capítulo 5| coincidências
__ descobriu? __ pergunto e ele bufa.
__ não! Todos os seguranças disseram que não viram ninguém diferente aqui, e chequei as câmeras de segurança, limpo também, só esse maldito salgueiro beberrão rangendo em sua janela, esse som me causa ânsia.
__ um valentão com medo do ranger de galhos em uma janela? Pelo amor de Dio. __ desdenho e ele sorri.
__ temos problemas, quer que eu leve isso até o papai? __ pergunta e sinto-me tensa, já imaginando a minha vida com meu pai estando ciente do que ocorreu.
Porra! Ficaria presa aqui pelo resto dos meus dias, ou até meu pai ter certeza que estou segura, o que dá no mesmo.
__ não! __ me apresso em responder.
__ por quê?
__ ele vai me deixar presa aqui e de presa ao mafioso, só basta a mamãe. __ me defendo e ele revira os olhos.
__ até que não seria ruim, teríamos você só para nós. __ comenta e esmurro o seu ombro.
__ isso é doentio, e pare de falar essas maluquices.
__ desculpa, sei que não é hora para brincadeiras... mas estou preocupado, se isso for uma ameaça de algum inimigo do papai? __ pergunta e nego com a cabeça.
__ por favor, Lorenzo, não fala nada para ele... não ainda. __ peço fazendo minha melhor expressão de tristeza e ele sorri.
__ você é muito transparente, treine, porque essa expressão sofrida não convence ninguém. __ diz e reviro os olhos.
__ não fala, ou vou contar para o tio Miguel que você pensa na Isis mais do que quer.
__ de novo essa merda? Agora eu realmente quero contar para o papai.
__ seria sua palavra contra a minha, e sabemos que esta carinha aqui engana fácil o tio Miguel. __ barganho e ele curva os lábios num sorriso.
__ Ok, tudo bem, mas você tem que prometer que vai me contar se alguma coisa do tipo acontecer novamente, porque nesse instante teremos que comunicar ao pai as coisas que estão acontecendo. __ explica e fixo os meus olhos nos seus e minto.
__ tudo bem... eu prometo.
__ ótimo, agora preciso ir, tenho que treinar com o Vitt.
__ ele decidiu treinar?__ questiono curiosa.
__ não, papai pediu que ele começasse a autodefesa, você sabe, magrelo daquele jeito.
__ ei, o Vitt não é magrelo... ele é sarado.__ defendo meu irmão caçula e o que está ao meu lado pisca para mim.
__ sarado sou eu... o Vitt está em fase de construção de músculos... e para isso, vou dar uma surra nele.
__ eu desejo que ele quebre seu lindo rosto.
__ e você acha que uma cicatriz me deixaria feio? __ pergunta e de repente o vi, com a face cortada e não! O idiota não ficaria feio.
__ claro que sim, tipo... quem é que fica bonito de cicatriz?
O Zade Meadows.__ pensei.
__ eu, se tivesse uma, é claro. __ se gaba e torno a revirar os olhos.
__ sua alto estima me comove.
__ pegue um pouco, eu me amo pra caralho Bels, deveria fazer o mesmo.
__ é melhor você ir, o Vitt já está a sua espera.__ falo e aponto para a entrada da casa do jardim, meu irmão caçula vem em nossa direção acompanhado pela Francesca que está quase da mesma altura que ele.
Ambos conversam e até que os olhos se fixam em mim e na cópia do meu pai.
__ ah, olá Bels, olá Lorenzo. __ a princesa cumprimenta e sorrio.
__ olá princesa, pode me emprestar o seu príncipe? Está na hora das aulas de autodefesa. __ Lorenzo alfineta e nenhum dos dois teve qualquer reação a não ser sorrir e corar, ela mais que ele.
__ c-c-claro, amanhã nos falamos.__ diz deixando um beijo no rosto do meu irmão caçula.
__ bom, se nos dão licença, estamos de saída. __ Vitt fala e abro um sorriso, ele retribui o gesto antes de ir para dentro de casa com o irmão mais velho. Frannie se senta ao meu lado e me encara com uma expressão preocupada no rosto jovem.
__ já descobriram quem mandou aquilo para você? __ pergunta e nego com a cabeça.
__ como sabe disso?
__ estou prestes a fazer quinze anos, sei de muita coisa, não me trate como criança... mas a verdade é que Vitt me contou que você recebeu um presente inusitado.__ explica e suspiro, na idade dela eu também quis ser ouvida, mas a única pessoa que fazia isso se afastou.
__ posso te contar um segredo?
Ela assente.
__ eu acho que sei quem está por trás disso.
__ não vai me dizer que é...
Ela sabe, todo mundo, na verdade, sabe que tive sentimentos pelo filho de Don Lucius.
__ sim... ele, quando éramos pequenos, tivemos uma conversa sobre o que gostávamos, e contou sobre algumas coisas e uma delas estavam no presente junto ao lírio.
__ você gosta de lírios?
__ sim! Especialmente os brancos, mas não tenho certeza se é ele o dono do presente horrendo, é só uma suspeita, não temos mais contato e sei que não me faria mal, é meu amigo. __ o defendo e a jovem me encara pensativa.
__ Bels, as coisas mudaram... e se. __ fez uma pausa para respirar fundo e assim prosseguir. __ ele não for mais o garoto que você conheceu?
Isso me fez pensar, mas algo dentro de mim se recusa a acreditar que aquele garoto mudou tanto, porra! Eu não mudei nada, ainda sou aquela mesma Bella, cheia de anseios e receios, que também acredita em finais felizes. Mas diante do olhar preocupado da minha pequena confidente, eu apenas dei de ombros, não sabendo o que responder.
__ é, talvez você tenha razão.
__ desculpa, não queria soar grosseira. __ fala e sorrio.
__ não se preocupe, você foi tudo, menos grossa, é uma principessa como o Lorenzo chama.
__ acha que ele e a Maria estão...
Ela sabe realmente de muitas coisas.
__ não, pelo menos não ainda, ele é um pouco bobo, mesmo sendo meu irmão, a Maria não daria abertura para ele, não com esse gênio mandão, porque aquela garota não foi criada para viver sob o domínio de um homem... nem o tio Miguel consegue essa façanha.
__ ela é igual à tia Sara, tem personalidade, e não sei... eles dois tem andado estranhos ultimamente. __ comenta e arqueio uma sobrancelha, ficando curiosa.
__ estranhos como?
__ ah! Não sei explicar, outro dia ouvi os dois discutindo sobre algo, mas assim que cheguei os peguei em uma cena muito comprometedora, eles enrolaram até que eu fosse embora.
__ que cena?
__ a mão dele, estava no pescoço dela, e os lábios bem perto do ouvido, e ela respirava com dificuldade, tenho certeza de que estavam treinando antes disso, devido às roupas que usavam.
__ ah! __ foi tudo que consegui dizer.
__ bem, se eles têm ou não algo, nós não podemos nos meter, afinal se quisessem que a gente soubesse já teriam contado. __ explica.
__ você tem mesmo a idade que tem?__ pergunto e ela sorri.
__ sim, e agora vou indo, mamãe está me esperando para irmos às compras, não quer nos fazer companhia? __ pergunta e nego com a cabeça.
__ preciso dar uma olhada no meu closet primeiro e ver o que vou levar para a Flórida.
__ tudo bem, até amanhã. __ diz, beijando o meu rosto e se direciona para a entrada. Sorrio imaginando o que os dois inventaram para a pequena Whistledow. Permaneço sentada no banco embaixo da árvore que assombra o meu quarto. Um arrepio sobe pela minha espinha e uma sensação de estar sendo observada me domina por dentro.
Olho para os seguranças, para frente e para trás, meus olhos vasculham a paisagem ao meu redor, mas não há nada além de mim e dos soldados que tão pouco notaram minha inquietação.
Devo estar ficando louca, é isso.
