ao luxo de fazer isso. Mentalmente, eu estava apenas começando a ver vislumbres do meu antigo eu e não queria assustá-la de volta à submissão.

Sigo a garota em silêncio da sala e vou em direção ao longo corredor que leva ao domínio do Rei Carrero com meu queixo no ar mais uma vez, exibindo orgulho e desafio. Não seria intimidada por esse homem. Não importa o quanto ele acreditasse que eu estava fazendo mal meu trabalho.

Sênior se irrita visivelmente quando entro em seu escritório, para variar ele está sozinho e sentado em seu trono de couro atrás da mesa enorme de nogueira polida. O sol está brilhando da parede de vidro atrás dele e do cenário espetacular de Nova York. Ele parece um bilionário formidável, pequeno e bronzeado, com cabelos castanhos realçados e olhos escuros e malignos. Ele observa cada movimento meu enquanto me aproximo da mesa, sabendo que ele nunca me pediria para sentar, então nem tento.

“Você pediu que eu viesse vê-lo?” Eu digo sem energia, meu corpo rígido sob seu escrutínio. Não há nenhum amor entre nós, sou apenas outra irritação em sua vida e outra funcionária sem rosto.

“Sim, Senhorita Anderson, eu pedi … Meu filho a enviou para mim como uma AP, no entanto não preciso de mais assistência. Sua performance me deixou com um gosto amargo na boca e acho que precisamos ter uma pequena conversa.” Ele nem tem a graça de olhar para mim enquanto está dizendo isso, os olhos no laptop enquanto digita.

Ele não é alguém que mede suas palavras. Eu o encaro inexpressivamente, sem me surpreender. Esperava por esse momento há algum tempo, impressionada que tivesse levado três semanas para que tivéssemos essa conversa.

“Meu filho obviamente viu algo em você, então ainda não estou pronto para dispensá-la …Na verdade, ele insistiu que você permanecesse nessa empresa indefinidamente.” Sua confissão inesperada causa uma dor aguda no meu peito e traz uma ligeira expressão confusa ao meu rosto. Quando ele olha para cima, seu olhar desinteressado varre meu rosto com uma expressão muito inexpressiva, sem revelar nada.

Jake pediu ao pai para me manter empregada? Não importa o quê? Apesar de me mandar embora … Mas por quê?

Emoção puxa minha garganta, mas eu a reprimo com força. Ainda não estou pronta para dissecar os motivos de Jake, se algum dia.

Sênior nunca diz nada de ânimo leve, sempre direto ao ponto, sem desperdiçar o fôlego com conversa fiada. Sei que ele não está enfeitando. Se ele acreditasse que eu era um ralo nas finanças da empresa, excedendo os requisitos, então eu já teria ido embora.

“Então, o que deve ser feito comigo?” Pergunto de maneira seca, me sentindo menos confiante com a mudança no rumo dessa conversa. Agarrando as mãos, eu as coloco na cintura para recuperar minha postura, tentando parecer profissional, apesar das batidas no meu peito.

Nesse momento, eu não me importaria se ele me enviasse para Tombuctu se isso significasse que eu não seria demitida.

“Você vai voltar para a Casa Executiva, trigésimo segundo andar … Relações Públicas, organizando eventos e coisas do tipo …” ele acena com a mão, desinteressado “… Jacob me disse que você é excelente em planejar e conciliar uma carga pesada de trabalho, então espero que você finalmente prove isso para mim.” Seu olhar duro repousa sobre mim de maneira fria, me avaliando, mas eu me preparo contra seu olhar.

A ideia de voltar para aquele prédio avança através de mim como fogo, acendendo meu medo, de maneira frenética, mas permaneço impassível sob seu escrutínio.

“Não sei o que aconteceu com meu filho, Senhorita Anderson, mas estou satisfeito com sua discrição sobre essa transferência. Não houve nenhuma fofoca real, mas quero ressaltar isso… Você ainda está empregada sob a coerção do meu filho. Ele foi muito claro sobre isso e como você sabe, meu relacionamento com Jacob está um pouco tenso, então isso …” Sua mão aponta para mim e depois para si mesmo, “… é o compromisso que fiz para mantê-lo feliz. Se não tivesse feito tais promessas para Jacob, eu a teria demitido em menos de uma semana.” Seus olhos me liberam como um fim para nossa conversa e ele volta a digitar em seu laptop.

Abaixo meus cílios e engulo em seco, de maneira involuntária. Imagino que deveria agradecer por isso, apesar dos meus órgãos internos estarem tentando encolher e se esconder. Eu ainda tenho um emprego.

Que diabos aconteceu comigo?

Meu emprego era meu universo. A única coisa em que eu me sobressaia e avançava. Minha vida, consumida com trabalho, me levou onde eu estava por causa disso. No entanto, aqui estou, salva do desemprego porque Jake se sentiu culpado o suficiente para garantir que eu mantivesse meu emprego.

O pensamento é grave e a revelação de Giovanni é uma surpresa. Jake e ele sempre foram tão formais, distantes e frios, que isso me faz questionar sua disposição de agradar o filho.

Pode haver mais no relacionamento deles do que Jake ou eu percebemos. Talvez Sênior ame o filho mais do que deixe transparecer.

“Jake não precisava mais de mim … Isso é tudo que já para dizer.” Eu comento com delicadeza, evitando os olhos que mais uma vez vieram descansar em meu rosto. De certa maneira, era verdade. Ele não precisava de mim … não da maneira como eu precisava dele, portanto, não havia nenhum motivo para me manter por mais tempo.

“Certo …” Sua voz está encharcada de sarcasmo. Olho para cima e por um instante pego a insinuação do desafio em seu olhar, talvez até mesmo um leve degelo de sua boca normalmente cruel e tensa. Ele é quase tão ilegível quanto o filho. “Arrume tudo que você trouxe para cá, você vai para lá hoje. Wilma Munro está te esperando.” Ele volta seu foco para o laptop; um movimento nítido para sinalizar minha dispensa. Ele emitiu suas exigências e agora quer que eu me retire da sua presença.

“Sim, senhor.” Concordo com a cabeça de maneira breve e dou meia volta, sem precisar de mais orientação. Saio, de maneira confiante, apesar das minhas entranhas virando mingau.

Não sei como me sentir agora. Como devo me sentir sobre isso?

Vou voltar! Voltar para o prédio de Jake, voltar a ficar apenas alguns andares abaixo dele e não sei como me sinto sobre isso ou como processá-lo.

Visões acidentais … encontros acidentais. Não sei se posso lidar com isso. Não acho que meu coração consiga lidar com isso.

Ondas de náusea retornam de maneira intensa, minhas mãos tremem com a ideia de vê-lo novamente. Sinto um pavor doentio. Esta tem que ser a pior decisão já tomada na história da humanidade.

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